- Bruno Kyber escreveu:
- Oi gente. Prazer em estar aqui com vocês. Me chamo Bruno, tenho 27 anos e já faz um tempo que venho seguindo os ensinamentos budistas. Me considero budista, pois foi essa minha escolha; entretanto eu tenho dificuldade de acabar com alguns vícios que tenho, entre outras dificuldades. Espero encontrar aqui, talvez novas amizades e conteúdo para ajudar em minhas práticas. Obrigado
Olá Bruno Kyber, seja bem-vindo ao Fórum Sangha Online!
É um prazer receber você! Imagino que algo desse tipo que tenha te levado a escolher o Budismo... prazer, ou talvez inspiração, identificação, paz, plenitude, admiração... não sei.
De qualquer forma, algo importante na prática espiritual é prazer, embora muitos achem isso estranho! Mas como o Buddha diz no Tapussa Sutta, o discípulo, para abandonar os prazeres inferiores (prazeres sensuais) os troca por prazeres superiores (prazeres espirituais). Esse processo se dá por reflexão constante, em que se reconhece as desvantagens e perigos dos prazeres sensuais e as recompensas dos prazeres espirituais.
Esse tipo de exercício é muito bom para conseguir mudar os hábitos da mente, e habituá-la a buscar prazer e refúgio em outras coisas em vez dos vícios de sempre.
Outra coisa que o Buddha ensinava muito para guardar a mente e protegê-la de ações habituais prejudiciais e ruins era o cultivo de hiri-otappa (Vergonha e temor de cometer transgressões). Às vezes esse tipo de reflexão nos ajuda a evitar fazer algo incorreto ou inábil... talvez possa te ajudar!
Vergonha de cometer transgressões consiste mais ou menos em refletir sobre o quão vergonhoso é fazer coisas menores, sendo que o Buddha ensina que temos potencial para muito mais! Às vezes vale olharmos para as condições que temos: pode ser que não sejamos ricos nem inteligentes, mas pode ser que ainda assim tenhamos uma boa condição financeira, tenhamos um trabalho, comida, uma família, um corpo relativamente saudável, enfim... e o que estamos fazendo com isso? Muitos estão dedicando seu tempo para fofocas, resmungando da vida, enfeitando este corpo, gastando horas a fio em jogos de computador... e nós, o que estamos fazendo com isso? Às vezes temos condições tão boas de ouvir os ensinamentos, de praticar caridade, de ajudar pessoas, de treinar a mente, de se esforçar no caminho, de fazer meditação... por que não fazemos se temos condições para isso? Não seria vergonhoso perder nosso tempo com coisas menores, sendo que podemos fazer coisas maiores e mais benéficas? Esse é um tipo de reflexão que ajuda...
Outra sugestão é reconhecer o caminho como um todo. Todos os elementos do caminho crescem juntos. Há praticantes que focam muito em cultivar amor-bondade mas não contemplam a morte ou os aspectos repulsivos do corpo. Outros que se esforçam muito em pensar na morte e na impermanência da vida, mas que não cultivam generosidade nem praticam caridade... é importante cultivarmos todos os elementos do caminho, pois embora às vezes uns pareçam não combinar com os outros, ou às vezes sintamos que temos mais afinidade com certas habilidades mais do que outras, cada elemento do Nobre Caminho Óctuplo ajuda o outro na prática.
Eu, por exemplo, sempre tive dificuldade com desejo sexual. Estive sempre desejando outros corpos que via por aí... Embora me esforçasse muito em ver os aspectos repulsivos do corpo, em contemplar o envelhecimento ou em pensar na morte, parece que nunca eu ia conseguir vencer esse hábito de ficar olhando e tendo fantasias sexuais com outros corpos... sabe o que aliviou muito esse apego, esse hábito prejudicial? Amor-bondade!
Pareceu até paradoxal para mim no início, mas eu percebi com o tempo que faltava um equilíbrio na minha mente. Embora eu soubesse reconhecer bem os aspectos repulsivos do corpo, e a ideia da morte fosse vista com clareza pelo coração, minha mente não encontrava outra forma prazerosa de olhar para as pessoas, nem outro prazer que ela mesma pudesse usufruir para substituir a necessidade de prazer que era saciada com as fantasias.
Então, quando comecei a olhar para as pessoas além dos seus corpos, vendo não só a podridão do corpo, mas também o potencial de iluminação latente ali... a visão do corpo carnal enfraqueceu. Além disso, a visão amorosa que passei a desenvolver para os seres, sem distinção de gênero sexual (homem ou mulher), tornou-se uma fonte de prazer para a mente. Assim ela parou de sentir tanta necessidade de fantasias sexuais para ter prazer, porque ela descobriu outra fonte de prazer mais benéfica, mais pacífica, mais bondosa e mais saudável. Dessa forma, Amor-Bondade e Contemplação da Morte se equilibraram para colaborar na redução do meu vício de desejo sexual!
Lidar com vícios e tentar mudar hábitos não é fácil. Mas vale investigar no próprio coração, pois aos poucos vamos descobrindo meios de mudar e crescer. Mas essa é uma boa sugestão: reconheça o caminho em sua integridade, com todos os elementos que o compõem, e busque identificar onde sua mente busca prazer e qual o motivo que ela continua recorrendo aos hábitos de sempre. Identificar isso e refletir sobre as desvantagens desses hábitos, e as recompensas dos hábitos que você quer desenvolver (ex: não beber, ser mais paciente, sr mais energético etc) também ajuda.
Mais uma vez, é um prazer recebê-lo! Espero que assim como você colocou que é um prazer estar aqui conosco, que você possa descobrir o prazer de ser virtuoso, de meditar, de praticar o caminho... pois como diz Ajahn Brahm, o prazer e o contentamento são como uma "cola" que nos gruda nos bons hábitos. É assim que o prazer naquilo que é espiritual nos ajuda a abandonar os maus hábitos.