- Pedro escreveu:
- Olá, já refleti bastante sobre isso mas ainda não me convenci.
Basicamente é o seguinte, vamos supor que alguém espere algo de você, mas você simplesmente não quer fazer, e a pessoa fica chateada com você, o que o budismo pensa sobre isso?
Ainda nesse sentido, e se o que a outra pessoa espera de você for uma coisa com intenções egoístas dela? Se fizer mal a alguém? Se for uma crença dela, equivocada, e ela acha que isso será para o bem de todos? E se isso REALMENTE for uma atitude para o bem de todos?
Obrigado!
Puxa... me parece que você é uma pessoa esforçada em pôr os ensinamentos em prática na vida diária... Parabéns!
Parece que você está investigando bastante sobre como aplicar os ensinamentos de intenções benéficas no dia a dia... não desista com esses esforços, essas investigações são muito valiosas e aprendemos muito com isso, inclusive quando compartilhamos experiências em um espaço como esse e recebemos contribuições como do nosso amigo DiegoCB.
Bom, uma contribuição que gostaria de oferecer é que vale investigarmos e verificarmos que muitas vezes, mesmo que cultivemos intenções benéficas, não seremos bem vistos pelos outros. Isso é normal.
Afinal, fazer algo prejudicial para satisfazer nossa necessidade de agradar aos outros não é algo correto, não é? Não estamos aqui para agradar aos outros, estamos aqui para purificar a mente e o coração. Aliás, todos nós estamos e podemos fazer isso...
O Buddha dizia que mesmo que ele descobrisse que os ensinamentos espirituais fossem contra os ensinamentos do mundo ou a opinião da maioria, ele seguiria os ensinamentos espirituais... essa é uma convicção muito bonita. Já parou para pensar que o melhor que você pode fazer pelos outros pode fazer com que você seja mal visto? Aliás, já parou para perceber que isso é potencialmente verdadeiro?
Veja bem... por que tantas pessoas sofrem no mundo? Por que não há tantas pessoas iluminadas ou sábias por aí? Porque a maioria de nós cultiva as causas para o sofrimento, pensando que vamos conseguir felicidade, não é? Então, a maioria está vendo as coisas de forma errada, não é?
Se formos pela opinião da maioria, o que vamos fazer é gerar mais sofrimento. Porém, se seguirmos os ensinamenos que levam ao desenvolvimento da mente, iremos contra a maioria. O que fazer?
O essencial são as intenções que cultivamos no coração. Às vezes fazemos algo que será benéfico para a outra pessoa e ela não compreende isso, e por isso acaba se chateando e nos agredindo. Não faz mal. Se houver essa convicção no coração de que fizemos o que era benéfico, não sentiremos remorso e não precisaremos sentir raiva da outra pessoa.
Da mesma forma, se alguém quer que façamos algo, duvidando que nós vamos fazer aquilo, como exemplo... e nós percebemos que aquilo pode ser benéfico a várias pessoas e então fazemos aquilo, não devemos nos deixar contaminar pela ideia de que "Vou fazer isso para provar para fulano que sou capaz de fazer isso". Não é este o ponto, não é isso que importa. A questão é: isso é benéfico ou não? Se não for, não faça. Se for, faça. Não importa provar ou não algo para a outra pessoa, ou agradar a outra pessoa. A questão são as intenções por trás de suas ações. Isso é Karma.
Pode ser que ao fazer aquilo, a pessoa fique abismada, dizendo não acreditar que você seria capaz de fazer aquilo... Se você não tiver Atenção Plena, a mente pode se contaminar por sentimentos de orgulho, arrogância ou ignorância... Mas se a mente estiver atentar, ela não vai valorizar essas opiniões alheias porque ela estará ciente que você fez aquilo não para provar algo a alguém, mas sim para beneficiar alguém. Esse deve ser o julgamento que devemos empreender ao decidir alguma coisa. Se a outra pessoa terá compreensão correta ou equivocada disso, não depende muito de você. É importante você tentar ajudar a outra pessoa a abandonar a sua percepção errônea das coisas, mas não depende 100% de você. Cada um deve trilhar seu próprio caminho, e cada um tem seu próprio tempo de aprendizado. Não devemos tentar forçar as pessoas a serem diferentes. Façamos o que é benéfico, e deixemos que cada pessoa se desenvolva a seu próprio tempo. Isso é ser honesto com o caminho, ser bondoso com as pessoas, e cultivar os fatores para que a mente siga contente, livre do remorso, e firme na virtude. Mas é difícil, né? Nós sempre estamos misturando nossa intenção de agradar o Dhamma com a intenção de agradar os outros...
Por isso essas investigações que você está fazendo são boas... porque ajudam a compreender cada vez mais profundamente as verdadeiras motivações que movem a mente.