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 Cascata de dúvidas, o buraco da crise existencial.

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AsmitaNoVirgo

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AsmitaNoVirgo

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Mensagem Cascata de dúvidas, o buraco da crise existencial. EmptySeg 30 Nov 2015 - 15:18

Olá a todos, me chamo Tulio tenho 25 anos (sou estudante de Museologia na Faculdade Federal de Minas Gerais, estou no quinto período. Paralelamente a isso, desenho e escrevo mangás, sou amante da cultura japonesa e oriental no geral) e acabei me aprofundando um pouco mais no Budismo após estudar um pouco a historia do Japão, enfim eu venho do paganismo, Ex-Wicca hahaha da tradição Dianica, não tenho nada contra e agradeço muito as experiências que tive, essa fase foi fundamental na minha expansão e compreensão do mundo em geral, mas um dia acabou. Hoje me vejo agnóstico/perturbado/ em conflito comigo mesmo e consequentemente com  o mundo a minha volta. Entrei neste fórum com o objetivo de saber e compartilhar se eu tiver algo, o que o budismo é e propaga. Vou falar um pouco de mim e depois irei colocar algumas perguntas, questionamentos que estou fazendo no momento á mim mesmo.
 
Eu me vi cristão até aos 15 anos de idade até quando a enfermidade me abateu profundamente em forma de crises súbitas de pânico. Daquele momento em diante as explicações cristãs do mundo não mais me faziam sentido e pareciam muito distantes da realidade que eu me encontrava, pois o paraíso cristão me negou muitas coisas principalmente após eu ter me descoberto homossexual, assim o livro do Apocalypse não me servia mais ara nada, logo o livro inteiro também. Dai segui o caminho do agnosticismo por algum tempo até conhecer a filosofia Gótica e toda a contemplação da morte, mas acabei vendo que apenas a arte e o modo de expressar o gótico nas musicas e nos meus desenhos em si que me atrai e não viver como um gótico (aprecio os poemas, a historia, o vestuário etc). Dai conheci a bruxaria moderna (Wicca) e estudei solitariamente durante 6 anos e pratiquei ate pouco tempo atrás (ano passado) mas larguei, seja por eu ter me descoberto muito cético, seja pela fase da minha vida em busca de um sentido maior e menos místico a minha existência.
 
Então eu cai, cai no fundo do poço da chamada crise existencial, tudo parou de fazer sentido e minhas crises de pânico pioraram, fui diagnosticado com Ansiedade Generalizada que é o vicio em se preocupar diariamente hahaah o que antes era ser um homem precavido ( em sua zona segura de conforto) as crises revelaram um ser totalmente inseguro como um coelho na toca em dia de chuva. Diante disso apelei pro ser “espiritualizado” mas sem essência, enfim parece que o homem moderno ocidental segue mais ou menos o caminho que eu exemplifiquei claro com suas variações mas no geral é sempre nas extremidades do cientificismo e da cegueira religiosa, dai eu li um lindo texto chamado “Caminho do Meio” so o nome me fez chorar e já me atraiu para o Budismo do qual havia ouvido falar mas não sabia muitas coisas. Então comecei a estudar e derrubar a visão de senso comum a respeito do Budismo aqui no Ocidente mas esse é um processo que atualmente me encontro, diante disso farei algumas perguntas, não importa  se tiver “viajado” de mais em alguma (Sou megalomaníaco quase sempre hahaha) respondam as que quiserem, ficarei imensamente grato com o me for transmitido. Já de antemão peço que me perdoem se eu cometer alguma injuria, ignorância, não estou buscando julgar e ofender ninguém, apenas refletir e me desprender dos preconceitos ocidentais impregnados em mim para entender melhor as coisas, digo isso por que sou muitas vezes sarcástico comigo mesmo, já já vocês vão perceber...
 
 
1-Eu consegui entender que o Budismo é uma religião não teista mas não consigo entender coerência com algumas referencias que fazem a aparição de Indra e Brahma para Buda no momento de sua iluminação, qual o conceito de deuses dentro do Budismo afinal, isso seria só um mito, Buda chegou a afirmar que conversava com deuses etc? Existindo então uma ligação sincrética ao panteão Hindu, tais deuses então estão no Reino dos Deuses descrito no Samsara?
 
2-Sobre a Roda do Samsara, que é o ciclo incessante de morte e renascimento. Eu consegui entender os aspectos da influência do Karma positivo e negativo, mas não ficou claro pra mim o conceito de Renascimento e sua diferença com a Reencarnação, já que o que eu fizer nesta vida ira determinar a minha próxima, no caso como eu sairia dos reinos inferiores como os dos Animais, Asura e Espíritos Famintos que causam extremo sofrimento se a tendência nestas condições é praticar o Karma Negativo consequentemente me mantendo nestes reinos, inclusive dentro da própria roda repudiada do Samsara sendo ela por si mesma um grande inferno eterno de mortes e renascimentos. Neste caso não seria  a mesma ideia do inferno eterno tanto temido pelos cristãos, porém apenas mais sofisticado?
 
3- Como a Roda do Samsara foi concebida, quais seus fundamentos? Pergunto isso por que minha mente cética não consegue mais não deixar de fazer concepções sobre o aspecto de origem e fim, sei que no Budismo isso é bastante complexo de entender mas se houver al menos indícios ou para essa pergunta não existe resposta? Seria  algo místico a ser percebido por vias metafisicas, paranormais, mentais etc ou por fenômenos contemplados apenas ao Buda e cabe a min decidir se acredito ou não (desço pro Play?)
4-Após a iluminação, uma pessoa pode perder-la? A iluminação pode ser vista como a compreensão de todas coisas mas essa pessoa uma vez iluminada ainda está passível de erros diante deste mundo condicionado a leis mil que nos fazem agir em determinadas formas, ou seja após iluminado terei mesmo sendo leigo terei que seguir  uma rígida forma de vida?
5-Assistindo o filme  A vida do Mestre Dogen muitas coisas ficaram um pouco mais claras no quesito prática (ainda não visitei um sangha) mas uma coisa que incomodou muito foi o fato de foi dito que o  mestre afirma que a tradição Zen ´a única é a legitima, o que gerou no contexto politico da época uma perplexidade. Isso não se parece com o que já vimos no passado com a historia do cristianismo e ate mesmo em outros religiões onde se parte de um ideal em comum mas cada um segue do que quer e bem entender? Qual escola é mais “correta” mais “pura” de seguir, sei que é uma pergunta no mínimo perigosa  e talvez ignorante de alguém de fora querendo entrar, enfim existem grandes conflitos e inimizades entre essas escolas?
6-Com a questão do Não Eu e Desapego confesso que me assustei muito. Atualmente passo uma turbulenta fase na minha vida de intensa ansiedade com a vida cotidiana e a universitária e desenvolvi um sintoma terrível chamado de despersonalização e desrealização onde a pessoa “perde” pelo menos nos pensamentos as referencias de estar e ser no presente, é meio uma sensação de angustia de não pertencer a nada e sentir –se sozinho, e uma dor terrível. Diante disso leio que no Budismo um dos objetivos do caminho se é abandonar o “EU” e o EGO ( Me corrija se eu estiver errado) isso seria perder minha identidade em detrimento do coletivo? Minhas características únicas devem ser abandonadas ( Por exemplo minha pratica pelo desenho e escrita)? o que restará de mim, se já estou quase no processo sintomático patológico do medo de perder minha identidade hahaha? O desapego, Freud afirma que já nascemos não DESEJANDO sair da barriga da mãe, desde então desconfortados com a realidade dura do novo mundo fora da proteção do ventre materno, desejamos para viver DESEJANDO, assim elaborando a dor da perda de sair da segurança e encontrar o perigo na vida, pra mim é IMPOSSIVEL viver sem desejar levando em consideração a existência do Incosciente que deseja o tempo todo e processa desejos não concretizados no estado consciente, sublimados. Enfim se a auto estima, a liberdade for severamente reprimida a doença surge, o desejo e a doença são opostos neste sentido, exceto quando o desejo se torna VICIO, na verdade quando Buda fala de desejo ele fala então desses VICIOS e não dos desejos inerentes ao ser humano? Se eu for Budista terei que me forçar a deixar de gostar totalmente das pessoas que gosto, das coisas que gosto para atingir o estado dos monges iluminados o Nirvana, como é viver sem desejar nada seria quase um estado de coma? O que se deve considerar a partir disso os papeis daqueles que escolheram o caminho do asceticismo e os leigos, como se vive um leigo, melhor como se deve segundo o Budismo viver um leigo na condição de se livrar do Samsara? (se houver livros, filmes etc a respeito por favor me mandem)
 
7-Por fim um budista homossexual pode se casar, e ter uma vida conjugal sexual normal ou há alguma ressalva quanto a isso?
 

Por enquanto é só hahaha essa é a minha primeira leva de questões salientando que estou lendo muito dos que vocês discutem aqui. Entendo o papel do desapego e o não desejar para libertar mas ainda assim tenho a respeito de como desenvolver esse maravilhoso Caminho do Meio.
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Mensagem Cascata de dúvidas, o buraco da crise existencial. EmptySeg 30 Nov 2015 - 22:35

Citação :
Olá a todos, me chamo Tulio tenho 25 anos (sou estudante de Museologia na Faculdade Federal de Minas Gerais, estou no quinto período. Paralelamente a isso, desenho e escrevo mangás, sou amante da cultura japonesa e oriental no geral) e acabei me aprofundando um pouco mais no Budismo após estudar um pouco a historia do Japão, enfim eu venho do paganismo, Ex-Wicca hahaha da tradição Dianica, não tenho nada contra e agradeço muito as experiências que tive, essa fase foi fundamental na minha expansão e compreensão do mundo em geral, mas um dia acabou. Hoje me vejo agnóstico/perturbado/ em conflito comigo mesmo e consequentemente com  o mundo a minha volta. Entrei neste fórum com o objetivo de saber e compartilhar se eu tiver algo, o que o budismo é e propaga. Vou falar um pouco de mim e depois irei colocar algumas perguntas, questionamentos que estou fazendo no momento á mim mesmo.
 
Eu me vi cristão até aos 15 anos de idade até quando a enfermidade me abateu profundamente em forma de crises súbitas de pânico. Daquele momento em diante as explicações cristãs do mundo não mais me faziam sentido e pareciam muito distantes da realidade que eu me encontrava, pois o paraíso cristão me negou muitas coisas principalmente após eu ter me descoberto homossexual, assim o livro do Apocalypse não me servia mais ara nada, logo o livro inteiro também. Dai segui o caminho do agnosticismo por algum tempo até conhecer a filosofia Gótica e toda a contemplação da morte, mas acabei vendo que apenas a arte e o modo de expressar o gótico nas musicas e nos meus desenhos em si que me atrai e não viver como um gótico (aprecio os poemas, a historia, o vestuário etc). Dai conheci a bruxaria moderna (Wicca) e estudei solitariamente durante 6 anos e pratiquei ate pouco tempo atrás (ano passado) mas larguei, seja por eu ter me descoberto muito cético, seja pela fase da minha vida em busca de um sentido maior e menos místico a minha existência.
 
Então eu cai, cai no fundo do poço da chamada crise existencial, tudo parou de fazer sentido e minhas crises de pânico pioraram, fui diagnosticado com Ansiedade Generalizada que é o vicio em se preocupar diariamente hahaah o que antes era ser um homem precavido ( em sua zona segura de conforto) as crises revelaram um ser totalmente inseguro como um coelho na toca em dia de chuva. Diante disso apelei pro ser “espiritualizado” mas sem essência, enfim parece que o homem moderno ocidental segue mais ou menos o caminho que eu exemplifiquei claro com suas variações mas no geral é sempre nas extremidades do cientificismo e da cegueira religiosa, dai eu li um lindo texto chamado “Caminho do Meio” so o nome me fez chorar e já me atraiu para o Budismo do qual havia ouvido falar mas não sabia muitas coisas. Então comecei a estudar e derrubar a visão de senso comum a respeito do Budismo aqui no Ocidente mas esse é um processo que atualmente me encontro, diante disso farei algumas perguntas, não importa  se tiver “viajado” de mais em alguma (Sou megalomaníaco quase sempre hahaha) respondam as que quiserem, ficarei imensamente grato com o me for transmitido. Já de antemão peço que me perdoem se eu cometer alguma injuria, ignorância, não estou buscando julgar e ofender ninguém, apenas refletir e me desprender dos preconceitos ocidentais impregnados em mim para entender melhor as coisas, digo isso por que sou muitas vezes sarcástico comigo mesmo, já já vocês vão perceber...
 
 
1-Eu consegui entender que o Budismo é uma religião não teista mas não consigo entender coerência com algumas referencias que fazem a aparição de Indra e Brahma para Buda no momento de sua iluminação, qual o conceito de deuses dentro do Budismo afinal, isso seria só um mito, Buda chegou a afirmar que conversava com deuses etc? Existindo então uma ligação sincrética ao panteão Hindu, tais deuses então estão no Reino dos Deuses descrito no Samsara? 
 
2-Sobre a Roda do Samsara, que é o ciclo incessante de morte e renascimento. Eu consegui entender os aspectos da influência do Karma positivo e negativo, mas não ficou claro pra mim o conceito de Renascimento e sua diferença com a Reencarnação, já que o que eu fizer nesta vida ira determinar a minha próxima, no caso como eu sairia dos reinos inferiores como os dos Animais, Asura e Espíritos Famintos que causam extremo sofrimento se a tendência nestas condições é praticar o Karma Negativo consequentemente me mantendo nestes reinos, inclusive dentro da própria roda repudiada do Samsara sendo ela por si mesma um grande inferno eterno de mortes e renascimentos. Neste caso não seria  a mesma ideia do inferno eterno tanto temido pelos cristãos, porém apenas mais sofisticado?
 
3- Como a Roda do Samsara foi concebida, quais seus fundamentos? Pergunto isso por que minha mente cética não consegue mais não deixar de fazer concepções sobre o aspecto de origem e fim, sei que no Budismo isso é bastante complexo de entender mas se houver al menos indícios ou para essa pergunta não existe resposta? Seria  algo místico a ser percebido por vias metafisicas, paranormais, mentais etc ou por fenômenos contemplados apenas ao Buda e cabe a min decidir se acredito ou não (desço pro Play?)
4-Após a iluminação, uma pessoa pode perder-la? A iluminação pode ser vista como a compreensão de todas coisas mas essa pessoa uma vez iluminada ainda está passível de erros diante deste mundo condicionado a leis mil que nos fazem agir em determinadas formas, ou seja após iluminado terei mesmo sendo leigo terei que seguir  uma rígida forma de vida? 
5-Assistindo o filme  A vida do Mestre Dogen muitas coisas ficaram um pouco mais claras no quesito prática (ainda não visitei um sangha) mas uma coisa que incomodou muito foi o fato de foi dito que o  mestre afirma que a tradição Zen ´a única é a legitima, o que gerou no contexto politico da época uma perplexidade. Isso não se parece com o que já vimos no passado com a historia do cristianismo e ate mesmo em outros religiões onde se parte de um ideal em comum mas cada um segue do que quer e bem entender? Qual escola é mais “correta” mais “pura” de seguir, sei que é uma pergunta no mínimo perigosa  e talvez ignorante de alguém de fora querendo entrar, enfim existem grandes conflitos e inimizades entre essas escolas?
6-Com a questão do Não Eu e Desapego confesso que me assustei muito. Atualmente passo uma turbulenta fase na minha vida de intensa ansiedade com a vida cotidiana e a universitária e desenvolvi um sintoma terrível chamado de despersonalização e desrealização onde a pessoa “perde” pelo menos nos pensamentos as referencias de estar e ser no presente, é meio uma sensação de angustia de não pertencer a nada e sentir –se sozinho, e uma dor terrível. Diante disso leio que no Budismo um dos objetivos do caminho se é abandonar o “EU” e o EGO ( Me corrija se eu estiver errado) isso seria perder minha identidade em detrimento do coletivo? Minhas características únicas devem ser abandonadas ( Por exemplo minha pratica pelo desenho e escrita)? o que restará de mim, se já estou quase no processo sintomático patológico do medo de perder minha identidade hahaha? O desapego, Freud afirma que já nascemos não DESEJANDO sair da barriga da mãe, desde então desconfortados com a realidade dura do novo mundo fora da proteção do ventre materno, desejamos para viver DESEJANDO, assim elaborando a dor da perda de sair da segurança e encontrar o perigo na vida, pra mim é IMPOSSIVEL viver sem desejar levando em consideração a existência do Incosciente que deseja o tempo todo e processa desejos não concretizados no estado consciente, sublimados. Enfim se a auto estima, a liberdade for severamente reprimida a doença surge, o desejo e a doença são opostos neste sentido, exceto quando o desejo se torna VICIO, na verdade quando Buda fala de desejo ele fala então desses VICIOS e não dos desejos inerentes ao ser humano? Se eu for Budista terei que me forçar a deixar de gostar totalmente das pessoas que gosto, das coisas que gosto para atingir o estado dos monges iluminados o Nirvana, como é viver sem desejar nada seria quase um estado de coma? O que se deve considerar a partir disso os papeis daqueles que escolheram o caminho do asceticismo e os leigos, como se vive um leigo, melhor como se deve segundo o Budismo viver um leigo na condição de se livrar do Samsara? (se houver livros, filmes etc a respeito por favor me mandem)
 
7-Por fim um budista homossexual pode se casar, e ter uma vida conjugal sexual normal ou há alguma ressalva quanto a isso?
 

Por enquanto é só hahaha essa é a minha primeira leva de questões salientando que estou lendo muito dos que vocês discutem aqui. Entendo o papel do desapego e o não desejar para libertar mas ainda assim tenho a respeito de como desenvolver esse maravilhoso Caminho do Meio.

Puxa, você é bastante dedicado  Feliz
Com essas questões me ajudará a estudar bastante! rsrs  Sorridente
Também sempre gostei da cultura oriental e já curti Animes... Mangás eu não cheguei a ler Não entendi  Só fiquei no audiovisual rsrs... Vejo que você é muito esforçado e passou por muitas turbulências. Espero que eu possa ajudar... Vou tentar responder no que eu sei  Piscadela

1- Esse negócio de não-teísta x ateísta é uma coisa séria rs. Diz-se que o Budismo é não-teísta porque não fala sobre um Deus onisciente, onipresente e onipotente no sentido do Deus cristão, e não se dedica a tentar confirmá-lo ou refutá-lo. Mas eu serei franco - o tipo de Deus Cristão, ou Judeu, ou Islâmico não existe no Budismo. Não existe uma entidade separada, um "Pai" ou algo do gênero separado que criou o mundo, ou que pode mudar nossos destinos pela sua misericórdia ou algo do tipo... Como o Lama Padma Samten disse uma vez, o Budismo é ateísta no sentido de que não há um Deus como um ser separado, mas ele é teísta no sentido de que todos podem despertar o Deus que há dentro de si... É uma forma meio diferente de olhar rsrs
Sobre Brahma... Brahma e os Devas (deuses, podemos dizer assim) são seres vivos assim como humanos, fungos ou cachorros... Eu e você podemos renascer como Devas, ou até mesmo como um Brahma... 
Então, Buddha afirmou em muitos Suttas a existência dos Devas apenas como mais uma classe de seres. Logo, não há Deva que tenha uma existência eterna ou infinitamente prazerosa... É apenas mais um tipo de vida que é impermanente, transitória... É apenas mais uma classe de seres que está dentro do Samsara, do Ciclo de Renascimento e Morte. Então nós podemos renascer como Devas, e os Devas podem renascer como animais, por exemplo. Mas é claro que há algumas diferenças...
Os Devas desfrutam de muitos prazeres, passam por pouco sofrimento e a depender do plano de existência deles "há vários planos de existência com 'classes de devas diferentes'" vamos colocar assim... Quanto maior essa "classe", geralmente maior o intervalo de vida do Deva... Eu lembro que Buddha disse que alguns Devas vivem até por 1 éon (éon é o intervalo entre a expansão e contração do Universo, ou podemos dizer o Big Bang e, depois, a contração do universo de novo).
Por viverem muito tempo, alguns Devas se pensam eternos - isso é Ignorância. Alguns inclusive se veem como "Deus, Pai, criador de tudo". (exemplo: http://www.acessoaoinsight.net/sutta/MN49.php)
Sobre ter fé ou não nessas coisas, vou falar mais abaixo rs

2- Compreender o funcionamento do Samsara e Karma é beemmm complicado. Vou simplificar, mas acho que vai dar para entender mais ou menos...
Primeiro, é feita essa diferenciação entre Renascimento e Reencarnação por causa do ensinamento do não-eu. No Budismo não há a defesa de uma alma eterna que transmigra de um corpo ao outro, que encarna num corpo, depois encarna em outro, e assim por diante. Não é uma alma eterna, ou uma identidade fixa que transmigra - é um processo. Há algo que é separado desse corpo, mas não é uma alma fixa - é um processo em constante mudança, assim como o corpo. Por isso que para descrever o Renascimento, os mestres costumam comparar com uma árvore. A semente que cai desse pessegueiro, por exemplo, e dá origem a um novo pessegueiro - há alguma coisa que vai de um pessegueiro a outro, mas são 2 pessegueiros diferentes, e não há nenhuma identidade fixa ali, entende? "E o que vai de um pessegueiro ao outro, então?"... É um processo, um processo mental... Não uma identidade. E esse processo pode chegar a um fim, pode terminar, e quando isso ocorre, isso é Parinirvana (nirvana final).

Sobre Karma, é outro negócio muito complicado... Você, aqui e agora, pode estar com sementes de Karma de 20 vidas passadas que ainda não frutificaram... É por isso que, vez ou outra, pessoas boas sofrem, e pessoas ruins levam a melhor rsrs... Às vezes a pessoa é muito má nessa vida, e num dado momento um karma bom de alguma vida passada frutificou e por isso ela tem fortuna ou boa saúde, como exemplo... Isso não é injustiça... Pelo contrário. O problema é que Karma é algo que tem que ser visto a LONGUÍSSIMO PRAZO, rsrs... Questão de muitas vidas. 
Então vamos supor que nós renascemos como um fantasma faminto. Isso foi devido a Karmas ruins, mas eu tenho Karmas bons ali também... E num momento ou outro eles podem frutificar, e me dar a oportunidade de uma vida melhor novamente.
Mas é complicado isso. O Buddha disse que se você vai no Reino Animal, para renascer como ser humano de novo demora MUUUIIITOO tempo. Mas não é impossível, porque ninguém tem SÓ karma ruim ou SÓ karma bom. 
Olhe esse Sutta: http://www.acessoaoinsight.net/sutta/SNXV.9.php
Nele o Buddha diz que o processo de renascimento é como jogar uma vareta no ar - ora ela cai de lado, ora sobre sua ponta, ora sobre sua base. O que podemos fazer é tornar um lado mais pesado que o outro, de tal forma que a tendência seja que esse lado bata no chão primeiro, e aí consigamos um bom renascimento. E como fazemos isso? Fazendo bom Karma. Só que mesmo assim, nós sempre teremos ainda algum Karma ruim que poderá frutificar. Aí existe um estudo muito detalhado. Existem sementes de Karma que nunca vão frutificar, outras sementes que são anuladas por outro Karma... Existem vários ensinamentos sobre esse funcionamento, mas se você entender basicamente isso, acho que dá para responder sua pergunta... Qualquer coisa pergunte mais!  Feliz

3- A resposta já está no Sutta da vareta que eu acabei de passar:
Esse samsara não possui um início que possa ser descoberto. Um ponto inicial não é discernido para os seres que seguem vagando e perambulando, obstruídos pela ignorância e aprisionados pelo desejo. "
aO Buddha ensinou que cada um de nós (qualquer ser) pode ver por si mesmo suas vidas passadas ou o funcionamento de Karma por meio de uma mente meditativa. Só que isso demora tempo - o ser precisa desenvolver e treinar sua mente, e quando ela estiver poderosa e maleável, a pessoa pode dirigir sua mente para ter conhecimento do passado, como exemplo.

O Buddha desenvolveu muito sua mente, e ele disse que com ela conseguiu enxergar 91 éons para trás. Então veja, ele enxergou 91 Big Bangs. rsrs... Esse negócio do Buddha ter visto Big Bang é outra coisa que tenho que explicar, então "pera"...
Uma das Teorias modernas alega que desde o Big Bang, o universo está expandindo, expandindo, expandindo... E que chegará a um ponto que o processo irá se inverter, e ele começará a se contrair, contrair, contrair... Até que toda a matéria fique confinada a um ponto muito pequeno (nisso nós teremos sido destruídos já, né  Surpreso rs). Quando a matéria nesse ponto ficar muito densa e confinada, ela vai ter que "explodir" de novo, e aí começa tudo de novo - expandindo, expandindo, expandindo. Essa teoria científica moderna condiz com o que está nas escrituras budistas de 2600 anos atrás:
Exemplo:http://www.acessoaoinsight.net/sutta/ANX.30.php
"Outra vez, venerável senhor, o Abençoado (Buddha) se recorda das suas muitas vidas passadas, isto é, um nascimento, dois ... cinco, dez ... cinqüenta, cem, mil, cem mil, muitos ciclos cósmicos de contração, muitos ciclos cósmicos de expansão, muitos ciclos cósmicos de contração e expansão: 'Lá eu tinha tal nome, pertencia a tal clã, tinha tal aparência. Assim era o meu alimento, assim era a minha experiência de prazer e dor, assim foi o fim da minha vida. Falecendo daquele estado eu ressurgi ali. Ali eu também tinha tal nome, pertencia a tal clã, tinha tal aparência. Assim era o meu alimento, assim era a minha experiência de prazer e dor, assim foi o fim da minha vida. Falecendo daquele estado eu ressurgi aqui.


Se quiser ler sobre a relação Budismo x Ciência, recomendo ler o texto de Ajahn Brahm, que inclusive era físico antes de se tornar monge: http://www.acessoaoinsight.net/arquivo_textos_theravada/budismo_ciencia.php


aBom, voltando... Então o Buddha conseguiu ver 91 Éons... E veja, foi isso que ele conseguiu ver. Ele voltou até onde a sua mente empoderada por meditação permitiu, e ele não conseguiu ver nada além disso. Por isso ele diz que até onde ele sabia, não conseguia discernir um ponto de início para esse Samsara, então o Buddha nunca reconheceu a "origem do mundo". 

Mas uma coisa muito interessante no Budismo e que você vai ler no texto do Ajahn Brahm é que se diz que a origem e o fim do mundo são encontrados dentro de nós mesmos. Se não há um ser para estar consciente do mundo, não há mundo, e vice-versa. Tanto que no seu ensinamento de causa e efeito, o Buddha diz que a Consciência é uma condição para o surgimento de fenômenos mentais e materiais, e que esses fenômenos são uma condição para o surgimento da consciência. Não tem como haver mundo se não houver alguém ciente, e não há como haver alguém ciente se não houver algo para se estar ciente. Essa é a dualidade cognitiva do mundo. Para aquele que alcança Nirvana, desapegando-se de sua Consciência, esse alcança o fim do Samsara.

E ressaltando: o Buddha disse que todos podem ver isso por si mesmos. Só que isso só pode ser visto por uma mente treinada, cultivada, desenvolvida e empoderada por meditação profunda. Tanto que no Budismo há duas bases para a Sabedoria surgir: Virtude e Meditação. Não adianta só ser generoso e bondoso, se a pessoa não souber direcionar sua mente. E não adianta só saber direcionar a mente, se a pessoa não for virtuosa. Ambos são necessários para penetrar a realidade e cultivar sabedoria, pois realmente só uma mente contente, generosa, amorosa e alegre é capaz de silenciar e alcançar os níveis meditativos profundos... Mas isso são outros 500... Há seres que desenvolveram poderes meditativos e acabaram usando isso para o mal  Pena
Nos Suttas, as escrituras dizem que quando a mente é desenvolvida, ela fica assim:


"Com a sua mente assim concentrada, purificada, luminosa, pura, imaculada, livre de defeitos, flexível, maleável, estável e atingindo a imperturbabilidade, ele a dirige para o conhecimento da recordação de vidas passadas."


vCom essa mente podemos direcioná-la para vários tipos de conhecimentos.


4- Iluminação não pode ser perdida. Não tem como rsrs...
Uma pessoa iluminada é uma pessoa que se sente plena. Está pronta para morrer. É difícil a gente tentar entender isso, mas lembre-se que essa semente da iluminação está em todos... Mas é assim... A pessoa iluminada se sente plena, está pronta para morrer e só se move por generosidade pelos outros seres. Ela continua no mundo visando ajudar os outros seres, aguardando a sua partida de bom grado.
Agora, a pessoa iluminada ela alcançou aquilo que está além dos fenômenos condicionados, e quando ela morrer ela realizará Parinibbana (o Nirvana final), quando ela abandonará todos os fenômenos condicionados. Mas enquanto ela não morre, ela ainda se envolve com os fenômenos condicionados (em suma, os 5 agregados: Forma, Sensação, Percepção, Formações Mentais e Consciência), então ela continua tendo a sua personalidade, seus hábitos, seus condicionamentos físicos como antes. A diferença é que ela abandonou algumas impurezas mentais que não são inerentes à mente, e por isso ela não tem mais sofrimento mental (só tem sofrimento corporal). Mas o importante é isto: ela alcançou a liberdade de tudo o que é condicionado, mas enquanto estiver viva nesse corpo antes de realizar Parinibbana, ela ainda pode cometer alguns erros porque ela ainda está viva nesse corpo que é imperfeito, envolvida nesses 5 agregados que são imperfeitos. Só que a diferença é que a pessoa iluminada pode cometer um erro, mas nunca com intenções inábeis. 
Eu lembro de Ajahn Brahm, que para mim é um monge muito realizado. Ele disse que uma certa vez estava cansado devido a muito trabalho duro um dia, e no final do dia ele foi fazer uma cerimônia de casamento, só que em vez de fazer os cânticos de casamento ele fez os cânticos funerários rsrs... Você vê, isso foi um erro, mas não houve intenção de prejudicar alguém ali. Então, não é preciso ter remorso com essas coisas - todos nós, inclusive os Iluminados, cometemos erros. Só que os Iluminados não cometem erros fundamentos em intenções prejudiciais. 

5- Esse negócio de Escolas é complicado. Acho que é até melhor tratar com mais detalhes numa outra postagem.
primeiramente, tem algumas escolas (nãõ incluo o Zen nisso) que se colocam como Budistas mas que simplesmente pregam ensinamentos que não tem nada a ver com o que o Buddha ensinou rs. É totalmente o oposto. 
Também tem esse conflito de que algumas escolas têm uma linhagem que vai direto ao Buddha, ou que tem os ensinamentos mais superiores, é uma grande rixa. Aconselho a você conhecer ao menos a Theravada, a Zen e a Tibetana - são as mais "básicas" e conhecidas. Não posso te dizer que tem uma escola melhor, mas isso de uma escola se achar superior a outra não bate com os ensinamentos do Buddha. Mas acho que deveríamos tratar mais detalhadamente sobre isso em outra postagem! 

6- Cuidado aqui rsrs...
Como eu disse sobre as pessoas iluminadas, ninguém perde sua Personalidade. Cada um é único. Existem os iluminados mais travessos, mais objetivos, mais enigmáticos, mais introspectivos, mais estudiosos... E assim por diante. O que eles têm em comum é que abandonaram Tanha (o desejo criticado pelo Buddha). 
Agora é importante entender o que o Buddha quis dizer com a Segunda Nobre Verdade. Ele disse que a causa de Dukkha (Insatisfatoriedade, Sofrimento) é Tanha. Tanha costuma ser traduzido como Desejo. Se acabasse todo o Desejo, não teria como Buddha ter desejado se levantar e ter desejado comer, ter desejado dormir, ter desejado ensinar os outros e assim por diante.
Quando o Buddha fala que devemos destruir Tanha, ele especifica que Tanha é:
- desejo por ser/existir (desejo por uma identidade eterna)
- desejo por não-ser/existir (desejo por morrer e parar de existir - crença ateísta)
Esse negócio é interessante. Veja bem. Alguns de nós queremos fazer coisas boas para ter um paraíso eterno, mas nada é eterno. Outros de nós queremos morrer e descansar de vez, mas se fosse assim, qual seria a ética desse mundo? Um assassino e uma pessoa solidária seriam as mesmas diante da morte. E em ambos os casos a pessoa teria descanso eterno. Não é tão simples assim. karma é um negócio mais complexo, e temos muito trabalho a fazer. Não é um Pai lá em cima que vai ajudar, e não vamos nos poupar de nossas responsabilidades quando morrermos - seremos herdeiros daquilo que plantarmos.
- desejo sensual (desejo por mudar as coisas conectadas ao mundo e aos 5 sentidos: desejo de mudar as coisas que cheiramos, ouvimos, saboreamos, tocamos e vemos. Esse desejo também refere-se ao sexto sentido, que é a mente, no sentido de referir-se aos pensamentos que temos sobre o mundo e os 5 sentidos)
São só esses 3 tipos de desejos, e ainda assim eles envolvem muitos desejos rs.
Gosto de dizer que isso significa que nós aprendemos aos poucos a parar de buscar felicidade nas nossas experiências, e passamos a buscar felicidade nas nossas intenções. Não importa a experiência de lugar, pessoa ou mesmo a experiência mental - podemos estar no meio da multidão ou num local solitário, podemos estar com uma pessoa simpática ou irritante, podemos ter humores agradáveis ou agitados na mente - aos poucos vamos nos treinando para pararmos de buscar felicidade nas experiência, e a reconhecer a felicidade nas nossas intenções. Que intenções? Na intenção de ser gentil, de ser generoso, de ser caridoso, de ser paciente, de ser compassivo, de ser compreensível.
Agora, isso não é fácil. Isso é Desapego. Isso é Paz Interior, que tanto se fala na espiritualidade oriental.
Significa que nós paramos de depositar ou confiar a nossa Paz a coisas que são instáveis e impermanentes - nossos humores, os lugares em que estamos ou as pessoas com quem vivemos. Tudo isso morre. Por isso que é Não-eu - não fazem parte de uma Alma. Alma implica algo que é inerente, fixo, e essas coisas não são fixas. Não significa abandonar nossa Personalidade, mas significa reconhecer que mesmo nossos hábitos e nossa personalidade não são algo fixo, são coisas que estão sempre mudando, independente de quanto tempo demore para nós percebermos alguma mudança visível.
É meio difícil explicar isso, ainda mais quando estamos numa sociedade em que as receitas de felicidade são "encontrar a outra metade da laranja", "ter uma bela casa", "colecionar momentos felizes"... Nada disso é certo. É tudo impermanente. Então o Buddha nos pediu para que investigássemos uma alegria aqui dentro que nós podemos cultivar em qualquer situação. Se estiver uma pessoa gentil ou irritante ao nosso lado, não importa - qualquer uma é boa o suficiente para sermos amorosos e compassivos. Isso requer treino.

É por isso que Amor no Budismo ganha outra dimensão. Isso é que é Amor Incondicional. Não é amor de mãe por um filho, é amor de um praticante espiritual por qualquer coisa que o mundo traga. Não importa o que venha, nós acolhemos isso e ali purificamos as nossas intenções, ali purificamos a nossa mente. Por isso se fala muito em "não-controle". Não importa o que venha, é bom o suficiente para praticar esse caminho. Isso é Amor Incondicional. Então, nós não vamos dizer: "Só vou cultivar paz, amor e paciência quando estiver com pessoas desse tipo ou quando eu estiver nesses lugares, caso contrário vou recorrer aos meus vícios e aos meus outros refúgios...". Nós desenvolvemos esse coração destemido que se prontifica a ser generoso com qualquer coisa que vier... Se vier um câncer, é bom o suficiente para ser gentil, cultivar sabedoria e paz. Se vier uma ferrari, é bom o suficiente... Se vir a minha mãe... Se vir o meu irmão... Se vier o meu chefe... Se vier aquele pensamento bom... Se vier aquele pensamento ruim... Não importa o que venha, é aqui que a purificação ocorre - nessa mente, a cada instante. A responsabilidade é de cada um, e o momento é agora. A pessoa mais importante é aquela com quem você está. É por isso que a dimensão de amor muda.
Não amamos mais uma pessoa porque ela nos faz sentir assim ou assado - amamos pela própria felicidade de amar. Quando a gente entende isso, aí fica muito interessante. Pode vir uma doença, pode vir uma pessoa chata, pode vir uma tempestade, nós cultivamos amor - porque a felicidade está na intenção de amar, e não na experiência da tempestade ou do dia ensolarado, da pessoa chata ou simpática, da doença ou saúde.
Isso que eu digo é só uma base... A prática vai avançando degrau por degrau, mas a base é essa. Não é um processo fácil, é um treinamento desconfortável as vezes, mas é inspirador e possível.

Então, não há nada fixo.
A personalidade não é abandonada.
Não-eu significa que nenhuma dessas coisas constitui uma Alma ou essência nossa.
Como leigo, você pode continuar a ter suas preferências e atividades, e sempre investigue suas intenções. Investigue a segunda nobre verdade na sua vida. Eu percebi que num ponto surge uma urgência de parar de seguir meus desejos, e passar a fazer cada vez mais o que eu puder para beneficiar os outros. Isso não é "se dissolver na coletividade". É reconhecer que quando somos autocentrados, egocêntricos, a gente só colhe sofrimento para nós mesmos, acreditando que nossa felicidade depende do clima, do humor na mente ou coisas do tipo. Existe conforto e desconforto nesse sentido, mas existe algo muito mais poderoso no interior de cada um que é capaz de fazer as pazes com as maiores catástrofes. 
Quando reconhecemos isso, começamos a fazer as coisas verdadeiramente visando fazer algo de bom aos outros também. Não só para nós. Então você pode dar contribuições aos outros com seu trabalho, seja como escritor, artista, engenheiro ou médico... Pense em como você pode contribuir para a felicidade dos outros também... E de novo, sempre investigando como reconhecer sua paz na intenção de ajudar, e não na experiência de ajudar. Se realizamos isso, alcançamos aquele nível de generosidade de dar sem esperar nada em troca. Às vezes não recebemos um obrigado, mas até ingratidão ou uma cara feia! rsrs... Mas isso nos abala cada vez menos, porque vamos reconhecendo a paz na intenção benéfica, e não nas experiências...
Isso envolve muitas reflexões. Refletir sobre prazeres que experimentamos e que duraram pouco, ou sobre a morte e assim, sobre a inutilidade de querer colecionar coisas que não levaremos após a morte. O que levaremos é nosso Karma, isto é, nossa virtude, nossa generosidade, nossa caridade. Isso não é perder a personalidade. É usar os talentos que você tem, para fazer algo de benefício aos outros. 

E de novo - cuidar dos outros não significa negligenciar a si mesmo. Significa que cuidamos de nós no que for necessário, porque vamos aprendendo a alegria de ter poucas necessidades. Quem tem muitas necessidades é difícil de satisfazer e deposita muito sua alegria nas experiências, sem reconhecer essa alegria interior. Isso é algo a ser investigado.

Vou recomendar 2 vídeos curtinhosda mesma monja sobre Amor Incondicional e Felicidade Interior, depois posso passar novas ideias:
https://www.youtube.com/watch?v=gjV5zaGd0gA
https://www.youtube.com/watch?v=vEQIa5hlqSQ


7- Homossexuais são bem-vindos, transexuais, transgêneros... Em suma, todos os seres são bem-vindos. O ponto no Budismo é sempre intenção. Aliás, é isso que é Karma. O Buddha diz nos Suttas: "Monges, Karma é Cetana". Cetana é Intenção. O essencial no Budismo é cultivar as intenções benéficas, de amor, de caridade, de paciência, de gratidão. Se você é um heterossexual ou homossexual, o ensinamento é o mesmo: seja amoroso com seu parceiro, seja paciente, respeite-o, não seja agressivo. 
Tem alguns monges budistas que infelizmente ainda inferiorizam homossexuais ou mulheres... Isso não bate com os ensinamentos do Buddha, ok?  Piscadela

Espero ter ajudado.
Agora, esse negócio de Amor Incondicional é muito importante, especialmente cultivar isso para si mesmo, ok?
De forma simplificada e básica Budismo é isso - cultivar intenções benéficas. Quando olhamos dessa forma, então qualquer coisa, verdadeiramente qualquer coisa é boa o suficiente para aprendermos isso, certo? Não importa quão bizarra, agressiva, agitada, ansiosa, amedrontada, assustada ou raivosa sua mente seja... Não importa sua orientação sexual, sua raça, suas origens, sua infância, sua família, o que fizeram com você, o que falaram de você, ou mesmo o que você fez... Não importa. Qualquer um é bom o suficiente para perdoar-se, aceitar-se e começar um caminho espiritual. Esse tipo de amor incondicional com tudo é realmente muito importante. É abrir o coração para tudo. Qualquer dificuldade que a vida traga. E para si mesmo também. Qualquer coisa é boa o suficiente para ser gentil. Esse é o essencial. Assim fazemos as pazes com nós mesmos e com a vida. Isso é Desapego. Continue sendo você mesmo! Não precisa abandonar sua identidade. Nós dizemos abandonar o Ego porque o Ego nunca está satisfeito - quer mudar o mundo, as pessoas e a si mesmo. "Eu sou muito feio, sou muito agitado, sou muito inquieto, sou muito parado, sou muito sério, sou muito engraçadinho..."... O ponto não está nas experiências, está nas intenções. São as intenções que mudam. A medida que fazemos isso, continuamos ali, do jeito que somos, só que mais calmos, mais gentis e conciliadores. Essa é a prática espiritual. De novo - assim é que fazemos as pazes com o mundo e com nós mesmos.

E como eu sempre digo, paz... Antes eu dizia "Que você tenha paz", mas hoje em dia eu gosto de fazer o trocadilho: "Que você seja pacífico"... Assim, mesmo que você não tenha paz - seja pacífico, e as coisas irão se assentar sozinhas. Porque nada é fixo!  Feliz
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Mensagem Cascata de dúvidas, o buraco da crise existencial. EmptyTer 1 Dez 2015 - 23:20

Citação :
Sobre ter fé ou não nessas coisas, vou falar mais abaixo rs

2- Compreender o funcionamento do Samsara e Karma é beemmm complicado. Vou simplificar, mas acho que vai dar para entender mais ou menos...
Primeiro, é feita essa diferenciação entre Renascimento e Reencarnação por causa do ensinamento do não-eu. No Budismo não há a defesa de uma alma eterna que transmigra de um corpo ao outro, que encarna num corpo, depois encarna em outro, e assim por diante. Não é uma alma eterna, ou uma identidade fixa que transmigra - é um processo. Há algo que é separado desse corpo, mas não é uma alma fixa - é um processo em constante mudança, assim como o corpo. Por isso que para descrever o Renascimento, os mestres costumam comparar com uma árvore. A semente que cai desse pessegueiro, por exemplo, e dá origem a um novo pessegueiro - há alguma coisa que vai de um pessegueiro a outro, mas são 2 pessegueiros diferentes, e não há nenhuma identidade fixa ali, entende? "E o que vai de um pessegueiro ao outro, então?"... É um processo, um processo mental... Não uma identidade. E esse processo pode chegar a um fim, pode terminar, e quando isso ocorre, isso é Parinirvana (nirvana final).

Sobre Karma, é outro negócio muito complicado... Você, aqui e agora, pode estar com sementes de Karma de 20 vidas passadas que ainda não frutificaram... É por isso que, vez ou outra, pessoas boas sofrem, e pessoas ruins levam a melhor rsrs... Às vezes a pessoa é muito má nessa vida, e num dado momento um karma bom de alguma vida passada frutificou e por isso ela tem fortuna ou boa saúde, como exemplo... Isso não é injustiça... Pelo contrário. O problema é que Karma é algo que tem que ser visto a LONGUÍSSIMO PRAZO, rsrs... Questão de muitas vidas. 
Então vamos supor que nós renascemos como um fantasma faminto. Isso foi devido a Karmas ruins, mas eu tenho Karmas bons ali também... E num momento ou outro eles podem frutificar, e me dar a oportunidade de uma vida melhor novamente.
Mas é complicado isso. O Buddha disse que se você vai no Reino Animal, para renascer como ser humano de novo demora MUUUIIITOO tempo. Mas não é impossível, porque ninguém tem SÓ karma ruim ou SÓ karma bom. 
Olhe esse Sutta: http://www.acessoaoinsight.net/sutta/SNXV.9.php
Nele o Buddha diz que o processo de renascimento é como jogar uma vareta no ar - ora ela cai de lado, ora sobre sua ponta, ora sobre sua base. O que podemos fazer é tornar um lado mais pesado que o outro, de tal forma que a tendência seja que esse lado bata no chão primeiro, e aí consigamos um bom renascimento. E como fazemos isso? Fazendo bom Karma. Só que mesmo assim, nós sempre teremos ainda algum Karma ruim que poderá frutificar. Aí existe um estudo muito detalhado. Existem sementes de Karma que nunca vão frutificar, outras sementes que são anuladas por outro Karma... Existem vários ensinamentos sobre esse funcionamento, mas se você entender basicamente isso, acho que dá para responder sua pergunta... Qualquer coisa pergunte mais!  Feliz

3- A resposta já está no Sutta da vareta que eu acabei de passar:
Esse samsara não possui um início que possa ser descoberto. Um ponto inicial não é discernido para os seres que seguem vagando e perambulando, obstruídos pela ignorância e aprisionados pelo desejo. "
aO Buddha ensinou que cada um de nós (qualquer ser) pode ver por si mesmo suas vidas passadas ou o funcionamento de Karma por meio de uma mente meditativa. Só que isso demora tempo - o ser precisa desenvolver e treinar sua mente, e quando ela estiver poderosa e maleável, a pessoa pode dirigir sua mente para ter conhecimento do passado, como exemplo.

O Buddha desenvolveu muito sua mente, e ele disse que com ela conseguiu enxergar 91 éons para trás. Então veja, ele enxergou 91 Big Bangs. rsrs... Esse negócio do Buddha ter visto Big Bang é outra coisa que tenho que explicar, então "pera"...
Uma das Teorias modernas alega que desde o Big Bang, o universo está expandindo, expandindo, expandindo... E que chegará a um ponto que o processo irá se inverter, e ele começará a se contrair, contrair, contrair... Até que toda a matéria fique confinada a um ponto muito pequeno (nisso nós teremos sido destruídos já, né  Surpreso rs). Quando a matéria nesse ponto ficar muito densa e confinada, ela vai ter que "explodir" de novo, e aí começa tudo de novo - expandindo, expandindo, expandindo. Essa teoria científica moderna condiz com o que está nas escrituras budistas de 2600 anos atrás:
Exemplo:http://www.acessoaoinsight.net/sutta/ANX.30.php
"Outra vez, venerável senhor, o Abençoado (Buddha) se recorda das suas muitas vidas passadas, isto é, um nascimento, dois ... cinco, dez ... cinqüenta, cem, mil, cem mil, muitos ciclos cósmicos de contração, muitos ciclos cósmicos de expansão, muitos ciclos cósmicos de contração e expansão: 'Lá eu tinha tal nome, pertencia a tal clã, tinha tal aparência. Assim era o meu alimento, assim era a minha experiência de prazer e dor, assim foi o fim da minha vida. Falecendo daquele estado eu ressurgi ali. Ali eu também tinha tal nome, pertencia a tal clã, tinha tal aparência. Assim era o meu alimento, assim era a minha experiência de prazer e dor, assim foi o fim da minha vida. Falecendo daquele estado eu ressurgi aqui.


Se quiser ler sobre a relação Budismo x Ciência, recomendo ler o texto de Ajahn Brahm, que inclusive era físico antes de se tornar monge: http://www.acessoaoinsight.net/arquivo_textos_theravada/budismo_ciencia.php


aBom, voltando... Então o Buddha conseguiu ver 91 Éons... E veja, foi isso que ele conseguiu ver. Ele voltou até onde a sua mente empoderada por meditação permitiu, e ele não conseguiu ver nada além disso. Por isso ele diz que até onde ele sabia, não conseguia discernir um ponto de início para esse Samsara, então o Buddha nunca reconheceu a "origem do mundo". 

Mas uma coisa muito interessante no Budismo e que você vai ler no texto do Ajahn Brahm é que se diz que a origem e o fim do mundo são encontrados dentro de nós mesmos. Se não há um ser para estar consciente do mundo, não há mundo, e vice-versa. Tanto que no seu ensinamento de causa e efeito, o Buddha diz que a Consciência é uma condição para o surgimento de fenômenos mentais e materiais, e que esses fenômenos são uma condição para o surgimento da consciência. Não tem como haver mundo se não houver alguém ciente, e não há como haver alguém ciente se não houver algo para se estar ciente. Essa é a dualidade cognitiva do mundo. Para aquele que alcança Nirvana, desapegando-se de sua Consciência, esse alcança o fim do Samsara.

E ressaltando: o Buddha disse que todos podem ver isso por si mesmos. Só que isso só pode ser visto por uma mente treinada, cultivada, desenvolvida e empoderada por meditação profunda. Tanto que no Budismo há duas bases para a Sabedoria surgir: Virtude e Meditação. Não adianta só ser generoso e bondoso, se a pessoa não souber direcionar sua mente. E não adianta só saber direcionar a mente, se a pessoa não for virtuosa. Ambos são necessários para penetrar a realidade e cultivar sabedoria, pois realmente só uma mente contente, generosa, amorosa e alegre é capaz de silenciar e alcançar os níveis meditativos profundos... Mas isso são outros 500... Há seres que desenvolveram poderes meditativos e acabaram usando isso para o mal  Pena
Nos Suttas, as escrituras dizem que quando a mente é desenvolvida, ela fica assim:


"Com a sua mente assim concentrada, purificada, luminosa, pura, imaculada, livre de defeitos, flexível, maleável, estável e atingindo a imperturbabilidade, ele a dirige para o conhecimento da recordação de vidas passadas."


vCom essa mente podemos direcioná-la para vários tipos de conhecimentos.


4- Iluminação não pode ser perdida. Não tem como rsrs...
Uma pessoa iluminada é uma pessoa que se sente plena. Está pronta para morrer. É difícil a gente tentar entender isso, mas lembre-se que essa semente da iluminação está em todos... Mas é assim... A pessoa iluminada se sente plena, está pronta para morrer e só se move por generosidade pelos outros seres. Ela continua no mundo visando ajudar os outros seres, aguardando a sua partida de bom grado.
Agora, a pessoa iluminada ela alcançou aquilo que está além dos fenômenos condicionados, e quando ela morrer ela realizará Parinibbana (o Nirvana final), quando ela abandonará todos os fenômenos condicionados. Mas enquanto ela não morre, ela ainda se envolve com os fenômenos condicionados (em suma, os 5 agregados: Forma, Sensação, Percepção, Formações Mentais e Consciência), então ela continua tendo a sua personalidade, seus hábitos, seus condicionamentos físicos como antes. A diferença é que ela abandonou algumas impurezas mentais que não são inerentes à mente, e por isso ela não tem mais sofrimento mental (só tem sofrimento corporal). Mas o importante é isto: ela alcançou a liberdade de tudo o que é condicionado, mas enquanto estiver viva nesse corpo antes de realizar Parinibbana, ela ainda pode cometer alguns erros porque ela ainda está viva nesse corpo que é imperfeito, envolvida nesses 5 agregados que são imperfeitos. Só que a diferença é que a pessoa iluminada pode cometer um erro, mas nunca com intenções inábeis. 
Eu lembro de Ajahn Brahm, que para mim é um monge muito realizado. Ele disse que uma certa vez estava cansado devido a muito trabalho duro um dia, e no final do dia ele foi fazer uma cerimônia de casamento, só que em vez de fazer os cânticos de casamento ele fez os cânticos funerários rsrs... Você vê, isso foi um erro, mas não houve intenção de prejudicar alguém ali. Então, não é preciso ter remorso com essas coisas - todos nós, inclusive os Iluminados, cometemos erros. Só que os Iluminados não cometem erros fundamentos em intenções prejudiciais. 

5- Esse negócio de Escolas é complicado. Acho que é até melhor tratar com mais detalhes numa outra postagem.
primeiramente, tem algumas escolas (nãõ incluo o Zen nisso) que se colocam como Budistas mas que simplesmente pregam ensinamentos que não tem nada a ver com o que o Buddha ensinou rs. É totalmente o oposto. 
Também tem esse conflito de que algumas escolas têm uma linhagem que vai direto ao Buddha, ou que tem os ensinamentos mais superiores, é uma grande rixa. Aconselho a você conhecer ao menos a Theravada, a Zen e a Tibetana - são as mais "básicas" e conhecidas. Não posso te dizer que tem uma escola melhor, mas isso de uma escola se achar superior a outra não bate com os ensinamentos do Buddha. Mas acho que deveríamos tratar mais detalhadamente sobre isso em outra postagem! 

6- Cuidado aqui rsrs...
Como eu disse sobre as pessoas iluminadas, ninguém perde sua Personalidade. Cada um é único. Existem os iluminados mais travessos, mais objetivos, mais enigmáticos, mais introspectivos, mais estudiosos... E assim por diante. O que eles têm em comum é que abandonaram Tanha (o desejo criticado pelo Buddha). 
Agora é importante entender o que o Buddha quis dizer com a Segunda Nobre Verdade. Ele disse que a causa de Dukkha (Insatisfatoriedade, Sofrimento) é Tanha. Tanha costuma ser traduzido como Desejo. Se acabasse todo o Desejo, não teria como Buddha ter desejado se levantar e ter desejado comer, ter desejado dormir, ter desejado ensinar os outros e assim por diante.
Quando o Buddha fala que devemos destruir Tanha, ele especifica que Tanha é:
- desejo por ser/existir (desejo por uma identidade eterna)
- desejo por não-ser/existir (desejo por morrer e parar de existir - crença ateísta)
Esse negócio é interessante. Veja bem. Alguns de nós queremos fazer coisas boas para ter um paraíso eterno, mas nada é eterno. Outros de nós queremos morrer e descansar de vez, mas se fosse assim, qual seria a ética desse mundo? Um assassino e uma pessoa solidária seriam as mesmas diante da morte. E em ambos os casos a pessoa teria descanso eterno. Não é tão simples assim. karma é um negócio mais complexo, e temos muito trabalho a fazer. Não é um Pai lá em cima que vai ajudar, e não vamos nos poupar de nossas responsabilidades quando morrermos - seremos herdeiros daquilo que plantarmos.
- desejo sensual (desejo por mudar as coisas conectadas ao mundo e aos 5 sentidos: desejo de mudar as coisas que cheiramos, ouvimos, saboreamos, tocamos e vemos. Esse desejo também refere-se ao sexto sentido, que é a mente, no sentido de referir-se aos pensamentos que temos sobre o mundo e os 5 sentidos)
São só esses 3 tipos de desejos, e ainda assim eles envolvem muitos desejos rs.
Gosto de dizer que isso significa que nós aprendemos aos poucos a parar de buscar felicidade nas nossas experiências, e passamos a buscar felicidade nas nossas intenções. Não importa a experiência de lugar, pessoa ou mesmo a experiência mental - podemos estar no meio da multidão ou num local solitário, podemos estar com uma pessoa simpática ou irritante, podemos ter humores agradáveis ou agitados na mente - aos poucos vamos nos treinando para pararmos de buscar felicidade nas experiência, e a reconhecer a felicidade nas nossas intenções. Que intenções? Na intenção de ser gentil, de ser generoso, de ser caridoso, de ser paciente, de ser compassivo, de ser compreensível.
Agora, isso não é fácil. Isso é Desapego. Isso é Paz Interior, que tanto se fala na espiritualidade oriental.
Significa que nós paramos de depositar ou confiar a nossa Paz a coisas que são instáveis e impermanentes - nossos humores, os lugares em que estamos ou as pessoas com quem vivemos. Tudo isso morre. Por isso que é Não-eu - não fazem parte de uma Alma. Alma implica algo que é inerente, fixo, e essas coisas não são fixas. Não significa abandonar nossa Personalidade, mas significa reconhecer que mesmo nossos hábitos e nossa personalidade não são algo fixo, são coisas que estão sempre mudando, independente de quanto tempo demore para nós percebermos alguma mudança visível.
É meio difícil explicar isso, ainda mais quando estamos numa sociedade em que as receitas de felicidade são "encontrar a outra metade da laranja", "ter uma bela casa", "colecionar momentos felizes"... Nada disso é certo. É tudo impermanente. Então o Buddha nos pediu para que investigássemos uma alegria aqui dentro que nós podemos cultivar em qualquer situação. Se estiver uma pessoa gentil ou irritante ao nosso lado, não importa - qualquer uma é boa o suficiente para sermos amorosos e compassivos. Isso requer treino.

É por isso que Amor no Budismo ganha outra dimensão. Isso é que é Amor Incondicional. Não é amor de mãe por um filho, é amor de um praticante espiritual por qualquer coisa que o mundo traga. Não importa o que venha, nós acolhemos isso e ali purificamos as nossas intenções, ali purificamos a nossa mente. Por isso se fala muito em "não-controle". Não importa o que venha, é bom o suficiente para praticar esse caminho. Isso é Amor Incondicional. Então, nós não vamos dizer: "Só vou cultivar paz, amor e paciência quando estiver com pessoas desse tipo ou quando eu estiver nesses lugares, caso contrário vou recorrer aos meus vícios e aos meus outros refúgios...". Nós desenvolvemos esse coração destemido que se prontifica a ser generoso com qualquer coisa que vier... Se vier um câncer, é bom o suficiente para ser gentil, cultivar sabedoria e paz. Se vier uma ferrari, é bom o suficiente... Se vir a minha mãe... Se vir o meu irmão... Se vier o meu chefe... Se vier aquele pensamento bom... Se vier aquele pensamento ruim... Não importa o que venha, é aqui que a purificação ocorre - nessa mente, a cada instante. A responsabilidade é de cada um, e o momento é agora. A pessoa mais importante é aquela com quem você está. É por isso que a dimensão de amor muda.
Não amamos mais uma pessoa porque ela nos faz sentir assim ou assado - amamos pela própria felicidade de amar. Quando a gente entende isso, aí fica muito interessante. Pode vir uma doença, pode vir uma pessoa chata, pode vir uma tempestade, nós cultivamos amor - porque a felicidade está na intenção de amar, e não na experiência da tempestade ou do dia ensolarado, da pessoa chata ou simpática, da doença ou saúde.
Isso que eu digo é só uma base... A prática vai avançando degrau por degrau, mas a base é essa. Não é um processo fácil, é um treinamento desconfortável as vezes, mas é inspirador e possível.

Então, não há nada fixo.
A personalidade não é abandonada.
Não-eu significa que nenhuma dessas coisas constitui uma Alma ou essência nossa.
Como leigo, você pode continuar a ter suas preferências e atividades, e sempre investigue suas intenções. Investigue a segunda nobre verdade na sua vida. Eu percebi que num ponto surge uma urgência de parar de seguir meus desejos, e passar a fazer cada vez mais o que eu puder para beneficiar os outros. Isso não é "se dissolver na coletividade". É reconhecer que quando somos autocentrados, egocêntricos, a gente só colhe sofrimento para nós mesmos, acreditando que nossa felicidade depende do clima, do humor na mente ou coisas do tipo. Existe conforto e desconforto nesse sentido, mas existe algo muito mais poderoso no interior de cada um que é capaz de fazer as pazes com as maiores catástrofes. 
Quando reconhecemos isso, começamos a fazer as coisas verdadeiramente visando fazer algo de bom aos outros também. Não só para nós. Então você pode dar contribuições aos outros com seu trabalho, seja como escritor, artista, engenheiro ou médico... Pense em como você pode contribuir para a felicidade dos outros também... E de novo, sempre investigando como reconhecer sua paz na intenção de ajudar, e não na experiência de ajudar. Se realizamos isso, alcançamos aquele nível de generosidade de dar sem esperar nada em troca. Às vezes não recebemos um obrigado, mas até ingratidão ou uma cara feia! rsrs... Mas isso nos abala cada vez menos, porque vamos reconhecendo a paz na intenção benéfica, e não nas experiências...
Isso envolve muitas reflexões. Refletir sobre prazeres que experimentamos e que duraram pouco, ou sobre a morte e assim, sobre a inutilidade de querer colecionar coisas que não levaremos após a morte. O que levaremos é nosso Karma, isto é, nossa virtude, nossa generosidade, nossa caridade. Isso não é perder a personalidade. É usar os talentos que você tem, para fazer algo de benefício aos outros. 

E de novo - cuidar dos outros não significa negligenciar a si mesmo. Significa que cuidamos de nós no que for necessário, porque vamos aprendendo a alegria de ter poucas necessidades. Quem tem muitas necessidades é difícil de satisfazer e deposita muito sua alegria nas experiências, sem reconhecer essa alegria interior. Isso é algo a ser investigado.

Vou recomendar 2 vídeos curtinhosda mesma monja sobre Amor Incondicional e Felicidade Interior, depois posso passar novas ideias:
https://www.youtube.com/watch?v=gjV5zaGd0gA
https://www.youtube.com/watch?v=vEQIa5hlqSQ


7- Homossexuais são bem-vindos, transexuais, transgêneros... Em suma, todos os seres são bem-vindos. O ponto no Budismo é sempre intenção. Aliás, é isso que é Karma. O Buddha diz nos Suttas: "Monges, Karma é Cetana". Cetana é Intenção. O essencial no Budismo é cultivar as intenções benéficas, de amor, de caridade, de paciência, de gratidão. Se você é um heterossexual ou homossexual, o ensinamento é o mesmo: seja amoroso com seu parceiro, seja paciente, respeite-o, não seja agressivo. 
Tem alguns monges budistas que infelizmente ainda inferiorizam homossexuais ou mulheres... Isso não bate com os ensinamentos do Buddha, ok?  Piscadela

Espero ter ajudado.
Agora, esse negócio de Amor Incondicional é muito importante, especialmente cultivar isso para si mesmo, ok?
De forma simplificada e básica Budismo é isso - cultivar intenções benéficas. Quando olhamos dessa forma, então qualquer coisa, verdadeiramente qualquer coisa é boa o suficiente para aprendermos isso, certo? Não importa quão bizarra, agressiva, agitada, ansiosa, amedrontada, assustada ou raivosa sua mente seja... Não importa sua orientação sexual, sua raça, suas origens, sua infância, sua família, o que fizeram com você, o que falaram de você, ou mesmo o que você fez... Não importa. Qualquer um é bom o suficiente para perdoar-se, aceitar-se e começar um caminho espiritual. Esse tipo de amor incondicional com tudo é realmente muito importante. É abrir o coração para tudo. Qualquer dificuldade que a vida traga. E para si mesmo também. Qualquer coisa é boa o suficiente para ser gentil. Esse é o essencial. Assim fazemos as pazes com nós mesmos e com a vida. Isso é Desapego. Continue sendo você mesmo! Não precisa abandonar sua identidade. Nós dizemos abandonar o Ego porque o Ego nunca está satisfeito - quer mudar o mundo, as pessoas e a si mesmo. "Eu sou muito feio, sou muito agitado, sou muito inquieto, sou muito parado, sou muito sério, sou muito engraçadinho..."... O ponto não está nas experiências, está nas intenções. São as intenções que mudam. A medida que fazemos isso, continuamos ali, do jeito que somos, só que mais calmos, mais gentis e conciliadores. Essa é a prática espiritual. De novo - assim é que fazemos as pazes com o mundo e com nós mesmos.

E como eu sempre digo, paz... Antes eu dizia "Que você tenha paz", mas hoje em dia eu gosto de fazer o trocadilho: "Que você seja pacífico"... Assim, mesmo que você não tenha paz - seja pacífico, e as coisas irão se assentar sozinhas. Porque nada é fixo!  Feliz

Agradeço imensamente suas respostas, esclareceu alguns pontos na minha cabeça, irei fazer então algumas ressalvas:

1-Bom entendido então a abordagem complexa do Não-teismo eu consegui entender o ponto de vista e achei muito sábio no entanto eu ainda particularmente nao consigo acreditar que um dia poderei ver Devas conversar com espiritos famintos etc... É complicado por eu ser cetico fica dificil acreditar nas partes metafisicas mesmo eu querendo acreditar, eu quero saber mesmo  a origem desses seres, existem uma ordem de nascimento etc? Outra vez eu voltando na questão do objetivo em relação ao subjetivo ahahah

2-Então no caso eu estaria sofrendo por erros que cometi no passado... isso nao seria entao roda do destino? Eu sempre estou fadado a cair em um realidade proporcionado pelos resultados meus dos atos em vidas passadas? Onde se encaixa o livre arbítrio aqui?

3-Caso eu me "ilumine" e não veja nenhuma das minhas vidas passadas eu irei comprovar que tudo nao passa de mentira? Estou fazendo essas perguntas por que  aminha mente imediatamente colocou essas hipoteses pragmáticas a mim..... na verdade se eu decidir  nao querer ter essas visões , é uma condição do iluminado telas? o iluminado ganha super poderes como flutuar, mover objetos com a mente etc,  se sim como isso é provado? Ou tudo isso nao passa de mitos, o importante não é a libertação da mente em relação aos apegos?

4-Nossa mas isso não parece inércia, "estou pronto para morrer ja me iluminei mesmo, agora vou ajudar aqui e ali e pronto nao vou mais querer nada, por exemplo não vou continuar a desenhar, trabalhar comer,  se um caminhão vier me atropelar dane-se, que venha a morte" Isso não é um comportamento suicida? Se pensarmos que o ser humano sempre tem novos desafios/objetivos a perseguir na vida enquanto estiver vivo? Se eu entendi errado por favor preciso entender isso, estou intrigado demais hahaha

5-Bom eu so quero saber por exemplo se eu escolher a escola Zen se eu precisarei estar me confrontando com outras escolas e ainda me defendendo dos ataques de outras religiosos a respeito de contradição e conflitos internos, pra mim onde não há concordância há confusão.

6-Se eu desejo me tornar um desenhista para me sentir feliz e me sentir util ao mundo atraves da minha arte, e ser museologo para me sustentar estou tendo desejos negativos?

7-Agora se falando de sexo, é ou não é permitido? O que Buda quer dizer com comportamento sexual impróprio?

8-Posso fazer meditação com musica ou isso atrapalha?

9-O budismo nega a existência do Inconsciente e suas inferências a vida consciente?

10- Um budista pode fazer terapia? Mesmo que nesse processo envolva desabafo e que nesses desabafos entre quatro paredes com o terapeuta se pronuncie a raiva, o odio o ressentimento para com os outros na difícil relação humana e nesse desabafo traga o alivio, mesmo sabendo da questão da fala correta? O tratamento terapêutico envolve liberar através da fala tudo que incomoda a pessoa afim de se descobrir internamente e superar esses conflitos, falar coisas não antes ditas suprimidas no inconsciente, isso adiciona karma negativo? Ou seja o tratamento piora a situação dessa criatura então no budismo? hahahaah

11- Com relação a auto estima, que é o equílibrio entre reconhecer seus defeitos e qualidades, no budismo nao pode haver esse reconhecimento? Eu não posso me orgulhar de fazer algo bem feito, eu vou entao sempre ter que me ver como um ser vazio, um nada, nao posso me orgulhar das coisas bem feitas que faço por que isso me atrapalha no caminho da iluminação? Como viver sem auto estima e sem baixa auto estima hahaha?

12- Enfim eu me incomodo apenas com o seguinte, eu não sei ao certo se isso seja o objetivo de se iluminar,esse  a impressão que seja ser "ZEN FOREVER"  Mas eu não conseguirei ser paciente 24 horas por dia, nao xingar 24 horas por dia, resolver tudo com calma 24 horas por dia, ter resiliência o tempo todo hahaha nesse sentindo inevitavelmente eu cometerei karma negativo, nao seria então uma busca por Nirvana, uma busca utópica onde apenas Buda em seu contexto, ambiente especificos tenha conseguido aquilo que ele mesmo pregou?

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Mensagem Cascata de dúvidas, o buraco da crise existencial. EmptyDom 6 Dez 2015 - 17:17

1-Bom entendido então a abordagem complexa do Não-teismo eu consegui entender o ponto de vista e achei muito sábio no entanto eu ainda particularmente nao consigo acreditar que um dia poderei ver Devas conversar com espiritos famintos etc... É complicado por eu ser cetico fica dificil acreditar nas partes metafisicas mesmo eu querendo acreditar, eu quero saber mesmo  a origem desses seres, existem uma ordem de nascimento etc? Outra vez eu voltando na questão do objetivo em relação ao subjetivo ahahah


Como assim uma ordem de nascimento? Eu não entendi rsrs  Feliz
Mas vamos falar da parte do ceticismo primeiro. É bom entender que isso é normal, certo? Veja esse sutta, como exemplo: http://www.acessoaoinsight.net/sutta/SNXLVIII.44.php
 Nele o Buddha pergunta se seu discípulo tem uma certa compreensão com base na convicção ou fé. O discípulo responde que não - que ele tem essa compreensão com base na sua própria experiência, porque ele completou o treinamento espiritual. Porém, ele diz, aqueles que não completaram o treinamento, só podem aceitar esse ensinamento com base na fé, até que eles vejam por si mesmos. E é assim, não é? Nessa prática, fé e sabedoria andam juntos. Eu fui para o Budismo, porque achei os ensinamentos do Buddha lógicos, de início. A reflexão sobre seus ensinamentos me deu confiança nele. Depois que comecei a testá-los, ambos confiança/fé e sabedoria cresceram juntos. E assim seguiram juntos até que a sabedoria se complete. É assim que funciona.
Então, como escolher em que médico você irá se consultar se você nunca se submeteu a um tratamento dele? Uma boa forma é consultar os pacientes que já passaram por ele. Essa é outra fonte muito boa de confiança e fé. Quando olhamos vários monges budistas, podemos ficar surpresos pelas coisas que eles dizem ou pela tranquilidade e realização que eles passam. Isso também traz fé, e com base nela que começamos a investigar esses ensinamentos, colocá-los a prova e a vê-los por nós mesmos. Se quiser ler um pequeno texto que postei sobre Fé no Budismo, aconselharia este: https://sangha-online.forumeiros.com/t27-o-equilibrio-entre-a-fe-e-a-investigacao-no-budismo


 Sobre a origem dos seres ou do mundo, lembre-se daquilo que falei no outro Post: o Buddha não declarou uma origem do mundo. Pelo contrário, ele disse que uma origem do mundo não pode ser discernida. No final das contas, Buddha não falava muito de questões metafísicas, a menos que elas ajudassem a reforçar os seus ensinamentos sobre o benefício da generosidade e os prejuízos do egocentrismo. Veja esse sutta, como exemplo: http://www.acessoaoinsight.net/sutta/MN63.php pEsse Sutta fala de um monge que vai ao Buddha e ameaça deixar a vida como monge se o Buddha não responder suas dúvidas metafísicas, como se o mundo é infinito ou não, se há uma alma eterna, se o corpo e alma são a mesma coisa ou coisas diferentes e assim por diante... O Buddha o repreende, dizendo que ele declara somente aquilo que é útil para libertar os seres do sofrimento. Então ele usa um símile: ele diz que é como alguém que, sendo afetado por uma flecha envenenada, se recusa a remover a flecha e a buscar uma cura a menos que ele descubra "Quem atirou essa flecha? Onde ele vive? Qual sua altura? Por que ele me atingiu? Qual a cor dos seus olhos?". A pessoa nunca conseguiria a resposta para essas perguntas, e assim morreria. Da mesma forma, o Buddha nos aconselhava a parar de buscar respostas para nossas mentes especulativas, e nos aconselhou a investigar o sofrimento, que é algo mais concreto, digamos assim rsrs. 



2-Então no caso eu estaria sofrendo por erros que cometi no passado... isso nao seria entao roda do destino? Eu sempre estou fadado a cair em um realidade proporcionado pelos resultados meus dos atos em vidas passadas? Onde se encaixa o livre arbítrio aqui?



Ou talvez você possa estar sofrendo por erros que acaba de cometer, não é?  Feliz Você diz algo ruim para uma pessoa e isso te traz remorso - isso se deve devido a um erro que você acaba de cometer.
Tem que tomar muito cuidado com essa ideia de Destino e Fatalismo... O importante é "O que vou fazer com o Karma que tenho aqui e agora?". Mas isso não é livre-arbítrio também, ambas ideias são meio erradas... rsrs... Não há livre-arbítrio - nossa liberdade está limitada até certo ponto pelo nosso Karma. Mas nesse intervalo, nesse limite, qual o ponto de ação você vai escolher? Vamos ilustrar de uma forma bem grotesca rsrs... Todas as escolhas possíveis estão num intervalo de 0 a 1000. Devido a seu Karma e suas capacidades espirituais e as circunstâncias do momento, você tem a liberdade de fazer uma escolha no intervalo de 20 a 350. Agora, é só escolher. 
Entendeu? Isso não é livre-arbítrio, porque não estamos totalmente livres; e não é fatalismo, porque não estamos totalmente impossibilitados de fazer nossas escolhas. Se fosse assim ninguém teria responsabilidade por nada rsrs... Fatalismo seria meio assim "Eu fiz esse karma devido a um karma passado", e então um caminho espiritual seria impossível. 
O importante é o que você vai fazer com o Karma que está se manifestando. Se você for sábio, pode ser que o leque de possibilidades vá até 400, como exemplo rsrsrs... É desse jeito. Ajahn Brahm diz que nosso Karma é como se fossem os ingredientes para preparar um bolo. Embora algumas pessoas tenham ingredientes pobres e simples, devido a sua dedicação pode ser que elas façam bolos melhores que outras pessoas com ingredientes muito mais sofisticados. Isso é nítido, não é?
Karma interfere na nossa saúde, na nossa riqueza, na nossa beleza, entre outras coisas... Existem pessoas ricas e pobres fazendo coisas boas e ruins; belas e deficientes fazendo coisas boas e ruins... saudáveis e debilitadas fazendo coisas boas e ruins... O importante é o que você faz com o seu Karma, e isso já é mais Karma. Então, o importante é aceitar o Karma ou os ingredientes que temos e nos esforçarmos. Então, pode ser que façamos bons bolos e consigamos dinheiro para comprar ingredientes ainda melhores para a próxima vida... E assim vamos até conseguirmos o dinheiro suficiente para comprar a passagem para Nirvana... rsrs


3-Caso eu me "ilumine" e não veja nenhuma das minhas vidas passadas eu irei comprovar que tudo nao passa de mentira? Estou fazendo essas perguntas por que  aminha mente imediatamente colocou essas hipoteses pragmáticas a mim..... na verdade se eu decidir  nao querer ter essas visões , é uma condição do iluminado telas? o iluminado ganha super poderes como flutuar, mover objetos com a mente etc,  se sim como isso é provado? Ou tudo isso nao passa de mitos, o importante não é a libertação da mente em relação aos apegos?

Aqui é meio complicado... Não são todos os iluminados que veem suas vidas passadas, só que a compreensão que um Iluminado tem implica que ele reconhece que existe uma mente que pode ter várias vidas. 
É assim... Existem vários "super-poderes" que uma mente treinada pode desenvolver... O indivíduo pode desenvolvê-los, se quiser... Se o Iluminado não os desenvolver, ele não irá desempenhá-los. Só que a compreensão e a sabedoria que se atinge para se culminar na Iluminação é qual? O Buddha disse que o Iluminado é aquele que compreende as 4 Nobres Verdades e, especialmente, a Originação Dependente. A Originação Dependente fala da relação de causa e efeito (Como formações volitivas originam consciência, que originam mentalidade/materialidade, que originam os 6 sentidos, que dão origem ao contato, que dão origem a sensação, que dão origem ao desejo, que dão origem ao apego... e assim por diante), ou seja, fala da relação de causa e efeito psicofísica. Para aquele que compreende isso, a pessoa compreende o que é o corpo, o que é a mente, que a mente e o corpo são duas coisas distintas... A pessoa entende como a consciência se estabelece no corpo, e assim entende como podem haver várias vidas. Então, a compreensão de Vidas Passadas é consequência da Sabedoria de um Iluminado, mas a visão nítida e direta disso só é realizada por aqueles que dirigirem a sua mente para esse "super-poder".
Veja o Susima Sutta: http://www.acessoaoinsight.net/sutta/SNXII.70.php#R4 iNele o Buddha diz que o desenvolvimento dos poderes supra-humanos não é um pré-requisito para a Iluminação. O pré-requisito para a Iluminação é Virtude - Meditação - Sabedoria. A pessoa dirige a mente meditativa e virtuosa para investigar a realidade, o desejo, o sofrimento e a paz e assim compreende como abandonar o sofrimento e abandonar os desejos inábeis. Assim, ela destrói as impurezas mentais e alcança a Iluminação. Para isso não é necessário super-poderes, é necessário desenvolver virtude, meditação (voltada para o desenvolvimento de sabedoria, não de super-poderes) e sabedoria. Só que a sabedoria que o Iluminado atinge já lhe deixa claro que a mente é algo separado que pode se alocar em novos corpos, entendeu? Mas é claro que a destruição das impurezas mentais é o mais importante... O desenvolvimento de super-poderes é só brinde! rsrs


4-Nossa mas isso não parece inércia, "estou pronto para morrer ja me iluminei mesmo, agora vou ajudar aqui e ali e pronto nao vou mais querer nada, por exemplo não vou continuar a desenhar, trabalhar comer,  se um caminhão vier me atropelar dane-se, que venha a morte" Isso não é um comportamento suicida? Se pensarmos que o ser humano sempre tem novos desafios/objetivos a perseguir na vida enquanto estiver vivo? Se eu entendi errado por favor preciso entender isso, estou intrigado demais hahaha



É difícil entender o que é Iluminação mesmo... Ou Nirvana, prefiro dizer Nirvana rsrs... É melhor [?]  Rindo
Veja... Só um detalhe, lembre-se que o Buddha disse na segunda nobre verdade que a causa de sofrimento é Tanha, e que Tanha consiste em 3 tipos de desejos:
- desejo por ser/existir
- desejo por não-ser/existir
- desejo sensual
Então veja, um Iluminado desenraizou qualquer possibilidade de desejo por não-ser/existir. Querer se matar é desejo por não-ser/existir, e isso os Iluminados não têm rsrs. Como eu disse no post anterior, o Iluminado está pleno, simplesmente isso. É meio difícil entender isso, mas ele já fez tudo. Não há mais nada para ser feito. O resto é só brinde mesmo! rsrs  Vamos tentar falar em detalhes sobre isso, e não se preocupe com qualquer intriga que possa surgir, é normal... Alguns ficam depressivos ou indignados quando conversa-se mais em detalhe sobre Iluminação.
Quando você diz que os seres humanos tem mais metas e objetivos, o que você quer dizer?
Isso é meio difícil, porque veja bem... No Budismo nós começamos a contemplar a impermanência e nãoeu em tudo, e uma das coisas mais interessantes em contemplar a transitoriedade é nas nossas preferências. Nossos gostos mudam, certo? Para aqueles que acreditam em vidas passadas, esse tipo de contemplação é bem poderosa, mas mesmo para aqueles que não acreditam nisso, basta refletir um pouco sobre as mudanças que se passou em 10 anos de vida por exemplo. Pense nas coisas que você gostava de fazer e que não te atraem mais. Ou nas coisas que hoje lhe são muito valiosas, e que antes você nem se importava. Isso é porque nossos gostos e desgostos mudam. Nossas preferências mudam. Tem gente que não gosta de falar sobre isso, mas vai dizer que não é assim? 
Existem pessoas muito boas em desenhos, que no meio da vida de repente decidem abrir um restaurante! Ou pessoas que achavam que dedicariam sua vida ao turismo, e que de repente se descobrem realizadas em trabalhar num negócio num lugar fixo... É algo muito incrível de ver, como todos nós mudamos...
E veja, nós realmente não refletimos dessa maneira... Um exemplo dessa nossa ignorância é a forma com que tratamos nossos amigos. Às vezes, numa amizade de anos, nós de repente olhamos para a outra pessoa e dizemos "Por que você não é como era antes? Você mudou, sabia?"... Nós sentimos o que chamamos de Nostalgia, não é? Nossos amigos mudaram... As conversas não são mais tão gostosas, os assuntos não são os mesmos... Por que isso? E aí a gente desconsidera alguém que foi amigo por muito tempo... E isso é interessante, porque parece que a ideia que a gente tem, é que quando começamos um relacionamento ou uma amizade no impulso das emoções e dos sentimentos, nós desejamos construir um compromisso naquilo para que aquilo dure a vida inteira - mas nada é permanente. As pessoas mudam, e a gente questiona nossos amigos: Por que você mudou? Antigamente nossa amizade significava tanto!" não é?
Não sei se você já sentiu isso, mas veja bem... Impermanência é um ensinamento tão óbvio, mas parece que a gente não reflete muito na profundidade e onipresença disso. Tem alguns que até dizem: "Não acredito que o Buddha disse que Impermanência é um ensinamento! Isso é óbvio, que nada é eterno...", mas as pessoas vivem como se as coisas fossem rsrs...
E o mais importante, nós vivemos como se nós fossemos eternos, mas nós não somos. Não no sentido de que nós vamos morrer, mas no sentido de que durante essa vida, nós mudamos. Nossas preferências mudam. Nossos hábitos... É normal... Então, quando falamos de metas e objetivos, nas aparências é apenas brincadeira de criança... Estamos apenas pulando de galho em galho - verdadeiramente, é só isso. Conquistando ou não uma meta, nós apenas mudamos de meta, e é só. É só. Não é?  Feliz  Ter uma namorada, terminar o ensino médio, conseguir um trabalho, concluir faculdade x, casar, comprar aquela casa, terminar esse negócio... Estamos mudando de metas, e assim vamos vivendo a vida. Nas APARÊNCIAS, nossas vidas são nada mais do que isso, não é? É só isso, simplesmente só isso. Seja um Iluminado ou não, a vida é só isso. O ponto aqui é a impermanência - são só metas impermanentes. E qualquer coisa que nós realizarmos, vai simplesmente se perder. Então qual o sentido disso tudo? Qual o sentido dessas metas e objetivos que você mencionou? "Se pensarmos que o ser humano sempre tem novos desafios/objetivos..."? Não estou dizendo que isso não seja importante, estou dizendo que "é só isso" rsrs... Nada demais. Como eu disse, nas aparências, a vida é isso. Na essência, o ponto realmente importante, é o Karma, ou seja, as Intenções. Isso é o sentido da vida. Por que trabalhamos? Por que criamos uma família? Por que concluímos a faculdade? Por que fomos ao cinema? E na prática espiritual, a medida que investigamos e contemplamos a vida, o que vamos percebendo é que existem alguns tesouros preciosos como solidariedade, generosidade, empenho, amor, esforço e benevolência... Essas passam a ser as intenções por trás das nossas ações.  É um processo meio que natural, cada um vai progredindo ao seu próprio tempo... Mas sempre vai crescendo essa compreensão que o importante é apenas fazer algo significativo com um bom coração, e o resto se torna secundário. E é meio estranho que nos sintamos estranhos rs, em relação a isso... É só olhar para a morte... Nossas metas e objetivos não terão muito valor lá na frente... Veja, nem nossas preferências tem tanto valor assim... E de novo, não estou falando para destruir sua identidade ou sua personalidade... As preferências que você tem agora (por mangás, por exemplo), use-as com um bom coração. É só isso. Se um dia suas preferências mudarem, e você resolver trabalhar com outras obras de arte, ou com músicas orientais, sei lá rsrs... Tudo bem - o ponto é, faça com um bom coração.
Estamos falando apenas sobre uma mudança de prioridades, certo? Não é tão importante onde você nasceu, quem você é, o que você gosta, qual sua orientação sexual ou no que você trabalha - o que importa é a qualidade do seu coração, da sua mente. É por isso que a dimensão de amor e amizade mudam. Se você viu o vídeo que postei da monja sobre amor genuíno, você pode entender porque essa mudança ocorre. Ela diz que o Amor Romântico ou com Apego diz: "Eu te amo, então eu desejo que VOCÊ ME FAÇA feliz". Amor Genuíno diz: "Eu te amo, então eu desejo que VOCÊ SEJA feliz. Se isso me incluir, ok Se não me incluir, ok - apenas seja feliz".  A gente diz isso e as pessoas acham um absurdo, não é? rsrs... "Quê? Isso não é amor espiritual! Ciúmes não faz mal para ninguém" Não é o que dizem? rsrs... Acham que se vocÊ é assim, você está desmerecendo o outro, mostrando que não ama verdadeiramente... Isso é Amor Incondicional. É mudança de prioridade de novo... Não importa tanto se seu amigo mudou ou não - vai interferir um pouco nos assuntos, se vocês vão ter coisas para conversar ou não, vai interferir em algumas coisas, mas a prioridade é sempre o bom coração, entende?
O problema é que a gente não concorda com isso e ponto final rsrs... Porque a gente acha que isso é uma ofensa a nossa identidade, a nossa personalidade... Mas como eu disse, não precisa acreditar em vidas passadas - basta olhar para alguns anos de nossas vidas para nós vermos que nós somos extremamente voláteis e mutantes. Mudando, mudando e mudando. Por que nos apegamos tanto? Por que nos identificamos tanto? O ponto é sempre o que comemos, no que trabalhamos, o que pensamos, o que acreditamos, o que queremos... E o bom coração ta lá, no final da lista rsrs...
Chega um ponto na prática espiritual que os praticantes dizem: a única coisa que importa é esse bom coração, o resto é secundário. Aqui se está pronto para morrer. Isso não é inércia. É mudar as prioridades. De novo: É SÓ ISSO. Muito importante essas três palavrinhas: é só isso rsrs... É na verdade algo muito simples, só que de alguma forma nos choca, ou nos ofende... Bate muito de frente com o que nós achamos, mas é só isso - uma mudança de prioridade. Desenvolvi o meu coração e com ele farei coisas boas de acordo com meu talentos e preferências... Se a morte chegar, tudo bem, o que é importante foi totalmente desenvolvido, o resto é só brinde, é secundário... É só. Por que isso parece inércia? 
Como eu disse, isso não significa que não vamos cuidar de nós mesmos... Vamos cuidar de nós mesmos, COM UM BOM CORAÇÃO rsrs... Vamos comer o que esse corpo precisa, e não porque estamos ansiosos ou raivosos (como ele pôde me dizer aquilo?) rsrs... Vamos lavar esse corpo de acordo com suas necessidades, e usá-lo para fazer algo significativo nesse mundo, cientes de que vai tudo desmoronar - e vai mesmo, mas nós vamos lá trabalhar, porque isso desenvolve o bom coração. 
Como eu disse, os Iluminados extinguiram o desejo por não-ser/existir. Eles não querem se suicidar, apenas entenderam o que é realmente importante, e o que Impermanência verdadeiramente significa. Pode ter seus gostos e desgostos, pode gostar de pudim, de desenhar, de mangás... Mas entenda que a alegria que vem dessas coisas é transitória, e que existe uma alegria maior que isso. Essa é a prioridade... a alegria que vem das outras coisas é brinde, e transitória! Ela pode surgir de outras coisas, porque seus gostos podem mudar com o tempo... Mas isso não é negar personalidade, é só reconhecer que ela muda Só isso rs
Acho que você ainda deve estar intrigado... Reflita um pouco e... sei lá, pergunte mais!  Rindo

5-Bom eu so quero saber por exemplo se eu escolher a escola Zen se eu precisarei estar me confrontando com outras escolas e ainda me defendendo dos ataques de outras religiosos a respeito de contradição e conflitos internos, pra mim onde não há concordância há confusão.


 Ah não! Sem conflitos rsrs... Aqui no Brasil mesmo você pode ver a MOnja Coen (Zen) em palestras amigáveis com monges de outras tradições, como o Lama Padma Samten (Budismo Tibetano).


6-Se eu desejo me tornar um desenhista para me sentir feliz e me sentir util ao mundo atraves da minha arte, e ser museologo para me sustentar estou tendo desejos negativos?

Por que seria negativo? Basta que seja com um bom coração! rsrs  Feliz Todos nós podemos ter nossos passatempos, mas como eu disse acima, é natural que com o tempo nós reconheçamos que a prioridade é o bom coração e nossos gostos e desgostos apenas um detalhe... Isso é gradual, é gradual!


7-Agora se falando de sexo, é ou não é permitido? O que Buda quer dizer com comportamento sexual impróprio?

É permitido. Comportamento sexual impróprio é adultério e agressividade, basicamente. Não seja agressivo nas relações sexuais, não obrigue o outro a fazer o que ele não quer e não seja como um animal descontrolado querendo sexo com várias pessoas rsrs... Construa um relacionamento saudável com uma pessoa e não desperte muitos desejos sexuais, não seja uma pessoa sem moderação, não é?
Os monges são celibatários porque a abstenção do sexo ajuda a reservar algumas das nossas energias para outros campos, e quando a mente não vai muito para fora para os prazeres dos 5 sentidos ou do sexo ela se aprofunda mais facilmente nos estamos meditativos. Existem pessoas não-monjas que são celibatárias também, isso depende de cada um, mas o sexo não é proibido. Só é para os monges. 


8-Posso fazer meditação com musica ou isso atrapalha?

Pode, mas não aconselho. O importante é que você aprenda a construir um refúgio no seu interior independente das condições externas. O importante é que você aprenda a cultivar boas intenções independente das experiências, lembra? Independente dos humores da mente, do lugar que você estiver ou da pessoa que estiver ao seu lado. Se você usar música, você vai acabar criando uma dependência. De início, aprenda a meditar em lugares silenciosos e sem distrações para você aprender a estar consigo mesmo. Depois, o importante é que você aprenda a cultivar as qualidades benéficas de uma mente bondosa e meditativa em qualquer situação, sem depender das experiências externas, como uma música em particular.  Feliz


9-O budismo nega a existência do Inconsciente e suas inferências a vida consciente?

Olha... Freud falou de Consciência, Pré-consciente (todos conhecem como subconsciência) e Inconsciente. Consciência no Budismo tem um significado diferente do que a Consciência que Freud falou. Quando ele falou de Inconsciente, ele falou que era uma estrutura da psiquê que a pessoa não pode acessar por vontade própria, mas que interfere na vida da pessoa e que pode ser acessada indiretamente por meio de hipnose ou pelos sonhos. No Budismo não é bem assim. Existe uma estrutura da mente que seria como o pré-consciente, que só pode ser acessado por uma mente meditativa e treinada. Então, quem tem uma mente treinada acessa, quem não tem, não acessa, aí fica parecendo que é uma estrutura que não pode ser acessada por vontade própria - ela pode, mas somente com uma mente bem desenvolvida.


10- Um budista pode fazer terapia? Mesmo que nesse processo envolva desabafo e que nesses desabafos entre quatro paredes com o terapeuta se pronuncie a raiva, o odio o ressentimento para com os outros na difícil relação humana e nesse desabafo traga o alivio, mesmo sabendo da questão da fala correta? O tratamento terapêutico envolve liberar através da fala tudo que incomoda a pessoa afim de se descobrir internamente e superar esses conflitos, falar coisas não antes ditas suprimidas no inconsciente, isso adiciona karma negativo? Ou seja o tratamento piora a situação dessa criatura então no budismo? hahahaah

Qual ai ntenção em fazer terapia? O ponto é sempre esse - qual a intenção? Intenção é Karma. 
Então, fica meio assim, qual a intenção em jogar para fora sentimentos como a raiva? Se for para se libertar disso, ok - tente e investigue se funciona.
 Não vejo problema em fazer Psicoterapia, eu já fiz também...  Não entendi Na Meditação mesmo você vai ver que surgirão pensamentos sujos, de raiva, de râncor, de medo... São os impulsos. Impulsos em si não são karma negativo. Se fosse assim Iluminação seria impossível, porque imagine... Nossos hábitos são negativos e por isso pensamos coisas ruins mesmo involuntariamente... Issos são apenas os impulsos da mente mal acostumada. Se cada impulso desse acrescentasse karma negativo, estaríamos atolados!  Rindo O ponto é intenção. Na meditação esses impulsos estão surgindo - o que você fará com esses impulsos? Se você for se envolver com eles e começar a alimentá-los, isso é karma negativo. Se você observá-los se manifestando para investigá-los, ou se você mexer neles, tentando substitui-los por sentimentos positivos, é karma positivo. Então, os impulsos "automáticos" da mente não são negativos - negativo é o que fazemos com isso. Só que tem uns Karmas negativos que nós fazemos que são tão rápidos que parece que são automáticos, mas na verdade não são, eles só são rápidos rsrs... É meio difícil distinguir, mas o ponto é esse: sentir essas coisas negativas não é criar karma negativo, o que nós vamos fazer com esses sentimentos é que realmente importa. Num nível da prática espiritual, alguns se sentem extremamente extasiados e leves devido a meditação profunda, e começam a falar que são melhores do que os outros, que são superiores - isso é Karma negativo. A pessoa está sentindo coisas boas, positivas, mas está fazendo a coisa errada - está cultivando intenções de egocentrismo. Outra pessoa pode estar sentindo raiva, mas se ela estiver investigando como essa raiva se move ou como ela se justifica, ela está fazendo Karma positivo, porque ela está cultivando as intenções da investigação e sabedoria. Não sei se ficou claro rsrs...
11- Com relação a auto estima, que é o equílibrio entre reconhecer seus defeitos e qualidades, no budismo nao pode haver esse reconhecimento? Eu não posso me orgulhar de fazer algo bem feito, eu vou entao sempre ter que me ver como um ser vazio, um nada, nao posso me orgulhar das coisas bem feitas que faço por que isso me atrapalha no caminho da iluminação? Como viver sem auto estima e sem baixa auto estima hahaha?
Claro que não! Tenha autoestima alta, mas com bom coração rsrs... Inclusive, uma das meditações que o Buddha recomendava era Caganussati, acho que é assim que se escreve. Significa "Atenção Plena na Generosidade passada", e consiste em você refletir nos atos de solidariedade e generosidade que você fez para despertar alegria e contentamento na mente, o que a ajuda a silenciar. Então, reconhecer as coisas boas que fizemos é muito importante, mas não devemos usar isso com ignorância para alimentar orgulho, arrogância ou superioridade; mas com sabedoria, para cultivar a mente e o bom coração rsrs...  Orgulho é um problema quando começamos a sentir a necessidade do reconhecimento dos outros ou quando achamos que por isso somos superiores aos outros. Isso é um apego. O importante é nos orgulharmos do que fizemos de bom para repetirmos isso de novo e despertarmos alegria em nós mesmos, por generosidade a nós mesmos.
12- Enfim eu me incomodo apenas com o seguinte, eu não sei ao certo se isso seja o objetivo de se iluminar,esse  a impressão que seja ser "ZEN FOREVER"  Mas eu não conseguirei ser paciente 24 horas por dia, nao xingar 24 horas por dia, resolver tudo com calma 24 horas por dia, ter resiliência o tempo todo hahaha nesse sentindo inevitavelmente eu cometerei karma negativo, nao seria então uma busca por Nirvana, uma busca utópica onde apenas Buda em seu contexto, ambiente especificos tenha conseguido aquilo que ele mesmo pregou?
Nirvana não é algo utópico, é algo possível e ao alcance de qualquer ser. Só que no caminho até lá, há vários tropeços. O que não vai faltar nos textos de monges realizados que você for ler é sobre eles falando sobre os vários erros que eles cometeram durante a prática. A prática não é uma linha ascendente constante, ela é INconstante. Períodos de êxtase, alegria, confiança, fé, sabedoria e tranquilidade vão se intercalar vez ou outra por períodos de depressão, raiva e medo também. É comum. Até chegar em Nirvana, haverá Dukkha (sofrimento) ali e ali. Quando se chega em Nirvana, não há mais Dukkha (sofrimento), isso não é utópico. Mas até lá haverá recaídas - é normal, não sinta remorso por isso. Até a Iluminação nós cultivamos intenções inábeis às vezes, então aprendemos, nos corrigimos e nos perdoamos (porque Remorso é algo que atrapalha na meditação) e seguimos em frente. Após a Iluminação, a pessoa não cultiva mais intenções inábeis. Então, até lá, sem remorso, sem cobranças inatingíveis. Dê o seu melhor, e se errar, perdoe-se, corrija-se, e siga em frente. E lembre, um Iluminado também pode cometer erros... só que ele não tem mais intenções inábeis nem raiva, como exemplo... É um pouco diferente, mas tudo bem. Remorso não foi algo que o Buddha disse que ajuda no caminho, ok? Os erros, a raiva, o ódio, a ignorância, as intenções inábeis fazem parte desse caminho... Acolha-os, acolha-se, aprenda com eles e consigo mesmo. É contando com a raiva que vamos para além dela, gradualmente  Feliz
Sinto que um bom vídeo para você seria esse: https://www.youtube.com/watch?v=T9lYsmXw284
Foi esse que me veio a mente de qualquer forma. É uma palestra da Márcia Baja, praticante do Budismo Tibetano. Nessa palestra ela fala sobre pontos básicos, especialmente Impermanência. Talvez lhe seja útil, caso queira ver. Até!  Reverência
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Mensagem Cascata de dúvidas, o buraco da crise existencial. EmptyTer 29 Dez 2015 - 20:59

Olá, primeiramente agradeço as respostas que você me deu, pude pesquisar e refletir um pouco mais. Não tem como esconder que foi muita informação que obtive nesse últimos três meses de estudos do Budismo e eu precisava digerir tudo isso com muita calma, e assim tive muitos insights e reflexões do estado da minha vida e pra onde eu quero seguir com ela. E é claro que surgiram novas duvidas mas percebo um maior compreensão teórica de algumas coisas.

1-Realmente quando se olha para o mundo com uma certa distância e com a noção de apego, tudo fica muito evidente e as causas do sofrimento realmente vão aparecendo, é incrível. No entanto quando eu comecei a aplicar o Dharma na minha vida, já comecei a sentir as reações internas e principalmente externas a minha volta. Vivemos em uma sociedade capitalista apegada ao bens sensuais e qualquer ensinamento\prática que fugir disso é tratado como algo ameaçador. As pessoas não conseguem me ver sem ambições como tinha antes a começar pela faculdade, amigos e familia, você assusta as pessoas de uma certa forma e até si memso. E acaba que comecei a me sentir "só" pela forma que estou começando a ver basicamente as coisas pelo olhar mais claro do apego e  da transitoriedade que a minoria enxerga. Essa sensação de afastamento e  solidão é normal no inicio ou isso se dá por que ainda não frequento uma Sangha, o que é mais sugerido nesses casos?
2-A meditação tem sido um problema para mim, realmente minha mente esta bloqueada para a prática, preparo a hora, o ambiente mas quando olho para o lugar: nada, não consigo me sentar e deixar a mente. Descobri com minhas dificuldades ansiosas que sou muito mas muito apegado a mente, talvez isso explique meu bloqueio direto com a prática meditativa, seria aconselhável buscar ajuda presencial nesses casos, e quais outras dicas pode me sugerir?
3-Estou assistindo muitos videos budistas, além de ter lido bastante a respeito e estou me interessando muito pelo Zen Budismo, os videos que a Monja Coen fala tem sido de muita ajuda na minha busca. Com relação ao estilos é aconselhável que a partir de agora eu me foque só em uma escola ou isso realmente não tem importância, o que te fez escolher a escola que escolheu em detrimento das outras?
4-Sobre a Roda do Samsara lentamente as coisas começaram a fazer sentindo pra mim, somando um mais um e analisando o mundo como está, busquei traduzir a minha forma segundo a teoria do Samsara aspectos que mais fizeram sentido pra mim. Neste ponto o Karma sempre é alvo dos questionamentos. Segundo o que entendi ( Me corrija se eu estiver errado) O Karma se dá antes de mais nada pela Intenção, logo a qualidade dessa intenção determinará a qualidade do meu Karma certo? Até aqui podemos então falar de sacrifícios, como o budismo (ou Zen Budismo se souber) enxerga o sacrifício? Sabemos que o chavão "De Boa Intenção o Inferno Está Cheio" é bem inflexível no quesito ações humanas já que não podemos generalizar o comportamento das pessoas. Mas vendo este mundo do jeito que tá, e a dificuldade de entende-lo acabamos por nos estacionar em qualquer teoria fácil para nos confortar. Se o inferno está cheio de boas intenções não será por isso que e neste mundo esta faltando? Hahaha... Fico pensando então no sacrifício, por exemplo ter que sacrificar as vidas de pulgas do meu cachorro para aliviar a dor do hospedeiro não seria forma de sacrificar as pulgas pelo cachorro? Não vivemos então sob uma total forma de sacrifício ou a  lei do Karma é inflexível neste aspecto?
5- É certo usar a meta do Nirvana para nos incentivar a pratica do Dharma e as ações hábeis? Ou isso seria uma forma barganhar, uma armadilha inconsciente do tipo: só estou fazendo isso por que serei recompensado, ou seja sair do Samsara? Ou isso é necessário no inicio ate atingir um "modo automático" vamos dizer assim nas práticas hábeis? As vezes me sinto hipócrita e me julgo por estar fazendo algo que eu jamais faria anteriormente mas agora com a atual consciência das coisas faço diferente e não consigo me sentir bem comigo mesmo.
6- As pessoas serve de um bom treinamento no aspecto auto estima, onde lido com algumas pessoas que tem o que eu não tenho e fazem questão de jogar isso na minha cara, fazendo com eu deseje intensamente o que o outro tem, me despertando a inveja. Tenho uma grande baixo auto estima desde da infância, que fui notar apenas anos mais tarde com a terapia. Posso sentir ate mesmo um complexo de inferioridade com relação aos outros. Isso me causa desconforto e esta bloqueando minha vida amorosa, não consigo ter relações duradouras com ninguém pois creio que ninguém se interessa verdadeiramente por mim ou só esta a me usar. Ate aqui sei que tenho que trabalhar minhas questões pessoais para superar isso, principalmente a questão da minha aparência. Como o budismo vê o descontentamento com a própria aparência a comparação ao outro? Isso seria viver sob Karma negativo?
Irei pesquisar mais coisas e trarei outros questionamentos, espero não ter sido demasiadamente confuso, paz : ) Au Revoir.
7-Tenho duvidas e dificuldades referenciais ainda de um leigo budista, talvez seja óbvio isso por que ainda não frequento uma comunidade, mas estou tendo mais referencial da vida de um monge. Neste sentindo o quesito  vida em família, Buda aconselha justamente o retiro por causa dos constantes atritos que as relações humanas geram, e estou vendo isso na minha prática. Entendendo isso os constantes desentendimentos em casa mesmo que permeadas de discussões leves e sem importância de uma forma geral, o quanto isso atrapalha na prática? E como lidar com isso, existem livros ou dicas que possa me ajudar?
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Mensagem Cascata de dúvidas, o buraco da crise existencial. EmptyDom 3 Jan 2016 - 20:32

AsmitaNoVirgo escreveu:
1-Realmente quando se olha para o mundo com uma certa distância e com a noção de apego, tudo fica muito evidente e as causas do sofrimento realmente vão aparecendo, é incrível. No entanto quando eu comecei a aplicar o Dharma na minha vida, já comecei a sentir as reações internas e principalmente externas a minha volta. Vivemos em uma sociedade capitalista apegada ao bens sensuais e qualquer ensinamento\prática que fugir disso é tratado como algo ameaçador. As pessoas não conseguem me ver sem ambições como tinha antes a começar pela faculdade, amigos e familia, você assusta as pessoas de uma certa forma e até si memso. E acaba que comecei a me sentir "só" pela forma que estou começando a ver basicamente as coisas pelo olhar mais claro do apego e  da transitoriedade que a minoria enxerga. Essa sensação de afastamento e  solidão é normal no inicio ou isso se dá por que ainda não frequento uma Sangha, o que é mais sugerido nesses casos?

Isso é comum mesmo... Frequentar uma Sangha ajuda, mas lembre-se sempre que esse é um Caminho Interior, então num certo sentido nós precisamos aprender a ser mais "independentes", vamos dizer assim... Porque essa prática fica realmente difícil se esperarmos um amigo espiritual ou alguém do lado que também reconheça o valor da renúncia, da generosidade e da reflexão. Uma reflexão que tenho muito é a de que tenho muitos exemplos em minha volta de pessoas que exageram no álcool, só pensam em sexo, só querem jogar jogos ou sonham em ter muito dinheiro e nunca estão verdadeiramente satisfeitas... Eu sempre reflito isso porque esses são os exemplos que tenho em minha volta rsrs... E isso desperta um sentimento de compaixão e também inspiração para que eu siga por outro caminho, porque vejo o sofrimento de ir pelo caminho da maioria.
Mas é assim mesmo... Eu não sei qual é o seu círculo de amigos ou como é sua família, então não vou ter muita coisa para dizer. Você terá de descobrir os meios hábeis para lidar com a sua própria situação, porque as circunstâncias nas quais você está são únicas e ninguém nunca passou ou passará por elas, então é você que terá de investigar. Mas algumas ideias eu posso tentar te passar...
Um ponto que eu acho interessante é Karma. Como o Buddha ensinou, Karma é Intenção, e a prática diz respeito especialmente sobre isso - sobre purificarmos nossas intenções. Isso é um ponto importante para assumirmos a responsabilidade por nós mesmos e parar de deixar que os outros controlem nossa felicidade ou nossas decisões. Se os outros pensam diferente e nos criticam, dizendo que mudamos ou que estamos "sem graça" rsrs, isso é o Karma deles, é o pensamento deles. O importante é que nós cuidemos do nosso Karma. Não é porque todos estão colocando a mão no fogo que vamos lá colocar a mão no fogo também. E ainda nos criticam porque nos recusamos a colocar nossas mãos no fogo! Nesse caso, temos que aceitar que os outros ainda não enxergaram os valores de um caminho espiritual e continuar nosso caminho... Quem sabe futuramente possamos servir de inspiração para aqueles que antes nos criticavam enfim enxergarem o perigo de buscar acumular coisas sendo que tem um incêndio se aproximando e que irá incinerar a tudo, inclusive a nós mesmos, não é? A morte chegará para todos, e como diz o Buddha, perderemos o que amamos, perderemos esse corpo, dinheiro, fama, prazeres, e a única coisa que levaremos é o nosso Karma.
Então, primeiramente, é bom aceitarmos isso e reconhecer que nem todos estão prontos para reconhecerem o valor de um caminho espiritual. Outro ponto importante é não tentar converter ninguém: eu mesmo tentei com minha mãe e desisti rsrs... Não adianta. O melhor é seguirmos esse caminho discretamente, prontos para ajudar quem se mostrar disposto a ouvir.
Agora, para lidar com essa solidão, seja paciente e, acima de tudo, gentil consigo mesmo... Porque é a partir desse sentimento que você precisará aprender a ser um refúgio para si mesmo e a contar consigo mesmo. Nós realmente precisamos ir nos tornando amigos de nós mesmos. Reflita sobre a alegria de praticar esse caminho espiritual, ou dos perigos que você está poupando a si mesmo, e isso poderá trazer um sentimento caloroso de acolhimento e aceitação, e isso poderá lhe deixar mais seguro. Alegria é outro ponto importante nesse caminho. No Tapussa Sutta, um leigo diz ao Buddha que a parte difícil do seu ensinamento é a Renúncia. Eis que o Buddha responde que o seu coração também não se alegrava com a renúncia, e que isso aconteceu somente quando ele refletiu insistentemente nos perigos do Desejo e nas recompensas, nos benefícios da Renúncia. Tente ver isso na sua própria experiência, e aos poucos poderá surgir uma alegria no seu coração, um contentamento, uma plenitude, e isso construirá um refúgio no seu interior de tal forma que você não precisará tanto ir para fora, ou depender de fora ou depender dos outros.
Participar de uma sangha realmente ajuda. Se tiver essa oportunidade, vá. Mas é essencial que construamos esse refúgio em nosso interior.
Outro cuidado importante é o de não entrar em conflito com quem se opõe a um caminho espiritual. Não é porque estamos adotando esse treinamento e cultivo da mente que vamos agora entrar em conflitos com nossos amigos que não adotam essa prática, ou que são materialistas ou ambiciosos. Se você enxergar valor em afastar-se deles, não vou dizer que isso não é bom - porque é! Sorridente rsrs... Mas faça na medida em que for possível, e quando não for, lembre-se de fundamentar sua prática no mundo com Generosidade. Esse é o fundamento para nós sairmos das nossas almofadas e agirmos no mundo, e essa também é a alegria que colhemos no mundo. Isso é base do Nobre Caminho Óctuplo, basicamente o segundo fator. Enquanto as pessoas mundanas se baseiam no Desejo Sensual e Má Vontade, tentando ter o máximo do que gostam e ter o mínimo do que não gostam (embora tanto suas experiências quanto suas preferências sejam instáveis), nós tomamos esse compromisso de tentar renunciar aos nossos Desejos tanto quanto possível e agir nesse mundo somente baseados em Amor Bondade. Então, mesmo que alguém solicite sua ajuda para alguma tarefa mundana, que você reconhece como falta de tempo, se puder evitar evite. Se não, vá, mas não vá com Má Vontade. Não entre em conflitos. Não pregue um caminho espiritual. Ajude no que for possível, e mesmo que você entre em contato com muitos prazeres sensuais, apenas esteja atento a suas intenções. Isso não significa que você pode beber ou matar rsrs... Há coisas que terminantemente não podemos fazer. Agora, há outras coisas que cada um vai tentar conforme seu nível e seu compromisso. Alguns se comprometem a parar de assistir um programa que sempre viam... Mas um dia você vai ajudar sua mãe e num intervalo ela te chama para descansar e coloca o programa na TV. Não precisamos ser rígidos e entrar em conflito por isso... Apenas deixe o programa rolar e fique de olho nas intenções da mente. O que quero dizer é para tomar cuidado para não chocar muito seus amigos e familiares, porque as vezes nossa sabedoria desperta de uma tal maneira que mudamos totalmente o nosso estilo de vida, e isso pode chocar as pessoas a nossa volta. Tente ser moderado e gradual, e seja compreensível com as outras pessoas. Isso é importante.
E sempre busque reconhecer a alegria dessa prática. Quando você sentir esse Contentamento, vocÊ nunca se sentirá sozinho, porque você sempre terá esse refúgio, essa boa companhia da sua própria mente, que irá se tornando cada vez mais hábil em se alegrar de auxiliar aos outros e repousar quando houver oportunidade. Alegria é muito importante. Não tem como avançar sem alegria, sem contentamento. Caminho espiritual não é apenas frieza, ascetismo e abstenção. É alegria, contentamento, plenitude e paz interior. É assim que alguém é capaz de abrir mão de suas ambições materialistas - porque reconheceu algo superior. Não um prazer que depende de lugar, pessoa ou circunstância; mas um "prazer espiritual" que pode ser cultivado em qualquer situação, porque consiste meramente na generosidade que pode ser despertada em qualquer momento, quando se tem esse refúgio aqui dentro.

AsmitaNoVirgo escreveu:
2-A meditação tem sido um problema para mim, realmente minha mente esta bloqueada para a prática, preparo a hora, o ambiente mas quando olho para o lugar: nada, não consigo me sentar e deixar a mente. Descobri com minhas dificuldades ansiosas que sou muito mas muito apegado a mente, talvez isso explique meu bloqueio direto com a prática meditativa, seria aconselhável buscar ajuda presencial nesses casos, e quais outras dicas pode me sugerir?
Será que você não está sendo muito rígido? Ou muito exigente? O que você quer dizer com "muito apegado a mente"?
Inquietação geralmente vem de muitos desejos e expectativas. Não espere muito da sua mente. Pelo contrário, espere só confusão e desespero mesmo rsrs... Sente, e acolha o que surgir. Quando nós sentamos com a expectativa de ter uma mente silenciosa e em êxtase, esse desejo por si só já gera uma inquietação. Largue seus desejos e acolha a sua mente como ela estiver. Se você se sentar e perceber que a mente está louca, desvairada, pensando muito em sexo, ou em dinheiro, ou matar em alguém, não importa... a coisa mais suja ou louca que puder ser, aceite. Acolha. Qualquer coisa é boa o suficiente para tornar a olhar a respiração de novo. Vem um pensamento de ódio por essa agitação... Acolha, é bom o suficiente, de volta a respiração outra vez. Não reprima coisa alguma. Isso não significa ficar mergulhando nos seus pensamentos, mas tampouco tente destrui-los. Esse não é o Caminho do Meio. A coisa mais importante na meditação é a sua atitude. Se você se envolver com seus pensamentos, pensando nisso e naquilo, perdeu o foco. Se você se irritar com seus pensamentos, sentir-se frustrado e desistir, perdeu o foco. A atitude correta é de paciência e gentileza - independente do que a sua mente lhe trouxer, apenas olhe, reconheça, conscientize-se, e retorne o foco para a respiração.
Se estiver muito difícil, melhor treinar com alguns métodos antes de entrar na meditação com apenas a respiração como objeto. Uma que o Ajahn Brahm ensina que eu adoro usar vez ou outra é o uso de um mantra. Pode ser um que você invente, ou algum em pali. Por exemplo: "Buddho", que é apenas a palavra para desperto. Vá recitando as sílabas Bud-dho-bud-dho-bud-dho, sempre dando um espaço entre elas. Você pode recitar com a boca ou só mental. Recite uma sílaba e, antes de recitar a outra, dirija sua atenção gentilmente para o pequeno intervalo de silêncio que surgir ali.Bud...dho. Sinta o silêncio entre o BUD e o DHO. Geralmente, mesmo que em menos de 1 segundo, é possível sentir um silêncio ali, porque quando você pensa "Bud", vocÊ tira o foco da mente nos outros pensamentos, e quando vocÊ termina de mentalizar o "Bud", por um instante não há nada, até a mente trazer um novo pensamento de novo. Então você mentaliza "dho", e olha o silêncio de novo. Esse é um método muito bom para acostumar a mente ao silêncio. À medida que você vai treinando, a mente realmente aprende a se sentir plena, preenchida pelo silêncio. É como se quando ela entrasse nesse silêncio, nada mais fosse necessário. Nada lá de fora, e nem mais uma palavra, nada. Apenas esse momento. E assim você vai aumentando os espaços Bud........dho........., até que você sinta-se mais hábil para tentar dispensar o mantra e tentar sem mantra.
Outro método que costuma funcionar para quem começa com uma mente muito inquieta é a Meditação de Varredura. É uma meditação na qual você navega por todo o corpo, conscientizando-se dele todo e relaxando simultaneamente. Isso relaxa porque a mente para de gastar energia focando em vários pensamentos e vai focando em poucas coisas (no seu corpo e num ou dois pensamentos acerca dele), e assim ela vai descansando. Uma boa mestra nesse método era Ayya Khema: http://www.acessoaoinsight.net/arquivo_textos_theravada/sensacoes_emocoes.php
Eu gostaria que você especificasse mais suas dificuldades, mas o que eu acho é que você está forçando muito. Vou te dizer algo que foi muito importante para mim: no começo minha mente também era muito agitada. Eu tentei por muito tempo voltar a respiração de novo e de novo, e não tive progresso porque eu sempre forçava demais, eu era muito tenso e rígido. Às vezes, o melhor é você olhar a sua mente se agitar primeiro, ouvi-la. Ouça o que ela fica pensando. Sente-se com ela. Pense: "Agora eu vou me sentar com você e vou te aceitar incondicionalmente. Da forma como você vier você será bem-vinda.". Aceite essa mente inquieta. Como diz Ajahn Amaro, o melhor jeito de lidar com uma mente inquieta não é tentar pará-la, mas é ouvi-la. Então acolha. Não estou dizendo para você ir junto com seus pensamentos e se perder nas suas fantasias. Apenas tente distanciar-se um pouco, ouça seus pensamentos. Não tente voltar para a respiração, para o silêncio nem nada, apenas ouça primeiro. Sinta a si mesmo. E então pegue um método como esse de varredura ou do mantra, e faça gentilmente. Gentileza é muito mais poderoso do que força. Gentileza e paciência. Vá de novo, e de novo, e de novo, com gentileza. Mas nunca coloque aversão ou impaciência, pois isso agita a mente. Uma mente inquieta é uma mente buscando prazer em um monte de ideias, aqui e ali. Mas quando ela se sente acolhida no silêncio, ela verá mais valor nisso e largará pouco a pouco o valor que ela dava aos pensamentos, e então ela repousará.
Talvez seja isso, talvez você apenas esteja forçando mais do que o necessário e desconhecendo um pouco essas qualidades de amorosidade e contentamento. Faça como diz Ajahn Brahm no seu texto sobre Contentamento: http://www.acessoaoinsight.net/arquivo_textos_theravada/contentamento.php
Não se trata do que é experimentado na meditação, o que muda é como a meditação é experimentada. Se estivermos aborrecidos, estaremos contentes com isso? Se realmente estivermos contentes, o aborrecimento não durará.
Toda inquietação é uma tentativa de fuga. Fuga através do que? Através do descontentamento. Se estivermos descontentes com a nossa inquietação, esta estará sendo alimentada. Se estivermos felizes por estar aqui com essa mente velha e estúpida, então a mente para. É como dirigir um carro e desligar a gasolina.

Algo que eu sempre digo a mim mesmo é: "Não importa o que estou experimentando, importa o que eu estou cultivando.". Se sua mente está pacífica, cultive a alegria no silêncio. Se sua mente está inquieta, cultive a alegria no silêncio. A atitude é a mesma. Apenas volte para a respiração. O problema é que nós não "apenas" voltamos para a respiração. Nós começamos a ficar impacientes e desejosos, desejando que essa mente pare, que ela fique quieta, que o silêncio dure... E vamos ficando raivosos ou desanimados. Apenas aceite essa mente do jeito que ela se apresentar e vá trabalhando com ela aos poucos. Aceite-a. Acolha-a. Acolha a si mesmo.

AsmitaNoVirgo escreveu:
3-Estou assistindo muitos videos budistas, além de ter lido bastante a respeito e estou me interessando muito pelo Zen Budismo, os videos que a Monja Coen fala tem sido de muita ajuda na minha busca. Com relação ao estilos é aconselhável que a partir de agora eu me foque só em uma escola ou isso realmente não tem importância, o que te fez escolher a escola que escolheu em detrimento das outras?
Seja paciente nesse processo e pesquise bem. Depois de uma boa pesquisada, só então aprofunde-se numa só escola. É melhor aprofundar-se só em uma porque os métodos são diferentes. Mas isso não implica que você não possa ouvir outros monges de vez em quando - mesmo monges de tradições diferentes têm contato entre si e visitam os monastérios uns dos outros vez ou outra.
Eu escolhi a Escola Theravada porque acho ela bem simples rsrs... Não há muitos acréscimos culturais e os monges apenas falam das 4 Nobres Verdades, basicamente. E como o Buddha disse, as 4 Nobres Verdades são como a pegada de um elefante - assim como a pegada de um elefante envolve a pegada de qualquer outro animal, o ensinamento das 4 Nobres Verdades envolve todos os outros ensinamentos. Gosto da Theravada porque os monges dela geralmente só ampliam e esclarecem a compreensão desse ensinamento, especialmente, sem abordarem em demasia muitos tópicos diferentes. Feliz

AsmitaNoVirgo escreveu:
4-Sobre a Roda do Samsara lentamente as coisas começaram a fazer sentindo pra mim, somando um mais um e analisando o mundo como está, busquei traduzir a minha forma segundo a teoria do Samsara aspectos que mais fizeram sentido pra mim. Neste ponto o Karma sempre é alvo dos questionamentos. Segundo o que entendi ( Me corrija se eu estiver errado) O Karma se dá antes de mais nada pela Intenção, logo a qualidade dessa intenção determinará a qualidade do meu Karma certo? Até aqui podemos então falar de sacrifícios, como o budismo (ou Zen Budismo se souber) enxerga o sacrifício? Sabemos que o chavão "De Boa Intenção o Inferno Está Cheio" é bem inflexível no quesito ações humanas já que não podemos generalizar o comportamento das pessoas. Mas vendo este mundo do jeito que tá, e a dificuldade de entende-lo acabamos por nos estacionar em qualquer teoria fácil para nos confortar. Se o inferno está cheio de boas intenções não será por isso que e neste mundo esta faltando? Hahaha... Fico pensando então no sacrifício, por exemplo ter que sacrificar as vidas de pulgas do meu cachorro para aliviar a dor do hospedeiro não seria forma de sacrificar as pulgas pelo cachorro? Não vivemos então sob uma total forma de sacrifício ou a lei do Karma é inflexível neste aspecto?
Samsara é uma zona de guerra, se for ver rsrs... Por mais bem intencionados que possamos ser, é inevitável que interfiramos no bem-estar uns dos outros. Mas o que você quer dizer com sacrifício? O ponto é que se há intenção de matar e ferir outro ser, então é mau karma. Há algumas situação que são bem difíceis de lidar, como pragas, então nós tentamos fazer o menor estrago possível, mas em alguns casos é bem difícil mesmo. Mas existem vários métodos, muitos caseiros, de lidar com insetos e outros bichos de forma não-violenta. Já ouvi falar até mesmo de uma "receita" para tirar pulgas de um cão sem matar as pulgas também rsrs... Se você pesquisar, achará várias coisas interessantes. Mas de fato tem umas situações que é meio difícil lidar - então damos o nosso melhor. O Buddha pediu que tentássemos evitar matar seres visíveis (seres invisíveis como bactérias não tem problemas). Mas se estivermos com verminose, como exemplo, tome o seu remédio! rsrs... O fato é que enquanto estamos no Samsara, não há como fazer dano ZERO. Sempre estamos incorrendo em algum dano, produzindo lixo, consumindo oxigênio que outro ser poderia estar consumindo, etc... É da natureza desse mundo. O importante é que cultivemos a intenção por tentar causar menor dano possível e, na melhor das nossas condições, não matar nenhum ser intencionalmente.
Sobre essa frase "De boas intenções o inferno está cheio", eu acho ela engraçada rsrs... Se a pessoa tem boas intenções de verdade, então ela fará algo bom. Às vezes acontece de a gente ter boas intenções e cometer erros, tudo bem. Como disse uma monja numa palestra que eu vi uma vez, um ladrão que abre o peito de sua vítima com a intenção de matá-la é uma coisa; um cirurgião que abre o peito de seu paciente com a intenção de salvá-lo, mesmo que o paciente acabe morrendo, é outra coisa. A ação é a mesma: abrir o peito. A consequência é a mesma: morte. A essencial diferença é a intenção. O problema é que algumas pessoas têm a intenção de fazer algo ruim e depois que fazem se arrependem e dizem: "Mas eu não tinha a intenção!"... Na verdade, elas não tinham a intenção de lidar com as consequências, mas tinham a intenção de fazer o ato ruim... Aí não tem jeito mesmo! Rindo

AsmitaNoVirgo escreveu:
5- É certo usar a meta do Nirvana para nos incentivar a pratica do Dharma e as ações hábeis? Ou isso seria uma forma barganhar, uma armadilha inconsciente do tipo: só estou fazendo isso por que serei recompensado, ou seja sair do Samsara? Ou isso é necessário no inicio ate atingir um "modo automático" vamos dizer assim nas práticas hábeis? As vezes me sinto hipócrita e me julgo por estar fazendo algo que eu jamais faria anteriormente mas agora com a atual consciência das coisas faço diferente e não consigo me sentir bem comigo mesmo.
Não entendi bem o motivo do seu remorso. O que há de errado?
Além disso, do jeito que a mente funciona, não tem como ela fazer algo sem recompensa. É que nem eu disse lá em cima - alguém só é capaz verdadeiramente de renunciar aos prazeres mundanos se ela tiver outro tipo de prazer, no caso, os prazeres espirituais.
Nirvana é a recompensa desse caminho espiritual, e DEVE SER buscado, deve ser desejado. Só que tem que entender esse "desejar" rsrs.. Não é o desejar de Tanha, que causa Dukkha (Sofrimento). É desejar com sabedoria.
É como quando nós dizemos "dar sem esperar nada em troca". O que isso significa? Nós enxergamos o valor disso porque quando praticamos a generosidade esperando algo em troca, sofremos. Quando enxergamos esse sofrimento, então treinamos o coração para dar sem esperar nada em troca, e o que conseguimos em troca? Alegria rsrs. Agora, se praticamos a caridade esperando essa alegria em troca, a mente fica agitada. Somente quando verdadeiramente não esperamos nada em troca, ficamos alegres. Há sempre esses paradoxos porque realmente não tem como colocar em palavras. Mas não teria como essa mente abandonar os prazeres do mundo se não tivesse outro prazer para ela. Há essas recompensas, não é barganha refletir nas recompensas da prática espiritual. Isso é sabedoria. Leia o Tapussa Sutta - o Buddha pediu para refletirmos nas recompensas do caminho espiritual. É para enxergar a alegria desse caminho. Somente a mente que reconhece o valor da renúncia se inclina para isso e alcança a libertação.
Leia por exemplo o Cetanakaraniya Sutta: http://www.acessoaoinsight.net/sutta/ANX.2.php
Nele o Buddha retrata a seguinte ordem: aquele que é virtuoso, se liberta do remorso. Sem remorso, ele sente contentamento. Com contentamento, vem êxtase -> tranquilização do corpo -> felicidade -> concentração -> ver as coisas como de fato são -> desencantamento -> desapego -> libertação. A prática budista inteira está aí. Virtude, Contentamento, Meditação, Sabedoria, Libertação. Um ponto importante aí é que a mente não se aprofunda na meditação sem contentamento, sem êxtase. Isso precisa ser cultivado e despertado na mente, de tal forma que ela seja capaz de chegar naqueles estados em que a mente fica tão pura e tão limpa, que ela torna-se capaz de ver as coisas com clareza, sem a sujeira de nossos desejos e aversões. Só então reconhecemos o perigo de qualquer experiência condicionada (mesmo do prazer meditativo), e então nos libertamos. Mas mesmo um Iluminado, totalmente desperto, desfruta e elogia aqueles que desfrutam do prazer da generosidade, da virtude e da meditação, pois somente uma mente que se delicia com isso será capaz de se purificar e ver as coisas como de fato são.

AsmitaNoVirgo escreveu:
6- As pessoas serve de um bom treinamento no aspecto auto estima, onde lido com algumas pessoas que tem o que eu não tenho e fazem questão de jogar isso na minha cara, fazendo com eu deseje intensamente o que o outro tem, me despertando a inveja. Tenho uma grande baixo auto estima desde da infância, que fui notar apenas anos mais tarde com a terapia. Posso sentir ate mesmo um complexo de inferioridade com relação aos outros. Isso me causa desconforto e esta bloqueando minha vida amorosa, não consigo ter relações duradouras com ninguém pois creio que ninguém se interessa verdadeiramente por mim ou só esta a me usar. Ate aqui sei que tenho que trabalhar minhas questões pessoais para superar isso, principalmente a questão da minha aparência. Como o budismo vê o descontentamento com a própria aparência a comparação ao outro? Isso seria viver sob Karma negativo?
Irei pesquisar mais coisas e trarei outros questionamentos, espero não ter sido demasiadamente confuso, paz : ) Au Revoir.
Aparência é detalhe rsrs... Assim, o importante seria você rever os seus valores. Eu brinco com minha mãe, porque às vezes ela me diz: "Que linda essa roupa! Olha que linda aquela moça! Que lindo esse móvel! Que linda essa casa!", e eu sempre digo "bonitinho" rsrs... Às vezes ela fica meio indignada, dizendo que bonitinho significa "feio arrumadinho" rs... Uma vez ela me perguntou porque eu só digo isso, e eu disse que eu reservo a palavra "lindo" para outras coisas... Porque se for ver, o que é realmente lindo, é uma pessoa de bom coração. O que é realmente maravilhoso, é uma pessoa virtuosa, consumada em generosidade, consumada em meditação... isso sim é lindo. Posses materiais, elogios, fama, beleza, isso tudo é apenas detalhe. O que realmente importa é um bom coração.
Então depende dos nossos valores, entende? Todos nós vamos envelhecer. Estas coisas todas serão perdidas. Não adianta correr atrás delas.
Mas embora isso seja óbvio, isso não vai mudar essa inclinação no seu coração tão facilmente. Você ainda vai sentir raiva das pessoas que exibem seus pertences a você, você ainda sentirá inveja. Você precisará trabalhar isso em si mesmo gradualmente e gentilmente, pouco a pouco.
Comece revendo seus valores, por favor! Isso é muito especial Feliz O que realmente é importante? O que realmente tem valor diante da morte, diante da impermanência?
Impermanência é algo muito bom para refletir... Pense bem nisso e talvez você leve os outros e a si mesmo menos a sério. Pense por exemplo na impermanência dos seus gostos e desgostos. Lembre-se por exemplo das coisas que você gostava e que hoje já não te agradam mais... Ou das coisas que você nem ligava e que hoje você valoriza... Nossas preferências estão sempre mudando, e ainda assim nós achamos que a vida é correr atrás do que gostamos - esse é o sentido que damos para nossas vidas. Estamos brigando porque você tem algo que eu não tenho, e pode ser que de repente eu perca o interesse por aquilo. Mesmo que eu consiga aquilo que eu desejava ardentemente faz anos, quando consigo eu logo enjoo e então vem mais um novo desejo - é assim que nós temos sido, e ainda nos achamos muito inteligentes rsrs...
Por favor, reflita nisso, para o seu próprio bem. E sobre sua autoestima, de novo - aprenda a ser um amigo de si mesmo. Mude seus valores, e assim você mudará suas referências. Pare de usar como referência o carro que você tem, o seu corpo, o seu cabelo, sua casa, seu círculo de amigos, sua voz, sua família, seu poder aquisitivo... isso significa muito pouco, muito pouco. Isso significa tão pouco, de tal forma que embora Fulano tenha essas coisas e você não, se for ver na verdade vocês dois estão na mesma rsrs... Se fosse o inverso, provavelmente você estaria se exibindo para Fulano, e por quê? Por causa de sua baixa autoestima. O Fulano que está querendo incitar inveja em você está no mesmo patamar - precisando chamar atenção dos outros porque não é capaz de se sentir pleno sozinho. Então, embora possa haver uma diferença material - um tem uma coisa, o outro não - no final das contas você estão "na mema", como dizem rsrs, com baixa autoestima.
Então esses assuntos materiais e mundanos significam muito pouco. Por favor, dê o devido valor que essas coisas têm: muito pouco.
E outra coisa que eu lhe peço, pelo seu próprio bem, é para que aprenda a ser amigo de si mesmo. Há tantos tesouros aí dentro de você, só que você precisa cultivá-los para que eles deem frutos. Então, aprenda a ser amigo de si mesmo. Acho que você precisa investigar um pouco mais os ensinamentos do Buddha sobre Generosidade e Metta (Amor-bondade). Se você aprender um pouco desse Amor-bondade e um pouco desse sentimento de autoaceitação, você começará a reconhecer qual é a alegria desse caminho espiritual.
E isso não é barganha! Por que você acha que não merece ser feliz ou sentir prazer? Por que esse remorso? Permita-se ser quem é, e permita-se sorrir. Veja bem, se o que realmente importa é apenas cultivar esse bom coração, do que é que realmente precisamos? Um corpo bonito? Aceitação dos outros? Fama? Dinheiro? Elogios? Do que realmente precisamos? Quase nada. Se for ver, precisamos apenas de um corpo ou de uma mente - mais nada. Podemos estar totalmente pelados, e ainda assim sentir Contentamento, porque isso também é bom o suficiente para simplesmente cultivar o bom coração. Mas tá... Vamos evitar constrangimentos e colocar uma roupinha simples, pelo menos rsrs... O que quero dizer é que realmente precisamos de muito pouco para fazer o que realmente importa. Então, investigue na sua própria experiência a alegria de sentar, de aceitar a si mesmo, de acolher a própria mente, de tentar ajudar os outros e reduzir seus desejos... investigue, e permita-se sentir essa alegria. Desperte essa alegria. Como diz Ajahn Brahm, a melhor posição para meditar é com um sorriso no rosto.
Qualquer experiência é boa o suficiente, e acima de tudo, você é bom o suficiente. Então, acolha a si mesmo, e construa esse refúgio dentro de si mesmo. Seja paciente consigo mesmo, e vá sentindo a si mesmo primeirO. Não se exija muito agora de início - conheça a si mesmo primeiro. Sente na almofada de meditação e ouça sua mente um pouco. Investigue o que é esse acolhimento que estou falando. Essa é a essência do contentamento espiritual. É acolher a si mesmo e acolher tudo o que a vida trouxer, porque qualquer coisa é boa o suficiente para cultivar o bom coração. Quando essa for a sua referência, quando isso for de maior valor para você, então o que os outros exibirem irá perder a importância. E mesmo que eles continuem exibindo, não tente mudá-los se eles não estiverem prontos, nem sequer ache-se superior porque você pratica um caminho espiritual e eles não. Apenas tenha compaixão, porque eles simplesmente estão com baixa autoestima da mesma forma que você.
Eu lembro que antigamente eu tinha muita Má Vontade (Raiva) e sempre que minha mãe dizia algo que ia contra o caminho espiritual, eu rebatia e começava uma discussão. Hoje em dia eu busco dizer: "É, talvez você esteja certa..." e paro ali mesmo. Se ela provoca mais alguma coisa, eu apenas digo "É, pode ser...", e pronto. Eu dou a vitória para ela. É como aquela frase taoísta: "o sábio, porque não está competindo, ninguém pode competir com ele." Então, dê a vitória para as pessoas, como diz um poema do budismo tibetano. "Bom para você que você tem isso... Eu não tenho mesmo rsrs", e só. Dê a vitória para a outra pessoa, porque, verdadeiramente, ganhar ou perder significam muito pouco. Significam muito no mundo, mas no coração e na mente, não significam muito. Não competir é o que realmente significa muito nesse caminho espiritual.

AsmitaNoVirgo escreveu:
7-Tenho duvidas e dificuldades referenciais ainda de um leigo budista, talvez seja óbvio isso por que ainda não frequento uma comunidade, mas estou tendo mais referencial da vida de um monge. Neste sentindo o quesito vida em família, Buda aconselha justamente o retiro por causa dos constantes atritos que as relações humanas geram, e estou vendo isso na minha prática. Entendendo isso os constantes desentendimentos em casa mesmo que permeadas de discussões leves e sem importância de uma forma geral, o quanto isso atrapalha na prática? E como lidar com isso, existem livros ou dicas que possa me ajudar?
Os retiros são boas oportunidades para aprofundarmos a prática meditativa, mas nem mesmo um monge fica totalmente afastado das pessoas. Ainda mais porque os atritos são valiosos! rsrs... Como dizia Ajahn Chah, se você for para um lugar em que tudo esteja bonitinho, calminho, do jeito que você gosta, muito difícil surgir sabedoria disso. É quando ocorrem os atritos que a podridão no nosso interior se manifesta, e é nisso que podemos investigar e nos libertar.
Não é porque os monges têm uma vida mais seclusa e afastada que eles não encontram pessoas difíceis no caminho. Às vezes o próprio mestre coloca dificuldades para testar a paciência e solidariedade dos seus discípulos. Então evitar as pessoas que nos incomodam não é o ponto.
Eu mesmo já tive muita timidez e ansiedade social, de me relacionar com pessoas, e eu usava os ensinamentos do Buddha como justificativa. "Não vou perder meu tempo me relacionando com pessoas mundanas - quero ir para uma caverna meditar!", isso é falta de Amor Bondade. Mesmo os monges precisam aprender a se relacionar com as pessoas, mesmo as difíceis, chatas e raivosas rsrs... Então não devemos pensar que nossa prática só vai melhorar quando nos isolarmos das pessoas chatas. Os retiros são bons para aprofundarmos a meditação vez ou outra, mas temos que voltar e aprender a lidar com pessoas chatas de qualquer maneira, sendo leigos ou monges.
Eu gosto muito desse Sutta: http://www.acessoaoinsight.net/sutta/ANV.35.php, especialmente de um trecho em que o Buddha diz que uma das recompensas da Generosidade para um leigo é que ele não se esquiva das suas tarefas como um chefe de família. Alguns de nós pensam nas nossas tarefas que não gostamos e para nos justificarmos pensamos: "Ah, não vou fazer isso não porque isso é coisa mundana... O certo é eu virar monge e ficar sem preocupações!" rsrs... Não é assim. Temos que nos relacionar com pessoas, trabalhar e saber usar isso tudo para o cultivo da mente. Mesmo os monges trabalham com construções de monastérios, manutenção de suas cabanas, entre outros. Então ser monge ou leigo não é o ponto. Fugir das pessoas não é o ponto.
Eu conversei um pouco com o José P. S. Filho sobre a vida leiga aqui: https://sangha-online.forumeiros.com/t7p42-sobre-este-forum-duvidas-sobre-o-budismo
Dê uma olhada!
Sobre pessoas difíceis, olhe para elas quando elas estão em conflito com você e, ao mesmo tempo, lembre-se de como é ter raiva. Lembre-se de como é discordar de outra pessoa. O bom de fazer isso é quando você tentar conter a raiva em si mesmo. Porque aí quando alguém se dirigir a você com raiva, você poderá olhar para aquela pessoa e lembrar de como é sentir raiva (você inclusive estará começando a sentir quando ela se dirigir de forma difícil a você rsrs). Pense nisso e coloque-se no lugar da outra pessoa. Se ela está te maltratando, ela está com um problema no interior dela. Não faça um erro em cima de um erro cultivando raiva em você também e despertando uma discussão. Dê a vitória a outra pessoa. Dê um tempo. "Você está certa... Não vou discutir... Ok...", mas dê a vitória para a outra pessoa. Realmente investigue - o que é que realmente tem valor? Quando cultivar um bom coração for mais importante para você, não importa como alguém te trate ou quão difícil seja uma pessoa, você será capaz de conter a si mesmo, olhar para a outra pessoa de forma compassiva e dar a vitória a ela. O importante não é estar certo numa discussão, mas cultivar o bom coração.

E como eu disse lá no início, considere o ensinamento do Karma e considere que o importante são as nossas intenções. Então, assuma responsabilidade pela sua paz. Não coloque a culpa nos outros. Sua felicidade não depende dos outros. Aos poucos isso vai entrando no coração, e então vamos entendendo que a raiva nunca é justificável. Se sentimos raiva, o problema está em nós. Por mais insuportável que a outra pessoa seja, se surge raiva em nós, o problema somos nós, não o outro. Então, acolha a sua raiva, acolha a raiva do outro, e aprenda a lidar com a sua raiva - porque a raiva da outra pessoa você não pode fazer nada a respeito. Investigue isso em seu coração!

Espero ter ajudado Grato
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Mensagem Cascata de dúvidas, o buraco da crise existencial. EmptyDom 3 Jan 2016 - 21:45

A questão dos Devas e outros seres citados nos textos clássicos, mesmo que sob seu ponto de vista não faça sentido, é importante lembrar que o Buddha estava lhe dando com uma sociedade cheia de crenças tradicionais na Índia antiga, e citá-los era parte de seus meios habilidosos de ensinar.  

Se observar o Samsara como algo não originado e não progressivo necessariamente como uma escada evolutiva unidirecional, poderá perceber que as virtudes manifestam como que um relâmpago na noite escura - Não devemos encaixar aqui a idéia de um tempo linear, originado, mas auto-gerado. Se observar o comportamento dos animais, verá que cada individuo tem a sua tendência peculiar que interfere no seu comportamento individual e de espécie; esse é um efeito do karma. Ora, se não existe originação e nem tanto a extinção, não é possível entender a virtude e os méritos como algo que se deva atribuir um começo ou um fim  É importante lembrar que às vezes mesmo tendo intenções deludidas e negativas ao fazer uma ação, o seu resultado pode ser positivo e podemos ter um karma misto. Agora devo mencionar que você pode visualizar a questão dos seres do Samsara como estados mentais que experimentamos até mesmo na nossa vida humana.

Se quiser adentrar meditação e aprender mais profundamente, aconselho a procurar uma tradição e um professor.
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