Olá frank Knarf, seja bem-vindo ao Fórum Sangha Online!
Parabéns pelo nick, achei criativo sim!
Fico feliz em ler o seu relato, pois é o relato que muitos ocidentais fazem quando encontram o Budismo... a mente realmente "explode" como você escreveu... é tão impressionante o ensinamento do Buddha, e tão engessada a impressão que muitos de nós temos sobre os dogmas e absurdos de várias religiões, que quando encontramos esse ensinamento prático e verificável a mente fica impressionada de ver isso em uma religião, sendo que nosso conceito de religião até então sempre foi negativo rsrs...
Algo que me encanta muito nos ensinamentos do Buddha é a valorização que ele dá para as intenções que cultivamos no coração. Isso é Karma, e isso é o ponto-chave do ensinamento dele... e isso o faz ser tão prático. O importante, de fato, não são os rituais, as cerimônias, as vestimentas, os mantras, as superstições ou as palavras que você reproduz... essas coisas são todas superficiais. O essencial está nas intenções que você cultiva no coração.
A partir disso o Budismo consegue responder a tudo de forma prática e sábia, sem ser dogmático ou pregar fés cegas sem sentido.
Quando alguém pergunta - o Budismo permite homossexualidade? A questão é: os homossexuais podem cultivar intenções benéficas?
Quando alguém pergunta - o Budismo permite falar com muçulmanos? A questão é: é possível falar com muçulmanos com intenções benéficas?
O Buddha não colocou regras sem sentido que não pudessem ser questionadas. Ele ensinou uma doutrina baseada na prática, na meditação e na mente, e o critério para julgamento de qualquer questão sempre é karma, sempre é a intenção por trás de cada coisa que fazemos. O problema não é o ato em si, ou o que os outros pensam do ato... a questão é qual a motivação? Por que fizemos aquilo? Com qual intenção? Qual será a consequência? O que buscávamos fazendo aquilo? Esse é sempre o essencial... a intenção é fazer algo bom, ou conseguir um benefício egoísta? Isso sim é essencial.
É assim que o Budismo é tão flexível, e, ao mesmo tempo, rigoroso. Alguns dizem que no Budismo pode tudo. Eu diria que pode muito pouco. Só pode fazer o que for generoso e benéfico. O resto, não pode rs... Essa convicção no coração é muito bela, porque aos poucos vai ficando claro para a mente o que vale e não vale a pena ser feito... isso sempre com base na investigação da própria mente, e não em ensinamentos dogmáticos.
Na minha prática, qualquer coisa que eu quero fazer, muitas vezes eu me questiono: " é por generosidade? Se sim, então vamos fazer" rsrs...
Natal, como você citou... Tem como comemorar com generosidade? Se tem, então podemos fazer!
Isso me lembra um texto que escrevi sobre budistas comemorarem natal, se quiser ler: https://sangha-online.forumeiros.com/t141-feliz-natal-mas-budistas-podem-comemorar-o-natal
Sobre o fato de vocês estarem numa família predominantemente de outra religião, sejam pacientes e acolhedores. Acolham. No Budismo eu demorei muito para parar de tentar converter a minha mãe... sempre quis que ela fosse budista e deixasse de ser católica... Mas, com o tempo, aprendi a desistir desses esforços...
Com o tempo nós percebemos que não devemos forçar ninguém. O Buddha mesmo não forçava ninguém - ele ensinava para quem estivesse disposto a ouvir. Vejo que devemos agir da mesma maneira. Se alguém perguntar ou demonstrar interesse, devemos falar sempre tomando cuidado com intenções subjacentes prejudiciais - não falar sobre o Budismo com a intenção de inferiorizar outras religiões ou mostrar que o Budismo é melhor. Conforme o Buddha dizia no Brahmajala Sutta (http://www.acessoaoinsight.net/sutta/DN1.php), não devemos reagir nem favoravelmente a elogios ao Budismo, nem negativamente a críticas ao Budismo. Devemos apenas dizer o que o Budismo é e não é, objetivamente, e com intenções benéficas, com intenções de beneficiar as outras pessoas.
Para quem não quiser ouvir, a melhor forma de mostrar os benefícios desse caminho é pelo próprio exemplo, silencioso e modesto. Basta praticar e seguir o caminho silenciosamente, com contentamento no coração, e aqueles que se inspirarem e quiserem seguir também, podemos indicar o caminho de bom grado!
Até hoje minha mãe nunca demonstrou muito interesse pelo Budismo rsrs... No início tivemos muitos conflitos - ela não queria que eu fosse budista. Depois ela aceitou, mas nunca teve interesse. No início tentei convertê-la, depois parei. Chegou um ponto em que me comprometi a ser paciente e gentil, não tentar convertê-la mais e apresentar o ensinamento somente se ela demonstrasse interesse. Nunca demonstrou!
Então tenho seguido o caminho em silêncio, desejando a felicidade dela bem como desejo de todos os outros seres, de amigos budistas, de evangélicos, de judeus, de taoístas, independente da religião... Porque quando seguimos esse caminho de investigar essa mente, aqui dentro, vemos um potencial e uma sabedoria nesse coração que é muito inspiradora. Quando percebemos que essa sabedoria que está aqui dentro, também está em todos os outros seres, então é impossível não amá-los, não é? Quando vemos que este potencial está em todos, cor, raça, nacionalidade, religião, opiniões... tudo isso é superficial... o que realmente importa é que o potencial para a virtude e a sabedoria está em todos os seres. Portanto, que todos possam despertar esse potencial e encontrar a felicidade em seus corações. Todos, sem distinções!
Quando reconhecemos esse potencial em nossos corações, bem como nos corações dos outros, é essa aspiração que surge na mente... a aspiração pela felicidade de todos... quando o coração entende isso, então já não é mais necessário converter ninguém a bel prazer. Cada um cresce no seu caminho espiritual a seu próprio tempo. Assim, seguimos o nosso à medida do possível, e nos colocamos à disposição daqueles que quiserem nossa ajuda, bem como demonstramos gratidão por aqueles que nos ajudam. Praticando dessa forma, podemos viver essa religião sem tentar impô-la a ninguém. Praticando dessa forma podemos cultivar aquilo que realmente importa - as intenções benéficas.
Precisa ser budista para cultivar as intenções benéficas? Precisa ser heterossexual? Precisa ser oriental? Precisa ser branco, japonês ou alemão? Precisa ser homem ou mulher? Precisa ser rico ou famoso? Todas essas coisas são superficiais! O que realmente importa é esse potencial que está dentro de todos nós.
É incrível como que para fazer a coisa mais importante da vida se precise de tão pouco, não é? Não precisa de quase nada para fazer o que realmente importa. Isso é muito bonito... não há protocolos, condições, discriminações ou exigências... basta a pessoa se dedicar neste caminho de treinar a própria mente.
Tem outro texto que escrevi sobre essas minhas divergências com minha mãe, se também quiser ler: https://sangha-online.forumeiros.com/t119-nao-elogie-o-budismo-diga-que-ele-pode-estar-errado-quem-sabe#402
Obrigado por compartilhar sua experiência!
Que sua prática beneficie a todos os seres, incluindo você mesmo! Já me beneficiou também! Por isso expresso minha gratidão, muito obrigado!