O que a prática é
1- A prática Budista existe para você compreender e aceitar a vida e a morte, o inspirar e o expirar, o surgir e o cessar de tudo o que existe.
2- A prática Budista visa à Paz - a cessação da confusão, o sentimento livre das oscilações da dualidade Felicidade-Infelicidade.
"Certa vez perguntaram a Ajahn Chah o que era Paz. Ele perguntou e respondeu: 'O que é a Confusão? Bem, Paz é o fim da Confusão.'"
3- A prática Budista busca funcionar como um meio de conhecer tanto stress como tranquilidade e conciliar-se com ambos.
4- A prática Budista busca torna-lo paciente e sensato, capaz de discernir quando deve ou não agir, busca ensiná-lo a agir não por pressão ou com o intuito de parecer um herói, mas de fazer o que deve ser feito - inclusive quando isso implicar que não fazer nada será melhor, pois muitos têm dificuldade para admitirem que não devem interferir em certos assuntos da vida. Busca estabelecer uma Paz Interior capaz de enxergar com clareza como agir no caos exterior.
5- A prática Budista é um conjunto de Doutrinas e Rituais, portanto é Filosofia, é Religião e é mais do que isso - é a tradução de como ver o funcionamento da mente humana por si mesmo.
6- A prática Budista, apesar de poder ser uma via a entidades Divinas, tem como intuito essencial somente prover acesso à Equanimidade (não indiferença), o solo fértil da Sabedoria, capaz de discernir a realidade dentre o véu da ignorância, raiva e apego.
7- A prática Budista exige investigação constante dos fenômenos, memorização do que valer a pena lembrar e percepção de que tudo é interdependente, interligado - nada é autossuficiente ou onipotente.
8- A prática Budista tem como foco a falta de foco - tem como objetivo abrir os olhos para a impermanência do que se apresentar no instante, fazer o praticante enxergar que nada é fixo.
9- A prática Budista requer investigação e que, através de indícios, o praticante possa perceber cada vez mais a Paz Suprema no aqui e agora.
Quando perguntado por um Monge como o Nirvana poderia ser visível no aqui e agora, o Buda diz que quando ele percebe como está sua mente - o Dharma está visível. Quando ele se desapega do Dharma e compreende que o abandono de estados maléficos traz Paz, que o abandono do apego ao bom traz Contentamento, o Nirvana é visível no aqui e agora "com efeito imediato, que convida ao exame, que conduz para adiante, para ser experimentado pelos sábios por eles mesmos".
10- A prática Budista é a forma de perceber a transformação constante do mundo - mostrando que nada dura para sempre. Ao mesmo tempo, a prática Budista reconhece leis Morais - reconhece que algo rege as relações éticas e que todos arcaremos com nossas ações, seja nesta vida ou em uma próxima. Não podemos escapar de nossas responsabilidades.
11- A prática Budista busca conhecer a companhia e o isolamento externos e internos - busca conhecer todos os aspectos do mundo, a interligação e a solidão, e transcende-los. Além disso, busca manter o isolamento interior correto, busca manter a mente imune aos acontecimentos externos - assim, o praticante terá mais capacidade de agir no mundo sem ser influenciado por ele, sem se apegar às companhias ou ser aversivo a elas.
12- A prática Budista requer conhecimento e transcendência de ambos o material e o espiritual. Requer o Desapego de ambos por serem igualmente Anicca, impermanentes.
13- A prática é, em sua essência, o abandono dos venenos na Mente. Ela exige treinamento da própria Mente. Havendo o abandono da Cobiça e Luxúria, o abandono de posses e a adoção de uma vida mais simples podem surgir espontaneamente.
14- A prática Budista é simples. As ferramentas necessárias para a investigação estão dentro de cada um. Não são necessários estátuas, amuletos e templos.
15- A prática Budista objetiva enxergar tudo o que surgir na mente e perceber como tudo o que surge, cessa. Busca entender, assim, que tudo é limitado - inclusive poderes supra-humanos.
16- A prática Budista consiste em experimentar seguir regras virtuosas, sentir, compreender e só então segui-las por compreensão de seus benefícios, não por fé fundamentalista, mas fundamentada.
17- A prática Budista o torna como uma Flor de Lótus - assim como ela está sob a água e a lama, mas não é molhada nem sujada, a prática busca transformar a Mente como algo que vê a alegria e a melancolia mas não é afetada por ambas.
18- A prática Budista busca trazê-lo ao agora. Busca ensiná-lo a ser contente com o que se apresentar no instante e não a desejar estar em outro lugar: isso é sofrer.
19 A prática Budista busca fazê-lo largar tudo o que acha que possui, fazê-lo 'desidentificar' com tudo o que acha que é, limpar toda a névoa que obscurece a realidade mental - busca purifica-lo de todas as suas opiniões e preconceitos para que possa estar aberto a enxergar a realidade de que tudo é apenas o conjunto de fenômenos que começam e terminam.
"Sua mente é como essa xícara de chá: ela está transbordando de opiniões e não está receptiva ao ensinamento do Dharma. Se quer entender o Zen, esvazie a xícara." - Ditado Zen-Budista
20- A prática Budista tem como objetivo, enfim, o Incondicionado - aquilo que está acima das condições, aquilo que não pode ser descrito por palavras e que não depende de condições, por consistir na cessação dela. O objetivo é aquilo que só pode ser apontado pela Linguagem Mundana, mas jamais compreendido sem a prática instantânea e constante.
(Buda): “Entre todas as qualidades que possam haver, condicionadas ou não condicionadas, a qualidade do desapego – a subjugação do encantamento, a eliminação da sede, o desenraizamento do apego, o rompimento do ciclo, a destruição do desejo, desapego, cessação, nirvana – é considerada suprema. Aqueles que têm fé¹ na qualidade do desapego têm fé naquilo que é supremo; e para aqueles que têm fé no que é supremo, supremo será o resultado." (Aggappasada Sutta)
¹ Importante ressaltar que a fé tratada não é a Fé cega, mas é a fé que vai se desenvolvendo quando se percebe, no decorrer da prática, que quanto mais se desapega, mais pacífica fica a mente - então os indícios fazem você acreditar cada vez mais que o Desapego é supremo. Mas essa fé não é concretizada até a realização do objetivo final. É uma fé que acompanha a prática e cresce junto com ela. Tal fé só será definitiva quando a prática tiver sido definitivamente completada. Para entender melhor o conceito de fé budista, leia: O equilíbrio entre a fé e a investigação no Budismo.