Uma história de Ajahn Brahmavamso: "O velho monge que não mente"
Essa é uma história contada por Ajahn Brahm durante um seminário público em Kuala Lumpur em 04/02/2012 que foi traduzida, do Inglês, pela Administração do Fórum Sangha Online
Era uma vez um velho monge que viajava por todo o lugar. Poucos dias antes do retiro das chuvas, ele parou em uma casa. Lá vivia uma família pobre constituída de marido, esposa, as crianças e o cachorro.
O marido perguntou ao monge se ele tinha algum lugar para ficar durante o retiro das chuvas. O monge disse que não. Devido a isso, a família ofereceu-se para construir a ele uma cabana e lhe dar comida todos os dias. Em agradecimento, o monge lhes ensinaria o Budismo a eles e lhes daria conselhos acerca da vida do dia a dia.
O monge concordou e, assim, lá passou o retiro das chuvas. A família e o cachorro estavam cheios de alegria, mas quando o tempo do monge partir chegou, a família pediu a ele que não partisse. Mesmo o cachorro choramingou quando estava na hora do monge ir embora.
O monge recusou a oferta e disse à família que na manhã seguinte o marido deveria ficar de pé com um arco e uma flecha na porta, encarando a direção na qual o Sol nasce. Quando o Sol raiasse, ele deveria soltar a flecha. Onde a flecha caísse o marido encontraria grandes tesouros. O marido deveria seguir as instruções corretamente. Então, o monge partiu.
Na manhã seguinte, o marido fez o que foi dito. Ele atirou a flecha e ela voou até as terras de um homem rico. Ele, sua esposa, seus filhos e o cão foram para aquele lugar. O marido pediu à esposa que cavasse a terra e assim ela fez. Um enorme buraco foi feito, mas lá não havia tesouro algum. Logo veio o proprietário das terras – o homem rico. Ao ver o buraco no solo, ele imediatamente ordenou à esposa que pagasse a ele um grande valor que compensasse o buraco feito em sua terra. A esposa exclamou: “Mas eu fui ordenada pelo meu marido!”. O marido disse: “Não, não! Eu segui as instruções do velho monge!”. Sendo ele mesmo um budista, o proprietário da terra sentiu que o velho monge não diria uma mentira. “Não, você deve ter feito alguma coisa errada”, alertou o homem rico.
Assim, na manhã seguinte, ele ficou de pé onde o velho marido esteve e atirou a flecha. Dessa vez, a flecha pousou nas terras do general.
Eles foram até lá procurar a flecha. Dessa vez, o homem rico quem ordenou ao marido que cavasse a terra. Novamente, um enorme buraco foi feito, mas lá não havia tesouro algum.
O general, percebendo que um grande buraco fora feito em sua terra, ordenou que o homem rico fosse colocado na prisão. O homem rico protestou e disse que ele agira sob as instruções do velho monge.
O general, sendo ele mesmo um budista, disse a eles: “Essa não é a maneira de atirar a flecha. Eu sou o General. Eu mostrarei a maneira correta.”.
Assim, na manhã seguinte, o General ficou de pé no lugar onde o homem rico e o marido estiveram uma vez e atirou a flecha. Ela voou rapidamente, percorrendo uma grande distância, e, dessa vez, aterrou nas terras do Rei.
O homem rico foi ordenado que cavasse a terra. Outra vez, um enorme buraco fora criado. O Rei, tendo notado isso, ficou furioso e enviou todos eles para a cadeia. O General protestou, dizendo que ele fizera aquilo baseado nas instruções do velho monge.
O Rei, tendo ouvido isso e sendo ele mesmo um budista, pediu que o velho monge fosse trazido até ele. Instantaneamente, os soldados foram enviados para procurarem pelo velho monge. Quando ele chegou, o Rei o questionou e o monástico contou a ele as instruções que foram dadas ao marido para que procurasse o tesouro. Depois, o velho monge pediu ao Rei que procurasse o tesouro e que o dividisse em quatro partes: uma para o Rei, uma para o General, uma para o homem rico e a outra para a pobre família. O Rei concordou.
Logo, na manhã seguinte, o Rei ficou de pé na porta com o velho monge ao seu lado. Ele perguntou: “Essa é a posição correta?”, o monge respondeu que sim.
Ele encarou a direção em que o Sol nascia – “Está correto?”, o monge respondeu afirmativamente.
Quando o Sol começou a raiar, o Rei ergueu o arco e perguntou: “Está correto?” – o monge disse confirmou positivamente.
Quando ele atirou a flecha, o rei perguntou: “Está correto?” – o monge respondeu: “NÃO!”. Ele disse: “A instrução era ‘SOLTAR a flecha’, não ‘ATIRAR a flecha’.”
O rei seguiu a instrução e permitiu que a flecha caísse e, de fato, havia um enorme tesouro no local onde a flecha caíra.
Essa história mostra a nós que a plenitude de alguma coisa somente pode ser encontrada no presente, não no futuro, sequer no passado.
Ninguém pode dizer “Deixe-me trabalhar duro primeiro e depois eu aproveitarei”. O “depois” nunca virá, porque haveria outras coisas para serem feitas depois, depois e depois.
Se alguém precisa trabalhar, então trabalhe. Se alguém quer caminhar, então vá. Se alguém precisa dormir, então durma.
Viva no presente – não no passado, nem no futuro.