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| Afinal de contas, o quê é Dukkha? | |
| Autor | Mensagem |
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Convidado
| Ter 16 Jul 2013 - 20:48 | |
| Dukkha Origem: Wikipédia Muitas vezes a primeira Nobre Verdade proferida por Buda Shakyamuni após sua iluminação é traduzida como "A vida é sofrimento", ou "Existe sofrimento", sempre indicando a natureza sofrida da vida. Em um primeiro momento esse ensinamento pode parecer demasiado pessimista e deprimente.
Mas isso se deve à tradução simplista do termo, na verdade a primeira Nobre Verdade diz respeito à dukkha, que não tem uma tradução literal, mas sim é todo um conjunto de idéias.
De uma maneira geral, dukkha diz respeito ao nosso condicionamento de vida dentro de experiências cíclicas, onde nos alternamos entre boas experiências (felicidade) e más experiências (sofrimento). Todos os seres buscam a felicidade e procuram se afastar do sofrimento, no entanto nessa busca de felicidade e dentro da própria felicidade encontrada estão as sementes de sofrimentos futuros.
Podemos pensar da seguinte maneira: sofremos porque não temos algo; sofremos porque conseguimos algo e temos medo de perder; sofremos porque temos algo que parecia bom, mas agora não é tão bom assim; e sofremos porque temos algo que queremos nos livrar e não conseguimos. Podemos ver então que mesmo que tenhamos sucesso na nossa experiência de felicidade, ela mesmo pode se tornar causa de uma experiência de sofrimento.
Além disso, as experiências são impermanentes, as idéias, os conceitos, os pensamentos, todos são impermanentes, mudam. Por isso dentro da experiência de felicidade existe a causa de uma experiência de sofrimento, pois ela também é impermanente e irá mudar.
Então, dukkha representa todo esse ciclo, e a insatisfação que nunca será saciada enquanto seguirmos esse ciclo.
Logo, porque insistem nessa tradução da primeira nobre verdade: " Agora Bhikkhus, esta é a nobre verdade do sofrimento: nascimento é sofrimento, envelhecimento é sofrimento, enfermidade é sofrimento, morte é sofrimento; tristeza, lamentação, dor, angústia e desespero são sofrimento; a união com aquilo que é desprazeroso é sofrimento; a separação daquilo que é prazeroso é sofrimento; não obter o que se deseja é sofrimento; em resumo, os cinco agregados influenciados pelo apego são sofrimento." SN LVI.11
Será dukkha sofrimento ou algo além do sofrimento? Um ciclo que inclui felicidade e sofrimento, um gerando o outro? O quê vocês acham? Espero que não tenha ficado meio confuso. |
| | | William - Admin
Local : SP Define-se budista? : Sim Mensagens : 504
| Qua 17 Jul 2013 - 7:35 | |
| Dukkha realmente é uma palavra difícil de traduzir e muito depende de como você define o significado de sofrimento. Mas, se você entender a etimologia de Dukkha, você consegue 'ampliar' o significado de sofrimento. Como eu disse em Dukkha - Insatisfatoriedade, dukkha significava há milênios atrás 'um eixo mal centrado', ou seja, numa carroça, uma roda cujo eixo não estava bem colocado era dukkha. Como o eixo não estava bem centrado, a carroça balançava muito, e isso dava sensação de náuseas, vontade vomitar que todos temos quando estamos em transporte que balançam muito. Então, Dukkha foi bastante usado para se referir a algo desconfortável, muitos gostam de usar "difícil de suportar". Essa coisa difícil de suportar se refere a algo que oscila muito, que não é estático, constante. Então, como você bem colocou aí, uma experiência de felicidade é 'difícil de suportar' no momento em que ela for perdida, no momento em que ela acabar. Então, tudo o que for impermanente é Dukkha. E tudo o que é impermanente é, para nossas mentes que buscam coisas que durem, insatisfatório - essa insatisfação podemos, de certa forma, traduzir como sofrimento. Eu acho que o problema é como nós vemos o que é sofrimento. No Budismo precisamos traduzir as palavras para nossa era, e com Dukkha foi para sofrimento - se entendermos a sua etimologia, vamos entender sofrimento no Budismo, atribuindo um significado a essa palavra um pouco além do que estamos acostumados. Costumamos dizer que estamos sofrendo porque estamos angustiados, às vezes sofremos sem saber o motivo! Dukkha não é isso, dukkha consiste no sofrimento que, se soubermos olhar e encará-lo bem, vamos ver que é devido à impermanência das coisas. - Queremos que nossos amigos sejam os mesmos que eram quando os conhecemos, mas isso é impossível. - Queremos que nossos(as) namorados(as) de hoje sejam os mesmos depois que casarmos. - Queremos estar sempre num trabalho x. - Queremos morar sempre na cidade y. Mas nem sempre é assim, porque nada é estático! Então, tudo o que é impermanente é Dukkha, porque tudo o que não dura traz sofrimento para aqueles que ainda estão agrilhoados pelos seus desejos, apegados a coisas que vão contra a natureza do universo, como o apego à eternidade. Numa palestra, Ajahn Brahmali - monge theravada do mosteiro de Ajahn Brahmavamso - disse, em resposta a uma pergunta, que o ensinamento de Buda é muito profundo. O ensinamento de Buda consistiu em tentar nos mostrar, gradualmente, que 'tudo' é Dukkha. Mesmo Jhana, o prazer espiritual da meditação profunda, é impermanente. O Buda só encorajou esse prazer, ao contrário do sensual, porque ele surge quando nos desapegamos, e não quando nos apegamos. Então Jhana nos aproxima de Nirvana, mas não é o Nirvana em si. Nirvana é a paz que surge quando não nos apegamos a absolutamente nada, quando conseguimos viver nessa massa de inconstância felizes com o modo de ser do mundo, porque vemos, depois de muito tempo de experiência, que é inútil lutar contra. Ajahn Chah dizia que falar que o Nirvana é felicidade, é uma forma mundana de falar. Na verdade, Nirvana é a Paz perfeita que está além de ambos felicidade e sofrimento. Nirvana é o incondicionado, o atemporal, portanto não pode ser colocado em ciclo algum e, assim, ele é a liberdade de Dukkha. Se bem que é algo que apenas podemos 'ter ideia', mas isso nos faz pensar da profundidade do ensinamento de Buda. Eu lembro que uma vez eu li um texto do Ajahn Chah e fiquei um pouco chocado, porque ele disse: "na verdade, felicidade é 'sofrimento' refinado. Felicidade também é Dukkha." Ou seja, por mais prazeroso que seja um estado, se ele é impermanente, ele vai te trazer sofrimento se você se apegar a ele. Se formos pensar um pouco (não muito rs), de fato, tudo é Dukkha, tudo é insatisfatório, mas tudo só nos trará sofrimento enquanto estivermos apegados a ideia de que a eternidade é prazerosa e de que há um eu aqui dentro. Então, basta abandonar os nossos apegos, e Dukkha, o sofrimento devido a inconstância cessa, mas isso não quer dizer que as coisas deixam de oscilar, de serem permanentes - nós é que enxergamos profundamente que não há outro jeito de ser. É isso o que eu penso, basta enxergarmos a palavra sofrimento de outra forma, de uma forma mais abrangente e simbólica, além daquele "estou triste não sei porque". Dukkha pede para vermos que é devido à impermanência. O que acham?
Última edição por Administrador em Qua 31 Jul 2013 - 14:16, editado 2 vez(es) |
| | | Leo
Idade : 26 Local : MG Define-se budista? : Não Mensagens : 25
| Qua 17 Jul 2013 - 14:22 | |
| estranho, mas é legal também porque a gente pode ver do outro lado, né? tipo, voces disseram que tudo é sofrimento porque não é eterno, então a gente pode ver que todas nossas mágoas não vão durar e aí podemos sentir melhores, né? então não tem porque só traduzir como sofrimento mesmo!!!!! agora ficou confuso então é tanto uma coisa como a outra? |
| | | William - Admin
Local : SP Define-se budista? : Sim Mensagens : 504
| Qua 17 Jul 2013 - 21:16 | |
| Realmente importante sua colocação Leo. O que você retratou aí é o que chamamos no Budismo de Contentamento. Se as coisas mudam de acordo com a natureza delas, então precisamos mudar nossas atitudes, desenvolver sabedoria e parar de desejarmos demais como queremos que o presente seja - precisamos aprender a estarmos contentes com ele, e a ver que nada dura, então não precisamos nos afundar em depressões profundas. Mesmo as situações ruins passam e, depois de percebermos a Impermanência várias vezes - não com lembranças do passado, mas depois de encará-lo profundamente em momentos presentes - conseguimos sorrir com isso, isso é estar contente no agora, sem desejar muito estar em outro lugar. Contentamento é muito importante para a prática, mas contentamento com sabedoria. Precisamos aprender a nos contentarmos para nos desapegarmos, então temos que ser cuidadosos e ter bastante atenção plena. O próprio Buda disse que ele alcançou Nirvana porque não se satisfez com o prazer impermanente dos Jhanas, assim se desapegando deles. Mas é algo que gradualmente entendemos. Entretanto, vale ver que não há como crer em felicidade eterna, porque não há. Tudo é Dukkha, então nos desapegamos. Tudo termina, então paramos de desejar demais alguma coisa porque sabemos que nada dura, nada traz segurança. Quando paramos de buscar apoio em coisas que oscilam, que não nos garantem coisa alguma, podemos estar satisfeitos com o agora. Apesar disso, Dukkha pode ser traduzido como sofrimento, como insatisfatório, que é melhor mesmo. Como nada é permanente, nada é seguro, nada é certo, nada é previsível - isso nos faz sofrer, nos passa insegurança, incerteza e receio. Isso, de alguma forma, é sofrer, não é? Apesar de podermos ver que mesmo os momentos ruins vão passar, assim que começa o momento bom, ele também vai acabar rs
Não é que o Budismo frise o aspecto negativo, mas é assim que as coisas são, não tem como refutar rs Buda queria destacar essa parte de insatisfatoriedade e insegurança para que nos desapegássemos, só assim poderíamos desenvolver Paz. No final das contas, Buda não foi pessimista, mas realista. Só que ele nunca disse que não há felicidades na vida, ele só disse que elas não duram, assim como nossas tristezas. Então, qual é a Paz em que você pode se sentir seguro? Como eu disse, essa Paz não é bem felicidade, é algo um pouco além disso, mesmo além de contentamento. Então, quando você diz que Dukkha também é felicidade, de fato o é, mas nessa felicidade há sofrimento. Ver que mesmo os momentos ruins passam não traz exatamente felicidade, mas contentamento, o que é diferente. Então, eu penso que Dukkha pode ser traduzido como sofrimento sim - mesmo quando estamos contentes porque não nos apegamos mais aos nossos desejos, todos os fenômenos continuam incertos e, portanto, insatisfatórios. Então, existência é Dukkha. Se somos controlados por essa insatisfatoriedade, por esse sofrimento ou não, aí depende de nossa atitude. Mas acho que é melhor vermos Dukkha como sofrimento mesmo, em vez de tentar mesclá-lo com felicidade - porque tanto essa felicidade quanto infelicidade são incertos, pouco duradouros. Como eu disse acima, felicidade é um sofrimento refinado. A verdadeira Paz está além de ambos felicidade e infelicidade. Se tiver ficado meio complicado, avise. Às vezes escrevo de forma confusa xD Além disso, Budismo também é algo complexo. Certas coisas temos que admitir que não adianta buscar resposta, só saberemos quando realizarmos a Paz. |
| | | Convidado
| Qui 18 Jul 2013 - 11:02 | |
| Acho que tendo a consciência de dukkha, da impermanência e do não-eu nós seremos mais felizes por que assim poderemos aproveitar os momentos felizes ao máximo, no entanto sem nos apegar a eles, sabendo que irão acabar. E quando passarmos por horas difíceis ficaremos tranquilos por que nada dura, sem nos apegarmos ao sofrimento. |
| | | William - Admin
Local : SP Define-se budista? : Sim Mensagens : 504
| Sex 19 Jul 2013 - 13:29 | |
| - Shaka escreveu:
- Acho que tendo a consciência de dukkha, da impermanência e do não-eu nós seremos mais felizes por que assim poderemos aproveitar os momentos felizes ao máximo, no entanto sem nos apegar a eles, sabendo que irão acabar. E quando passarmos por horas difíceis ficaremos tranquilos por que nada dura, sem nos apegarmos ao sofrimento.
É isso aí mesmo Shaka!
Então, afinal, sofrimento é uma boa tradução para Dukkha, se você souber ampliar seu significado para a Insatisfatoriedade intrínseca aos fenômenos do mundo que são impermanentes, incertos, imprevisíveis e, portanto, inseguros. Mas, se soubermos encarar o significado de Dukkha em nossas vidas, podemos estar contentes, nos desapegar e a estar em paz tanto nos momentos felizes quanto os tristes - porque ambos são parte da vida, visto que a vida é Dukkha. Digo que a vida é sofrimento? Não, a vida é insatisfatória porque não nos traz segurança e certeza alguma do que vai acontecer. Mas como o próprio Buda disse, podemos acabar com essa insatisfação acabando com nossos apegos e, assim, estaremos satisfeitos com a vida, afinal. rs |
| | | Angely
Define-se budista? : Sim Mensagens : 29
| Seg 9 Set 2013 - 18:41 | |
| Eu não acho sofrimento uma tradução errada, acho que nós ocidentais que vemos a coisa de forma errada... acho que o Buda sempre quis dizer que nada que não seja eterno traz felicidade, porque a coisa sempre vai terminar e o sofrimento vai vir de novo, e o que eu acho... |
| | | José Santos
Define-se budista? : Sim Mensagens : 3
| Qua 1 Jan 2014 - 21:49 | |
| Pelo que entendi, o sofrimento é gerado pela falta de compreensão do que é a realidade. Quando observamos uma maçã distraidamente, e esta maçã cai no chão, sofremos, pois o estado da maçã deixou de ser o que era.
Neste aspecto, já estava plantado na maçã o estado de sofrimento "latente". Assim, tudo seria sofrimento.
Entretanto, se observamos a maçã como ela realmente é, ou seja, algo interdependente à Terra, ao Sol, às chuvas e em última instância, a nós mesmos, compreenderemos que nada há separado de nós, nem há algo que não esteja essencialmente ligado a todo o resto.
Ou seja, contemplamos o nosso próprio eu na maçã e compreendemos a interdependência, entenderemos que tudo sempre foi e sempre será, apesar das mutações ilusórias representadas pelos nossos sentidos. |
| | | William - Admin
Local : SP Define-se budista? : Sim Mensagens : 504
| Sex 3 Jan 2014 - 18:54 | |
| - José Santos escreveu:
Pelo que entendi, o sofrimento é gerado pela falta de compreensão do que é a realidade. Quando observamos uma maçã distraidamente, e esta maçã cai no chão, sofremos, pois o estado da maçã deixou de ser o que era.
Neste aspecto, já estava plantado na maçã o estado de sofrimento "latente". Assim, tudo seria sofrimento. Isso me lembra que uma vez Ajahn Chah disse que algumas pessoas testemunham um objeto seu como um copo se quebrando e ficam tristes - "Puxa! Era um copo maravilhoso de porcelana! Paguei tão caro por isso!", mas que a visão de um Buddha ou de alguém que contemplou a Impermanência é de que desde sempre o copo já estava quebrado. Tudo o que nasce, já está morrendo. Tudo o que foi construído, já está degenerando. O copo intacto já está quebrado - é só que não sabemos quando irá quebrar. Da mesma forma nós nascemos, e "já estamos mortos" - só não sabemos quando vamos morrer.
Precisamos contemplar vários assuntos como esse continuamente para alterar nossos hábitos e enfraquecer nossas Vipallasas (distorções de percepção e cognição) para só então, como você disse, compreender a realidade como ela de fato é e desapegar para chegar onde não há morte, nem renascimento nem Dukkha. |
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