Os 5 Preceitos de Virtude
Preceito significa prescrição ou norma dada para alguém que deve segui-lo. O Buda proclamou 5 preceitos aos budistas não-monges, os leigos, para que eles pudessem ter uma orientação de como praticar virtuosamente.
Além da tomada no
Refúgio Tríplice, uma pessoa que se comprometa a seguir o Budismo deve adotar e seguir 5 normas dadas pelo Buda que têm como objetivo orientar o praticante a agir de forma virtuosa e benéfica, fazendo o bem aos outros, purificando sua mente e aprendendo a alimentar bons sentimentos que venham a ajudar no desenvolvimento da meditação e, consequentemente, da sabedoria.
Portanto, se você pretende ser um Budista, primeiro busque refúgio nas 3 Joias do Budismo
(veja como fazer isso no tópico: Como me torno um budista?), obtenha um conhecimento básico acerca dessa religião e depois se comprometa a seguir estes preceitos dados pelo Buda para que sua prática, de fato, conduza à paz e ao desenvolvimento de Insight, de sabedoria. Para isso, você pode recitar os versos a seguir para si mesmo, alimentando um sentimento de comprometimento, mas antes vamos entender o que eles significam e como você deve coloca-los em prática corretamente.
Vejamos os preceitos um a um:
1- Eu assumo o preceito de abster-me de matar seres vivos.
É necessário muito cuidado ao analisar esse preceito e ao coloca-lo em prática. Alguns o acham muito rígido, outros, pelo contrário, o levam a sério demais. O básico desse preceito é você não matar ser algum, desde um inseto até um ser humano - não busque matar nem um ser. Apesar de não ser pedido que você acredite logo de início na Doutrina do Renascimento, Buda deu esse preceito para que alimentássemos uma consideração pelos outros seres que estão sofrendo assim como nós - o reconhecimento de que você poderia ser o inseto que você está matando vai surgindo no decorrer da prática. Portanto, essa regra é importante para você desenvolver compaixão, paciência e se colocar no lugar de outros seres, por mais insignificante que eles possam parecer.
Entretanto, há situações que você não pode evitar. Se uma bactéria infecta o seu corpo, ele naturalmente elimina a bactéria. Enquanto você está caminhando, provavelmente você deve esmagar muitas formigas. Então, como lidar com esse preceito? Aqui devemos seguir a doutrina de Karma, que significa Ação Intencional, e essa última palavra é muito importante: ela mostra que o essencial é a sua intenção. Nós podemos matar muitos seres sem intenção alguma, como quando dirigimos um carro e uma borboleta passa bem na frente do automóvel, sendo atingida pelo vidro - isso não gerará karma negativo. Você só gerará um karma ruim se você agir com a intenção de fazer o mal, nesse caso, de matar outro ser - caso contrário, não há problema algum, é natural que matemos outros seres sem perceber, a diversidade de entidades vivas em nosso mundo é muito grande.
Outra questão é o Vegetarianismo. Ao contrário do que muitos pensam, não é necessário segui-lo. Mesmo que você evite matar animais para comer carne, você ainda estará matando vegetais! Mesmo quando você come um fruto, você está tirando a oportunidade de que uma semente venha a florescer, você percebe a complexidade? Isso porque, não importa a dieta que você escolher, o funcionamento do Samsara é esse: todos estamos interligados, inclusive no compartilhamento de energia. Para adquiri-la, nos alimentamos uns dos outros e, portanto, matamos uns aos outros. O que você deve fazer é viver uma vida simples, como pregada pelo Buda, comendo pouco - dessa forma você não só resiste aos seus apegos, mas também não precisa prejudicar muitos seres, tirando da natureza somente o que você precisa. Mas, tentar viver sem matar ser algum é complicado: essa é a natureza do nosso mundo. Mesmo que você viva apenas de legumes, você já está 'competindo' com outros seres pelo alimento, o que também faz parte do modo de ser do Samsara. Então, não se apegue ao Vegetarianismo devido a esse preceito. Busque satisfazer suas necessidades criando a menor quantidade de sofrimento possível. Entretanto, o sofrimento é inerente ao Samsara.
(Entenda melhor esse assunto polêmico em Budismo e Vegetarianismo - clique aqui)Portanto, não seja rígido demais com os preceitos. Saiba analisa-los com Sabedoria, praticando-os de acordo com a moderação e o Caminho do Meio.
Outra situação importante de salientar é quando há pragas que interferem em nossas vidas, podendo ser infestação de carrapatos em seus animais ou de algum bicho em alguma plantação. Nesses casos há Karma agindo: seu karma foi benéfico e você pôde nascer como ser humano, o karma de outro animal x não foi tão bom, visto que ele nasceu numa forma que requer parasitismo de outros seres. Logo, você deve analisar com sabedoria como você pode lidar com a situação sem que haja muitos malefícios, mas se a situação for complicada, não se cobre demais - há karma atuando aí e cada ser terá de lidar com as próprias consequências de sua existência.
Certa vez um monge perguntou ao seu mestre, Ajahn Chah, como lidar com os preceitos de virtude: o que aconteceria se ele matasse insetos acidentalmente? Ajahn Chah disse: "...você não deve se apegar às regras cegamente. Em matar animais ou descumprir os preceitos, o importante é a Intenção." Logo, não siga esse preceito rigidamente. Analise suas intenções e o que você puder fazer na situação, considerando os ensinamentos de Karma e Renascimento.
2- Eu assumo o preceito de abster-me de tomar o que não me for dado.
Esse preceito é relativamente simples. Buda ensinou que deveríamos nos libertar dos nossos apegos e a parar de desejar as coisas impermanentes, mas saber usá-las sem estarmos atados a elas: afinal, tudo o que conseguimos, uma hora acaba. Tudo o que acaba pode voltar em algum momento, então não devemos nos apegar!
Portanto, isso deve se manifestar em nossas atitudes em relação às coisas materiais. Não devemos cobiçar as coisas dos outros e roubar para o nosso próprio benefício. Isso não é um ato correto e vai contra o caminho da paz, que é o de Desapego e Contentamento com o pouco, com a simplicidade.
3- Eu assumo o preceito de abster-me de comportamento sexual impróprio.
Você pode perguntar "E o que seria um comportamento sexual impróprio?", e aqui precisamos tomar os ensinamentos de Buda como referência outra vez para fazermos essa análise. Como bem frisamos na regra anterior, os ensinamentos de Buda visam abandonar nossos apegos. Portanto, devemos evitar ser dependentes e viciados no prazer sexual - muitos se alteram demais quando estão próximos de alguém que lhes atrai ou que lhes causa repulsa, isso é sucumbir aos seus apegos de Cobiça e Aversão!
O ideal é que você busque comportar-se de forma sexualmente saudável, sem ser controlado pelos seus desejos. Saiba desfrutar dos prazeres sexuais de forma moderada e saudável, sem fazer mal aos seus parceiros. Considere, também, que cada um tem os seus limites. Logo, não seja agressivo para exigir de seus parceiros algo além do que eles aceitam para satisfazer os seus desejos.
Além disso, se você estiver comprometido com alguém, esse preceito alerta para a proibição de adultério. Além de ser uma falta de credibilidade, consideração e bondade, tal ato mostra um descontentamento com o seu parceiro e reforça o "buscar mais", o satisfazer de novos desejos, e isso pode atrapalhar a prática Budista que visa à Paz e ao Contentamento!
Portanto, evite práticas sexuais que o deixem insatisfeito ou muito desejoso. Seja moderado, não traia as pessoas com quem você estabeleceu uma relação e saiba estar contente no agora.
Vale ressaltar aqui que esses 3 Preceitos são a base de uma das seitas do Nobre Caminho Óctuplo: a Ação Correta, especificamente no aspecto de ações corporais.
(Buda): "E como alguém se torna puro de três formas pela ação corporal? É o caso em que alguém, abandonando tirar a vida de outros seres, se abstém de tirar a vida de outros seres; ele permanece com a sua vara e arma postas de lado, bondoso e gentil, compassivo com todos os seres vivos. Abandonando tomar o que não seja dado, ele se abstém de tomar o que não é dado; ele não toma, como se fosse um ladrão, os bens e propriedades de outros num vilarejo ou na floresta. Abandonando a conduta imprópria com relação aos prazeres sensuais, ele se abstém da conduta imprópria com relação aos prazeres sensuais; ele não se envolve sexualmente com quem está sob a proteção da mãe, do pai, dos irmãos, das irmãs, dos parentes, que possuem esposo, protegidas pela lei ou mesmo com quem esteja coroada de flores por um outro homem (como seu interlocutor era um homem, Buda retratou a proibição de relação com mulheres. Mas tais normas também valem às mulheres, em relação a homens sob a proteção da mãe, do pai, e assim por diante)." - (sintetizado de Cunda Kammaraputta Sutta).
4- Eu assumo o preceito de abster-me da Linguagem Incorreta.
Já esse preceito fala de outra seita do Caminho Óctuplo que trata do que sai de nossas bocas. Da mesma forma como nos outros casos, devemos evitar usas as palavras para satisfazer desejos e apegos mesquinhos, para nos distrairmos com qualquer assunto banal por preguiça de fazer algo correto que requer esforço e para fazer o mal a outras pessoas, buscando vingança.
Devemos falar coisas verdadeiras, não mentirosas. Além disso, devemos buscar falar apenas o necessário e o útil, abandonando conversas frívolas e maliciosas que levam apenas à distração sem benefício. Devemos falar coisas que tragam algo útil a nós e aos outros seres e, quanto a questão se o que falamos é agradável ou não para quem ouve, o Buda disse que devemos analisar a situação e falar de acordo com ela. Logo, não fale algo porque isso será bem recebido ou não evite fala-lo porque a pessoa que ouvirá não irá gostar. Saiba usar essa linguagem nos momentos apropriados, independente se o seu interlocutor gostará do que ouvirá ou não: o importante é que você fale a verdade, o necessário e o benéfico. É como uma mãe que dá uma bronca num filho - por mais que aquelas palavras sejam desagradáveis, elas podem ser verdadeiras, necessárias e benéficas e isso é uma linguagem correta.
5- Eu assumo o preceito de abster-me do vinho, álcool e outros embriagantes que levem à desatenção.
Evite substâncias que atrapalhem a meditação e a concentração. A prática budista busca ajuda-lo a ver as coisas como elas são e, para isso, você precisa purificar suas atitudes e sua mente. Entretanto, se você nublá-la com entorpecentes e outras misturas que confundam o seu cérebro, a prática não o levará a lugar algum. Portanto, o consumo de álcool e substâncias afins é um grande bloqueio para o surgimento da Sabedoria, porque o Silêncio não consegue ser estabelecido. Assim sendo, abandone tais substâncias e alimente-se com coisas saudáveis e leves.
Esses são os 5 Preceitos os quais o Buda orientou que seguíssemos para que desenvolvêssemos práticas virtuosas, evitássemos o mal e cultivássemos o bem para nós mesmos e todos os seres. Adote-os com sinceridade e busque estar atento a todas as situações, tentando compreender qual a melhor forma de agir. Não desanime se errar e não seja rígido com as regras. Busque fazer o bem a si mesmo e a todos os seres - purifique sua mente.
Assim, essas são as cinco regras básicas que sustentam o início do treinamento budista. A partir delas Karma positivo é gerado, nossas mentes são treinadas e recondicionadas e aprendemos a fazer o bem e a não sermos controlados por nós mesmos. Através disso poderemos desenvolver Concentração e Sabedoria para nos libertarmos do sofrimento. Pratique a Virtude com diligência!