Oi, meu nome é Caio Rafael. Venho estudando Budismo Theravada há algum tempinho e tenho gostado muito... Eu estava perambulando em vários caminhos, várias escolas budistas, mas a que eu mais me identifiquei foi o Theravada. 

Questões relativas ao uso do dinheiro, a importância da Generosidade, tudo me chamou atenção.

Outra coisa foi a extrema importância da Virtude para o avanço na meditação. Pratico meditação há um bom tempo, sem muitos avanços. No Budismo Theravada li que se você meditar, mas ainda ter pensamentos de cobiça, raiva, nao-virtuosos, não vai adiantar nada...



E como na minha cidade  não tem nenhuma Sangha, a terceira jóia, espero que aqui eu possa me sentir encorajado em minha prática e nas minhas dúvidas.


Um abraço a todos.

Olá Caio Rafael, seja bem-vindo ao Fórum Sangha Online! 
O Buddha realmente surpreende em muitos dos seus ensinamentos... não é?
Sobre virtude, é realmente a base pela qual a meditação se desenvolve. Como costuma-se resumir, Sila (Virtude) -> Samadhi (Meditação) -> Pañña (Sabedoria).
Não adianta cultivar qualidades inábeis durante o dia, para chegar à meditação e ficar remoendo tudo isso. Se você passar o dia desejando mal para os outros, passará a meditação pensando na ruína dos outros. Se passar o dia fervendo de desejo e apego por alguma coisa mundana, passará a meditação fantasiando sobre isso. A mente que se mostra para nós na meditação é reflexo das qualidades que cultivamos a cada instante.
Por isso que quem cultiva paciência e tolerância, leva uma vida de caridade, ajuda aos outros, cultiva bem-querer por todos os seres, deixa as ansiedades da rotina passarem sem se deixar levar por elas, costuma chegar a meditação com uma mente mais maleável, tranquila, receptiva e acolhedora. É tudo reflexo de uma vida de amorosidade, em que acolhemos o que quer que aconteça com leveza, e damos o nosso melhor entendendo que o mundo não está sob nosso controle, que as coisas nem sempre são como queremos, e que experiências e preferências mudam. Não estamos aqui para correr atrás de experiências que mudam, baseados em preferências que mudam, não é?   Há algo mais valioso para fazermos aqui.

Um Sutta que me lembra essa relação de causalidade entre qualidades, que vão de virtude à meditação, é o Cetanakaraniya Sutta: http://acessoaoinsight.net/sutta/ANX.2.php
Perceba que a libertação do arrependimento -> Satisfação/Contentamento -> êxtase

Logo, a condição para despertarmos o êxtase, que leva a outras qualidades do prazer meditativo, é o Contentamento. E o que desenvolve Contentamento é Virtude. Contentamento é a alegria de não fazer as coisas erradas, é a alegria de ser uma boa pessoa, é a satisfação que vem de ser capaz de encontrar felicidade em si mesmo em diversas situaçoes. Contentamento é uma alegria interior que não oscila com as mudanças do mundo externo. É uma satisfação interna que independe da satisfação das nossas preferências mundanas.