Ganesha e o Budismopor André Otávio Assis Muniz, Dharmananda Mahacarya.Muitas pessoas acreditam que Ganesha, o deus com cabeça de elefante, é uma figura venerada apenas no hinduísmo, completamente estranha ao Budismo. Ou, o que é pior, misturam tudo sem entender direito as relações entre essa deidade e o Budismo.
Vamos tentar esclarecer.
Ganesha é reverenciado no Budismo também e aparece em uma das duas principais mandalas do Budismo Esotérico, a Mahakarunikayagarbhakosadhatu-Mandala, ou “Taizôkai Mandara” (Mandala do Mundo do Ventre) como é conhecida no Budismo Esotérico Japonês .
No Budismo tântrico sino-japonês ele é chamado tanto de Daishô-Kangi-Ten, quanto de Shôten-Sama ou ainda Tenson-Sama.
É uma divindade das mais secretas e das mais difíceis de se encontrar nos templos de forma geral.
Os poucos textos tântricos que tratam dessa divindade são vistos até com receio, uma vez que alguns monges acreditam que os poderes dessa divindade são temíveis.
Um nome que também é usado é “Binayaka”, simples fonetização do sânscrito “Vinayaka”.
Existe uma representação dessa divindade em que se vêem dois aspectos da mesma, um masculino e um feminino abraçados.
O aspecto masculino é visto como uma metamorfose de Mahavairocana e o casal intimamente abraçado é símbolo da união íntima do tantrika (praticante do tantra) com a Verdade Suprema de Buda. Os dois corpos representam a união entre o Céu e a Terra.
Esta divindade secreta foi introduzida no Japão pela seita Shingon e foi adotada na seqüência por outras seitas como a Tendai entre outras.
Sua imagem não é exposta à vista dos fiéis nunca. Em um dos ritos envolvendo essa divindade, sua estátua é imersa em óleo.
Nas seitas esotéricas japonesas, a natureza dupla de Kangi-Ten simboliza a união íntima das Duas Grandes Mandalas.
Às vezes, pode se ver no centro de alguns Shakujô (Khakkhara), ou bastões de peregrino, a cabeça de Kangi-Ten substituindo a pequena estupa que normalmente é representada nesse local. Isso indica, de forma geral, que o peregrino pertence a uma seita tântrica.
Vamos ver agora algo sobre as origens de Ganesha:
Ganapati ou Ganesha, também conhecido como Vinayaka, é, talvez, a mais popular das divindades no hinduísmo, sendo reverenciado por todas as seitas Hindus conhecidas.
Ganesha é visto como aquele que remove os obstáculos (Vighneshvara ou Vighnaraja).
Ganesha aparece nos mantras do Rig-Veda “gananam ganapatim havamahe...” (2.23.1) , “visnu sida ganapate...”(10.112.9).
Todos os estudiosos concordam que as origens do culto de Ganesha se encontram no Rig Veda. Nos séculos seguintes, com os Puranas e os contos épicos, foi se desenvolvendo o Ganesha tal qual hoje conhecemos.
No Rig-Veda, a divindade chamada de “Ganapati-Brahmanaspati”- também conhecida como Brhaspati e Vcaspati- manifesta a si mesma como uma vasta massa de Luz. Sua cor era um dourado avermelhado. Pouco a pouco essa deidade se transformou em “Gajavadana-Ganesha-Vighneshvara”.
Em uma outra sessão do Rig-Veda, onde são descritas as divindades conhecidas como Maruts ou Marud-gana que são as crianças do deus Rudra, podem-se encontrar características similares a Ganesha. Interessante frisar que eles tem um lado negativo que podem causar grandes destruições, como os elefantes selvagens. Eles podem também colocar obstáculos no caminho dos homens se esses os desagradam ou removê-los quando esses os agradam. Eles são independentes e não estão submetidos a nenhuma soberania (Arajana=Vinayaka).
Com essas descrições, fica fácil concluir que Ganapati é uma forma metamoforseada de Brhaspati-Marudgana.
Em relação à sua cabeça de elefante, existem muitas versões, nenhuma particularmente convincente. Há pelo menos 5 grandes lendas que relatam diferentes origens míticas para a cabeça do elefante num corpo humano.
Não repetirei tais lendas aqui, pois elas são fáceis de encontrar em livros comuns ou mesmo na internet. Prefiro me dedicar à explicar o simbolismo profundo dos nomes e do símbolo em si.
A palavra sânscrita para elefante é “gaja”. Sendo assim, o nome Gajanana ou Gajamukha (com face de elefante) é também usada para Ganapati. Mas, a palavra Gaja tem uma conotação muito mais profunda que vamos analisar...
GA indica “Gati” o objetivo final para o qual todo o Universo se move, seja ele conhecido ou desconhecido. JA indica “Janma” nascimento ou origem. Sendo assim, GAJA significa o deus da qual os mundos vieram e para onde eles retornarão, para serem reabsortos nele. A cabeça de elefante então é puramente simbólica e aponta para essa verdade.
No universo existem dois tipos fundamentais de manifestação, ou seja, do microcosmo (Suksmanda) e do Macrocosmo (Brahmanda). Cada um é uma réplica do outro. A cabeça do elefante (Gaja) está para o macrocosmo assim como o corpo humano está para o microcosmo. Os dois formam uma unidade. O macrocosmo é o objetivo do microcosmo, e a cabeça de elefante está em grande proeminência em relação ao resto do corpo.
No Chandogya Upanishad está escrito : ‘tat-tvam-asi”, que significa “Isto és tu” ou seja, “Você, que é aparentemente limitado pela individualidade é, em essência, a Verdade cósmica, o Absoluto”. A forma elefante-humano de Ganapati é a representação iconográfica desta verdade expressa pelos Upanishad.
Suas orelhas são grandes, largas o suficiente para ouvir às súplicas de todos mas, como uma cesta que separa e escolhe, é capaz de discernir as boas e más motivações de todos os pedidos.
Uma de suas presas está quebrada, representando assim as imperfeições do mundo manifesto. A outra presa está perfeita e representa a unidade imanifesta e a perfeição da Verdade Absoluta. Sua grande barriga indica que todos os mundos criados estão contidos nele.
Devido ao seu tamanho, Ganapati deveria ter escolhido um enorme rato para sua montaria, no entanto, o que vemos é um ridículo e minúsculo ratinho aos pés dele.
A palavra sânscrita “Musaka” (=rato) é derivada da raiz “mus” que significa “para roubar”. Um rato, de forma sub-reptícia entra nas coisas e as destrói partindo de dentro. Similarmente, o egoísmo entra sem ser notado em nossas mentes e, silenciosamente destrói todos os nossos objetivos mais elevados. Apenas quando ele é controlado pela sabedoria ele pode ser utilizado para fins adequados. O rato que rouba, pode representar a compaixão, a bondade e o amor que “rouba” os corações humanos. O rato que costuma ver de dentro de todas as coisas representa então o intelecto incisivo. Desde que Ganapati é o senhor do Intelecto, fica explicado a causa de ter escolhido esse pequeno ratinho para seu veículo. Outro fator interessante é que o rato vence todos os obstáculos, assim como Ganesha os retira e põe conforme for conveniente.
A saudação a Ganesha é “ Hare Sri Ganapataya Namaha !”
O mantra budista japonês é OM KIRIKU GYAKU UN SOWAKA !
Existem outros mantras secretos recitados em ritos de consagração dessa divindade.
Fonte: http://chakubuku-aryasattva.blogspot.com.br/2010/11/ganesha-e-o-budismo.html