Olá Jéssica, seja bem-vinda ao Fórum Sangha Online
Sobre esse conflito de ideias sobre o que seria o Budismo (Filosofia? Religião? Psicologia?) eu costumo dizer que é tudo isso e mais que isso rs. Pode soar "etnocêntrico", mas é o que eu sinto na minha própria prática. Gosto de Filosofia, estudo Psicologia, conheço várias religiões, mas ainda considero o Budismo algo maior que todas essas coisas, mesmo além da faculdade que curso
Costumo colocar assim:
Budismo é Filosofia porque envolve repensar todos os seus padrões de pensamento e comportamento habituais e também questionar eventos externos que você não costumava observar.
Budismo não é Filosofia porque envolve a capacidade de silenciar a mente (de vez em quando, não é sempre rs) e de ser capaz de estar no agora sem dar importância para qualquer pensamento potencial ou que tenha surgido.
Budismo é Religião porque envolve cerimônias e rituais.
Budismo não é Religião porque não envolve a resposta a questões metafísicas como a criação do Universo e a existência de um Deus - budismo original não liga para essas questões.
Budismo é Psicologia porque envolve várias ações (como as cerimônias) que visam alterar o comportamento e as emoções do indivíduo, se utilizando de técnicas da Psicologia mesmo, como reforço através da introdução de estímulos, motivação intrínseca, entre outros.
Budismo não é Psicologia porque envolve acabar com o sofrimento, e não apenas amenizá-lo.
Eu digo isso porque Psicologia não objetiva acabar com o sofrimento. Budismo sim. Porém esse ponto é mais delicado. Para alguns é impossível acabar com o sofrimento. E é mesmo - mesmo os iluminados ou o Buddha sofrem com dores no corpo e outras coisas, mas o Buddha alega que há sim a possibilidade de se libertar totalmente do sofrimento mental. Mas não é necessário discutir sobre isso rs.
Se você quer praticar Autoconhecimento e lidar com os problemas da vida de uma maneira mais tranquila, realmente aconselho o Budismo. Ele envolve aprender a estar presente no agora, de tal forma que, cada vez mais, seus hábitos são modificados porque você, conscientemente, está ali para mudar a maneira usual que você age, realizando suas ações, palavras e pensamentos tendo em base o desejo pelo bem-estar dos outros e também a frugalidade, a simplicidade, a tranquilidade e a busca por uma vida mais simples sem tantos desejos e exigências.
Budismo envolve encontrar felicidade em fatores espirituais, como fazer o bem a alguém, sorrir porque foi capaz de superar algum obstáculo interno ou agradecer por ser capaz de fazer as pazes com a realidade como ela realmente é.
Budismo também envolve parar de desejar tantas coisas, e parar com o fanatismo moderno de encontrar prazer em terminar coisas, terminar, terminar, terminar rs. Terminar de organizar o local de trabalho, de pagar as contas, de reformar a casa, o segundo ano de faculdade - parar com essas coisas de só encontrar alegria (essa felicidade é do tipo mundana, porque é externa) quando você chega ao destino do caminho. Budismo ensina a aproveitar todo o caminho, e não apenas o final dele. Vivemos nossas vidas visando realizar objetivos e isso sempre gera uma aversão ao agora e uma cobiça a algo que está no amanhã.
Quando ocorre o inverso, isto é, temos uma cobiça ao agora, nós exageramos em prazeres sensuais (comemos demais, jogamos demais, assistimos TV demais) e isso apenas gera a tendência de que gastemos mais tempo nos distraindo, nos entretendo etc. Aí quando acontece algo que vai contra a essas tendências - quando não temos a comida que gostamos, ou está frio demais para praticar um esporte, ou tem pessoas em casa e eu não posso assistir o programa que gosto porque elas não gostam - ficamos furiosos, insatisfeitos, exigentes (isso é a aversão que se manifesta quando o presente que estávamos aproveitando, com cobiça, foi perdido).
Quando você aprende a desfrutar da felicidade espiritual e a cultivar o Caminho do Meio, que é justamente abandonar Cobiça/ Deleite em coisas sensuais (que vêm de conseguir e obter coisas pelos sentidos: Visão (Ver o que você gosta), Paladar (Comer só o que você gosta), Audição (ouvir músicas o tempo todo), Olfato (Se viciar em cheiros exóticos), Tato (vários exemplos [?] rs), Mente (Fantasias)) e aversão por não ter o que cobiça, você cultiva uma vida mais simples e aprende a ser mais tranquilo e contente. Não importa se está frio ou quente, você pode se adaptar, fazer as pazes com isso. Não importa se estão te elogiando ou gritando, você sabe quais são suas qualidades e defeitos e não precisa ficar esbanjando uma imagem social (isso é prazer sensual também) ou desejando raiva por quem te critica, porque você tem compaixão por aqueles que você enxerga como semelhantes a você, como pessoas que também enfrentam problemas similares aos seus. Você não se incomoda se não há aquilo que você gosta de comer - eu mesmo mal tenho preferências de paladar, isso foi uma conquista tão deliciosa rs. Eu era tão chato com o que tinha para comer, hoje sou grato por qualquer coisa que possa manter o meu corpo.
Então você aprende a fazer mais as pazes com a vida, e justamente por refletir na sua impermanência, aprende a não se apegar a apenas um lado das experiências da sua vida, cultivando cobiça por esse lado e aversão pelo outro. Quando seu refúgio está em valores internos e espirituais, o mundo se altera de um lado ao outro, e apenas a consciência disso traz um êxtase e uma felicidade em você, porque você compreende: "As coisas desse mundo oscilam por natureza própria, mas aquele que estabelece uma felicidade interior pode fazer as pazes com a incerteza dos fenômenos.".
É um estilo de vida muito bom, que requer esforço também. Depende de você. No que depender de mim, estarei sempre à disposição para ajudar no que meu conhecimento permitir.