Olá Mente Purificada, bem-vindo ao Fórum Sangha Online
Minha trajetória até o Budismo foi semelhante a sua - um texto/livro foi levando ao outro até que cheguei ao Budismo e, especialmente, ao Cânone disponibilizado no Acessoaoinsight.
Me parece que você também se você muito inspirado pelos ensinamentos do Buddha, o que me deixa muito feliz. De fato os ensinamentos do Buddha possuem um valor inestimável.
Sobre viver em uma caverna, pode fazer parte da prática, apesar de ser algo muito avançado. Alguns monges, especialmente da Tradição das Florestas Theravada e do Budismo Tibetano, se dedicam a períodos prolongados de isolamento em territórios distantes a fim de se dedicarem à meditação, mas costumam voltar à sociedade posteriormente. Ajahn Brahmavamso, por exemplo, passou seis meses isolado em uma floresta, sem ver nenhum ser humano - ele apenas pegava uma tigela deixada pelos leigos perto de uma caverna de granito onde ele meditava. Leigos e monges do monastério dele lembram que quando ele voltou desse período, ficou 5 dias impossibilitado de falar, porque sua felicidade e êxtase era tamanha que a mente não conseguia sair muito de si mesma, senão se deliciar com a felicidade do desapego do mundo sensual. Quando ele conseguiu voltar a falar, sua primeira palestra foi "Seis meses de bem-aventurança". Ele é um monge que admiro muito e que continua vivo.
Mas, naturalmente, ele só fez isso depois de mais de 20 anos de vida monástica. É necessário muito treinamento e muita habilidade com a solidão, meditação, contenção e contentamento interior para ser capaz de ficar em lugares remotos e isolados meditando. É algo que faz parte da prática também.
Naturalmente, devemos encontrar paz em qualquer lugar que estejamos, especialmente na sociedade, onde possamos trazer benefícios. Porém, faz parte da natureza da mente que um lugar remoto e calmo é mais frutífero para a formação de uma base mais sólida para a prática meditativa. Como disse Ajahn Chah em uma palestra, não devemos nos apegar nem à solidão nem a sociabilização, mas é natural que a solidão é mais frutífera à prática meditativa e, portanto, ela deve ser buscada no começo da prática. Assim que o praticante consolida e treina melhor sua mente, ele é capaz de manter sua paz em ambas as situações em vez de depender sempre da quantidade de estímulos e sons a que está envolvido.
O Budismo envolve muito isso de saber usar as formações e os fenômenos condicionados para ir além deles - usar o mundo para transcender o mundo. É frutífero buscar períodos de isolamento e de distanciamento de prazeres sensuais para ficar mais fácil para acalmar a mente e silenciar os desejos e impulsos, a fim de alcançarmos uma capacidade maior de permanecermos calmos, observando sem apegar e, assim, perceber como tudo o que existe simplesmente surge e cessa. Mas não devemos nos apegar nem ao prazer sensual, nem ao meditativo. De fato, um leigo se torna monge para ir além do apego tanto a vida laica quanto a vida monástica - porém, a vida monástica termina por ser mais frutífera do que a laica para a prática budista.
Então, é importante buscar certos ambientes como um local isolado de vez em quando, ainda mais para consolidar a base da prática meditativa. Mas, de fato, precisamos aprender, gradualmente, a encontrar a paz em qualquer lugar que estejamos, porque em qualquer lugar que estejamos, há os fenômenos condicionados, não é? rs
Paz a sua mente