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 A CONFUSÃO MENTAL: CRENÇA E APEGO AO EGO.

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Convidado

Anonymous


A CONFUSÃO MENTAL: CRENÇA E APEGO AO EGO. Empty
Mensagem A CONFUSÃO MENTAL: CRENÇA E APEGO AO EGO. EmptySex 24 Out 2014 - 10:15

Bom dia pessoal!
Hoje li um texto, e achei bem bacana, compartilho-o com vocês.
Se tiverem um tempo leiam,o texto é extenso, mas vale a pena...




A CONFUSÃO MENTAL: CRENÇA E APEGO AO EGO.


 
OS VÉUS DO EGO


Primeiro, concebemos o “eu” e nos apegamos a ele.
Depois concebemos o “meu” e nos apegamos ao mundo material.
Como água cativa na roda do moinho, giramos em círculos, impotentes.
Presto homenagem à compaixão que envolve todos os seres.
CHANDRAKIRTI


A confusão mental é um véu que nos impede de ver claramente a realidade, obscurecendo a nossa compreensão da verdadeira natureza das coisas. Na prática, essa confusão nos incapacita de identificar o comportamento que nos permitiria encontrar a felicidade e evitar o sofrimento. Quando olhamos para fora, solidificamos o mundo, projetando nele atributos que de modo algum lhes são inerentes. Ao olhar para dentro, congelamos o fluxo de consciência quando concebemos um “eu” entronizado entre um passado que não existe mais e um futuro que ainda não existe. Acreditamos que vemos as coisas como elas são e quase nunca colocamos em dúvida essa opinião. Atribuímos qualidades às coisas e pessoas e acreditamos que são intrínsecas a elas, pensando “isto é bonito, isto é feio”, sem nos darmos conta de que a nossa mente confere esses atributos àquilo que percebemos.
Dividimos o mundo inteiro em “desejável” e “indesejável”; atribuímos permanência ao que é efêmero e vemos entidades independentes naquilo que é uma rede de relações que se transformam. Tendemos a isolar aspectos particulares de eventos, situações e pessoas, focalizando apenas essas particularidades. É assim que rotulamos os outros como “inimigos”, “bons”, “maus” e assim por diante, e consideramos essas atribuições permanentes. No entanto, se avaliarmos bem a realidade, essa complexidade se torna óbvia.

A CONFUSÃO MENTAL: CRENÇA E APEGO AO EGO. Pessimismo-otimismo-palmeiras 

Se uma coisa fosse verdadeiramente bela e agradável, se essas qualidades de fato pertencessem a ela, nós a veríamos como desejável em todos os momentos e lugares. Mas existe algo neste mundo que seja considerado belo por todos? Como diz o verso budista: “Para aquele que ama, a bela mulher objeto de desejo; para o eremita, é uma tentação; para o lobo, uma boa refeição.” Da mesma forma, se um objeto fosse intrinsecamente repulsivo, todos teriam uma boa razão para evitá-lo. Mas tudo muda se reconhecermos que estamos apenas atribuindo essas qualidades às coisas e pessoas. Não há, em um belo objeto, nenhuma qualidade intrínseca que o torne benéfico para a mente, assim como também não há nada em um objeto feio que, por causa dessa qualidade, cause dano a ela.
 
Do mesmo modo, uma pessoa que hoje percebemos como inimiga com toda a certeza é, para outro, objeto de afeição, e poderemos um dia criar laços de amizade com esse mesmíssimo indivíduo. Reagimos como se as características fossem inseparáveis da pessoa e do objeto sobre os quais as depositamos. Assim, distanciamo-nos da realidade e somos arrastados pelo mecanismo de atração e repulsão, mantido em constante movimento por nossas projeções mentais. Nossos conceitos congelam as coisas em entidades artificiais, fazendo-nos perder nossa liberdade interior, do mesmo modo que a água perde sua fluidez quando se torna gelo.
 

A CRISTALIZAÇÃO DO EGO
O budismo define a confusão mental como o véu que nos impede de ter uma percepção clara da realidade e obscurece a compreensão da verdadeira natureza das coisas. É também, no plano prático, a incapacidade de discernir os comportamentos que permitem encontrar a felicidade e evitar o sofrimento. Entre os muitos aspectos dessa confusão, o mais radicalmente perturbador é aquele que consiste em se apegar à noção de uma identidade pessoal: o ego. O budismo faz distinção entre um “eu” inato e instintivo – quando pensamos, por exemplo, “eu estou acordado” ou “eu sinto frio” – e um ego conceitual, moldado pela força do hábito. Atribuímos várias qualidades ao ego pressupondo que ele seja o núcleo do nosso ser, autônomo e duradouro.
A todo momento, do nascimento à morte, o corpo passa por transformações incessantes, e a mente se torna palco de incontáveis experiências emocionais e conceituais. E, no entanto, nós insistimos em atribuir ao nosso ego qualidades de permanência, unicidade e autonomia. Mais ainda, quando começamos a sentir que esse ego é vulnerável e precisa ser protegido e satisfeito, entram em cena o binômio aversão/atração – aversão por tudo o que o ameaça e atração por tudo que o agrada, conforta, aumenta a sua confiança ou faz com que ele se sinta bem. Esses dois sentimentos básicos, atração e repulsão, são as fontes de um mar de emoções conflitivas.
O ego, escreve o filósofo budista Han de Wit, “é também uma reação afetiva ao nosso campo de experiência, um movimento mental de recuo baseado no medo” . Por medo do mundo e dos outros, por receio de sofrer, por angústia sobre o viver e o morrer, imaginamos que ao nos escondermos dentro de uma bolha – o ego – estaremos protegidos. Criamos, assim, a ilusão de estarmos separados do mundo, acreditando que dessa forma evitaremos o sofrimento. Na realidade, o que acontece nesse caso é justamente o contrário, uma vez que o apego ao ego e à auto-importância são os melhores ímãs para atrair o sofrimento.
O genuíno destemor surge com a confiança de que seremos capazes de reunir os recursos interiores necessários para lidar com qualquer situação que surja à nossa frente. Isso é totalmente diferente de retirar-se na auto-absorção, uma reação de medo que perpetua profundos sentimentos de insegurança.
Cada um de nós é, de fato, uma pessoa única, e está certo reconhecermos e apreciarmos quem somos. Mas ao reforçarmos a identidade separada do ego, perdemos a sintonia com a realidade. A verdade é que somos fundamentalmente interdependentes das outras pessoas e do ambiente. Nossa experiência é o conteúdo do fluxo mental, do continuum da consciência, e não há justificativa para ver o ego como uma entidade distinta desse fluxo. Imagine uma onda que se propaga, influencia o ambiente e é influenciada por ele, sem que por isso se transforme no meio de veiculação ou transmissão de qualquer entidade particular. Porém estamos tão acostumados a fixar o rótulo de “eu” a esse fluxo mental, que chegamos a nos identificar com este último e temer o seu desaparecimento. Segue-se daí um poderoso apego ao ego e à noção de “meu” – meu corpo, meu nome, minha mente, minhas posses, meus amigos, e assim por diante – que leva ao desejo de possuir ou ao sentimento de repulsa pelo “outro”.
É assim que os conceitos de “eu” e o “outro” se cristalizam na nossa mente. Ficamos com a impressão errada de que existe uma dualidade irredutível e inevitável, criando assim a base para todas as nossas aflições mentais, como o desejo alienante, o ódio, o ciúme, o orgulho e o egoísmo. Nesse ponto percebemos o mundo através do espelho deformantes das nossas ilusões e permanecemos em desarmonia com a verdadeira natureza das coisas, o que leva à frustação e ao sofrimento.
Podemos observar essa cristalização do “eu” e do “meu” em muitas situações da vida cotidiana. Você cochila pacificamente em um barco no meio de um lago. Outra embarcação bate a proa e você acorda de repente. Pensando que a colisão foi a obra de algum barqueiro trapalhão ou mal-intencionado, você fica furioso ao abrir os olhos, pronto para xingá-lo, e então percebe que o barco em questão está vazio. Você ri do seu próprio erro e volta para o seu cochilo. A única diferença entre as duas reações é que, no primeiro caso, você pensou estar sendo alvo da malícia de alguém, e no segundo percebeu que o seu “eu” não era alvo de nada.
Da mesma maneira, se alguém lhe dá um soco, talvez você fique contrariado por um bom tempo. Mas observe a dor física: ela logo diminui e se torna imperceptível. A única coisa que continua a lhe fazer mal é a ferida aberta no ego.
Certa vez, uma amiga veio de Hong Kong para receber alguns ensinamentos no Nepal. Milhares de pessoas estavam reunidas ali, amontoadas no chão do vasto pátio do nosso monastério. Essa amiga circulava por todos os lados, buscando um lugar para sentar com um pouco mais de conforto com as pernas cruzadas em sua almofada, quando alguém a atingiu com um soco nas costas. Ela me disse depois: “Fiquei irritada uma hora inteira. Como pôde alguém que veio ouvir ensinamentos budistas comportar-se comigo de maneira tão rude e sem compaixão, logo comigo que vim de tão longe para receber aqueles ensinamentos! Mas, algum tempo depois, percebi que apesar de a minha irritação ter perdurado, a dor física real não tinha durado quase nada e logo se tornara imperceptível. A única coisa que continuava doendo era o meu ego ferido! Eu passara por um minuto de dor física e por cinquenta e nove de dor de ego!” Se concebermos o ego como um mero conceito, e não como uma entidade autônoma que precisamos proteger e satisfazer a todo custo, iremos reagir de maneira completamente diferente a situações como essas.
Eis outro exemplo para ilustrar o apego que temos à ideia de “meu”. Imagine-se olhando para um belo vaso de porcelana em uma vitrine. De repente, um vendedor desastrado derruba-o no chão. “Que pena! Um vaso tão bonito!”, suspira você, e continua sem maiores problemas em seu caminho. Mas se você tivesse acabado de comprar o mesmo vaso para colocá-lo em sua mesa, vê-lo cair logo em seguida e estilhaçar-se em mil pedacinhos faria com que exclamasse “meu vaso se quebrou”, e o acidente iria mexer profundamente com você. A única diferença seria a etiqueta de “meu” que você colocou no vaso.
É claro que essa percepção errônea de um ego real e independente baseia-se no egocentrismo, que nos convence de que a nossa sorte tem mais valor do que a dos outros. Imagine a seguinte situação: o seu chefe chama a atenção de um colega que você detesta, repreende com dureza outro por quem você não tem sentimentos e faz um áspero comentário a você. No primeiro caso, você sentirá satisfação; no segundo, indiferença, e no terceiro, mágoa. Mas, na realidade, por quem o bem-estar de alguma dessas três pessoas prevaleceria sobre o das outras? O egocentrismo que coloca o eu no centro do mundo tem um ponto de vista inteiramente relativo. O erro que cometemos é fixar o nosso ponto de vista e esperar, ou, pior ainda, insistir que o “nosso” mundo prevaleça sobre o dos outros.
Em uma visita do Dalai Lama ao México, mostraram-lhe um mapa do mundo, dizendo: “Veja, se você considerar a forma como os continentes estão dispostos, verá que o México está no centro do mundo”. (Quando eu era criança um amigo meu da Bretanha disse-me que a pequena ilha de Dumet era o centro do mundo conhecido!) O Dalai Lama respondeu: “Se você seguir essa linha de raciocínio, descobrirá que a Cidade do México está no centro do México, a minha casa está no centro da cidade, minha família no centro da casa e eu no centro da família – eu sou o centro do mundo”.


O QUE FAZER COM O EGO?
Diferentemente do budismo, na psicologia há poucos métodos para tratar do problema de como reduzir o sentimento de importância do eu – uma redução que, para o homem sábio, vai até a erradicação do ego. Essa é uma ideia certamente nova e, no Ocidente, talvez até subversiva, já que consideramos o ego o elemento fundamental da personalidade. Pensamos: se eu eliminar meu ego vou deixar de existir como pessoa. Como é possível conceber um indivíduo sem um eu, sem um ego? Esse conceito não é psiquicamente perigoso? Não há o risco de mergulharmos em algum tipo de esquizofrenia? Um ego fraco ou não-existente não é um sinal clínico de uma patologia mais ou menos perigosa? Não é necessário dispor de uma personalidade totalmente desenvolvida antes de poder abrir mão do ego? Esses são os tipos de reação defensiva que a maior parte dos ocidentais tem diante de noções tão pouco familiares. A ideia de que precisamos de um ego forte vem do fato de dizermos que algumas pessoas que sofrem de problemas mentais têm um eu fragmentado, frágil ou deficiente.
A psicologia da primeira infância descreve a maneira como um bebê aprende sobre o mundo; como ele pouco a pouco se situa no relacionamento com a mãe, com o pai e os outros ao seu redor; como, quando atinge o primeiro ano de vida, começa a compreender que ele e a sua mãe são dois seres diferentes, que o mundo não é uma extensão de si mesmo e que ele pode provocar uma série de acontecimentos que, por sua vez, têm desdobramentos. A essa tomada cada vez maior de consciência dá-se o nome de “nascimento psicológico”. Concebemos, portanto, o indivíduo como uma personalidade idealmente estável, segura de si, e ancorada na crença da existência do eu. A educação proveniente dos pais, como também aquela que mais tarde recebemos nas escolas, reforça essa noção, que prevalece em toda a nossa literatura e em nossa história. De certo modo, pode-se dizer que a crença de um eu estabelecido é uma das características predominantes da nossa civilização. Não falamos de construir personalidades fortes, resilientes, adaptáveis e assertivas?
Isso significa confundir ego com autoconfiança. O ego não pode obter senão uma confiança inventada, construída sobre atributos precários e insubstanciais como poder, sucesso, beleza, força física, brio intelectual, a opinião dos outros e, sobretudo, a partir daquilo que acreditamos constituir a nossa “identidade”, nossa imagem, como a vemos e os outros a vêem. Quando as coisas mudam e a distância do real aumenta, o ego fica irritado, congela e hesita. A autoconfiança desmorona, e só restam a frustação e o sofrimento.
Para o budismo, paradoxalmente, uma autoconfiança digna desse nome é algo totalmente diferente. É uma qualidade natural do estado de ausência de ego! Dissipar a ilusão do ego é liberar-se de uma vulnerabilidade fundamental. A verdade é que o sentimento de segurança que deriva dessa ilusão é muito frágil. A confiança autêntica nasce do reconhecimento da verdadeira natureza das coisas, e de uma tomada de consciência da qualidade fundamental da nossa mente, que é também o nosso potencial para transformação e florescimento – chamada, no budismo, de natureza búdica, presente em todos os seres. Esse reconhecimento confere uma força serena que não é ameaçada nem pelas circunstâncias exteriores nem pelos medos internos. Trata-se de uma liberdade que transcende a fascinação e a ansiedade.
 
Outra ideia muito difundida é a de que na ausência de um eu forte mal poderíamos ter emoções, e a vida se tornaria incrivelmente monótona. Sentiríamos falta de criatividade, de espírito de aventura – em uma palavra, de personalidade. Pense sobre aqueles em torno de você que são dotados de um ego bem desenvolvido, para não dizer hiperdesenvolvido. Há muitos à nossa escolha: não faltam imperadores do “eu sou o mais forte, o mais célebre, o mais influente, o mais rico e o mais poderoso”. Por outro lado, quem são as pessoas que, apesar de diferentes ao sexo, idade e raça, manifestaram uma genuína confiança interior que não se baseia num ego “inflado”? Sócrates, Diógenes, o Buda, Jesus, Gandhi, Martin Luther King, madre Teresa, O Dalai Lama, Nelson Mandela, e incontáveis outros heróis não celebrados que trabalham no anonimato. Será necessário explicar a diferença?
A experiência mostra que aqueles entre nós que tiveram sucesso, mesmo parcial, em libertar-se da ditadura do ego pensam e agem com uma espontaneidade e liberdade que contrastam de maneira feliz com a constante paranoia engendrada pelos caprichos de um eu triunfante.
Paul Ekman, um dos especialistas mundiais na ciência das emoções, dedicou-se a estudar “as pessoas dotadas de qualidade humanas excepcionais”. Entre os traços mais notáveis que essas pessoas têm, ele observa, estão “uma impressão de bondade e gentileza, uma qualidade de ser que os outros percebem e apreciam; diferentemente de numerosos charlatões carismáticos, há uma harmonia perfeita entre vida pública e privada”. Mas, acima de tudo, observa Ekmanm elas manifestam “uma ausência de ego: essas pessoas inspiram as outras pelo pouco caso que fazem do status e da fama que possuem- em resumo, de seu ego. Nunca se preocupam que o mundo lhes reconheça a posição ou importância”. Essa ausência de egocentrismo, ele acrescenta, “causa total perplexidade do ponto de vista psicológico”. Ekman sublinha também que “ as outras pessoas instintivamente querem estar junto delas e, mesmo sem saber explicar por quê, consideram a sua presença enriquecedora. Em essência, elas irradiam bondade”.  Tais qualidades oferecem um notável contraste com os campeões do ego, cuja presença é no mínimo entristecedora, quando não desagradável. Tendo de um lado a teatralidade grandiloquente, as ostentações e a ocasional ferocidade do ego rei, e de outro a calorosa simplicidade daqueles que não têm ego, não é muito difícil escolher.
Também os psicopatas, que são incapazes de sentir qualquer empatia pelos outros ou qualquer arrependimento pelo sofrimento que infligem a eles, são adeptos da supremacia do ego. Como observa Aaron Beck, o fundador da terapia cognitiva: “Os profissionais que trabalham com psicopatas ficam impressionados com o extremo egocentrismo encontrado neles. São totalmente voltados a servir a si mesmos e, acima de tudo, pensam que têm direitos inatos e prerrogativas que transcendem ou se adiantam às das outras pessoas”. 
A ideia de que um ego poderoso é necessário para ser bem-sucedido na vida sem dúvida vem da confusão entre o apego ao ego, à nossa própria imagem, e a determinação indispensável à realização das nossas aspirações mais profundas. O fato é que quanto menos influenciados formos pela ideia de que o nosso eu é importante, mais fácil será adquirir uma força interior duradoura. A razão para isso é simples: o sentimento de auto-importância é um alvo exposto a todo tipo de projéteis mentais – ciúme, medo, ganância, repulsão – que não cessam de desestabilizá-lo.


A IMPOSTURA DO EGO
Na nossa experiência diária, o eu nos parece real e sólido. Certamente ele não é tangível como um objeto; no entanto estamos tão vulneráveis a ele, que somos afetados a todo instante. Um simples sorriso causa prazer imediato; um olhar zangado, exatamente o contrário. A todo momento, o ego está presente, pronto para ser ferido ou gratificado. Em vez de vê-lo como múltiplo e ilusório, fazemos dele um baluarte unitário, central e permanente. Mas examinemos o que supomos contribuir para a nossa identidade. O nosso corpo? Um ajuntamento de ossos e carne. Nossa consciência? Uma sucessão de pensamentos fugazes. Nossa história? A memória daquilo que já não é mais. Nosso nome? Vinculamos a ele todo tipo de conceitos – nossa ascendência, reputação, nosso status social – mas, em última análise, não é nada mais do que um conjunto de letras. Quando vemos a palavra JOÃO, a nossa mente fica sobressaltada, pensando: “Sou eu!” Mas basta que separemos as letras, J-O-Ã-O, e perdemos todo interesse. A ideia de “nosso” nome é apenas uma criação mental, e o apego à nossa linhagem familiar e reputação não faz mais do que restringir a nossa liberdade interior.
O sentimento profundo de um eu que está no coração do nosso ser: eis o que é necessário examinar honestamente. Quando exploramos o corpo, a fala e a mente, descobrimos que esse eu não é nada mais que uma palavra, um rótulo, uma convenção, uma designação. O problema é que esse rótulo pensa ser aquilo que realmente importa. Para desmascarar a impostura do ego, temos que continuar a indagação até o fim. Quando você suspeita da presença de um ladrão em sua casa, tem que inspecionar cada cômodo, cada canto, cada esconderijo pessoal, para ter certeza de que não há mesmo ninguém. Só então pode se tranquilizar. No caso da investigação introspectiva, visamos descobrir aquilo que se esconde por trás da quimera de um eu que, acreditamos, define o nosso ser.
Uma análise rigorosa nos forçará a concluir que o eu não reside em nenhuma parte do corpo. Ele não está nem no coração, nem no peito, nem na cabeça. Ele também não é algum tipo de entidade difusa, como uma substância que permeie o corpo. Acreditamos que o eu está associado à consciência, mas ela também é um fluxo que nos escapa: em termos de experiência viva, o momento passado da consciência está morto (só permanece o seu impacto), o futuro ainda não está lá, e o presente não dura. Como pode existir um eu separado, suspenso como uma flor no céu, entre algo que não existe mais e algo que ainda não existe? Ele não pode ser detectado nem no corpo nem na mente; não é nem uma entidade distinta na combinação dos dois, nem algo externo a eles. Nenhuma análise série, nenhuma experiência contemplativa ou introspectiva direta pode justificar um sentimento tão forte de possuir um eu. O eu não pode ser encontrado naquilo a que o associamos. Qualquer um pode pensar que é alto, jovem e inteligente, mas nem a altura, nem a juventude e nem a inteligência são o eu. O budismo, portanto, conclui que o que o eu é apenas um nome pelo qual designamos um continuum, como ao darmos a um rio o nome de Ganges ou Mississipi. Esse continuum certamente existe, mas de modo puramente convencional e fictício. É inteiramente desprovido de existência autônoma.




A DESCONSTRUÇÃO DO EGO 
A CONFUSÃO MENTAL: CRENÇA E APEGO AO EGO. Ego-canto-chao-1-maggie_taylor_8
Para perceber isso com maior clareza, retomemos a nossa análise. O conceito de identidade pessoal tem três aspectos: o eu, a pessoa e o ego. Esses três aspectos não são fundamentalmente diferentes um do outro, mas refletem as diferentes maneiras de nos apegarmos à percepção de que temos uma identidade pessoal.
O eu vive no presente; é ele que pensa “eu estou com fome”, ou “eu existo”. É o locus da consciência, dos pensamentos, do julgamento e da vontade. Ele é a experiência do nosso estado atual.
A noção de pessoa, como sintetiza claramente o neuropsiquiatria David Galin, é mais ampla. É um continuum dinâmico, que se estende no tempo e incorpora vários aspectos da nossa existência no plano corporal, mental e social. 4 Suas fronteiras são mais fluidas: a noção de pessoa pode se referir ao corpo (“ele é bem apessoado”), a pensamentos íntimos (“um sentimento muito pessoal”), ao caráter (“uma boa pessoa”), às relações sociais (“separar a vida pessoal da vida profissional”), ou ao ser humano em geral (“o respeito pela pessoa”). Sua continuidade no tempo nos permite religar as representações de nós mesmos que pertencem ao passado e às projeções que concernem ao futuro. Ela denota como cada um de nós difere dos outros e reflete nossas qualidades individuais. A noção de pessoa é válida e saudável enquanto a consideramos como um simples conceito que designa o conjunto de relações entre a consciência, o corpo e o ambiente. Ela se torna inapropriada e doentia quando a consideramos um entidade autônoma.
Resta o ego. Já examinamos como ele é considerado o próprio núcleo do nosso ser. Nós o concebemos como um todo indivisível e permanente que nos caracterizaria desde o nascimento até a morte. O si mesmo não é somente a soma dos “meus” membros, “meus” órgãos, “minha” pele, “meu” nome, “minha” consciência, mas o proprietário exclusivo de tudo isso. Falamos de “meu braço” e não de “uma extensão alongada do meu eu”. Se nos decepam o braço, o ego perde um braço mas continua intacto. Uma pessoa sem membros sente a sua integridade física diminuída, mas tem certeza de que conserva o seu ego. Se formos cortando o corpo em fatias, em que momento o ego começará a desaparecer? Enquanto retivermos a faculdade de pensar, percebemos a existência de um ego. Chegamos, então, à célebre frase de Descartes que fundamenta toda a noção de eu na civilização ocidental: “Penso, logo existo”. Mas o fato de pensar não prova estritamente nada quanto à existência do eu. Porque esse “eu” não é nada mais do que o conteúdo atual do nosso fluxo mental, que muda a cada instante. Com efeito, não basta que percebamos alguma coisa, ou que façamos dela uma ideia, para que ela exista. Vemos claramente uma miragem ou uma ilusão, mas nenhuma das duas tem qualquer traço de realidade. Han de Wit conclui: “O ego é o resultado de uma atividade mental que cria e ‘mantém viva’ uma entidade imaginária na nossa mente.” 
A ideia de que o ego possa ser apenas um conceito vai ao encontro da intuição da maior parte dos pensadores ocidentais. Descartes, de novo, é categórico a esse respeito: “Quando examino o meu espírito – quer dizer, eu mesmo, dado que sou meramente uma coisa que pensa – não posso identificar partes distintas; concebo-me como uma coisa única e inteira.” O neurologista Charles Scott Sherrington acrescenta: “o si-mesmo é uma unidade. [...] ele vê a si mesmo como tal e os outros o tratam assim. Dirigimo-nos a ele como a ‘uma’ entidade, chamando-o por um nome a qual ele responde.” 6 Indiscutivelmente, temos a percepção instintiva de um ego unitário, mas quando tentamos defini-lo, torna-se bem difícil apontá-lo.


EM BUSCA DO EGO PERDIDO
Então, onde se encontra o ego? Não pode ser exclusivamente em meu corpo, pois, quando digo que me “sinto orgulhoso”, é a minha consciência que está orgulhosa e não meu corpo. Encontra-se o ego, então, na minha consciência? Isso está longe de ser evidente. Quando digo “alguém me empurrou”, é minha consciência que levou o empurrão? É claro que não. O ego não pode se encontrar nem fora do corpo, nem da consciência. Se ele fosse uma entidade autônoma separada tanto de um como de outra, não poderia ser a essência dos dois. É então a soma das partes, a estrutura e continuidade deles? A noção do ego está associada ao conjunto formado pelo corpo e pela consciência? Percebemos que começamos a nos distanciar da noção de um ego como um proprietário ou uma essência, para passar a uma noção mais abstrata, a um conceito. A única solução para este dilema é considerar o ego como uma designação mental ou verbal ligada a um processo dinâmico, a um conjunto de relações mutáveis que integram percepções do ambiente, sensações, imagens mentais, emoções e conceitos. O ego não passa de uma ideia.
Ela surge quando amalgamamos o “eu”, a experiência do momento presente, com a “pessoa”, a continuidade da nossa existência. Como explica David Galin, nós temos uma tendência inata a simplificar arranjos complexos, fazendo deles entidades e concluindo que são duradouros. É mais fácil funcionar no mundo tomando como certo que a maior parte do nosso ambiente não muda minuto a minuto, e tratando a maior parte das coisas como se fossem mais ou menos constantes. Eu perderia toda a noção do que é o “meu corpo” se passasse a percebê-lo como um turbilhão de átomos que nunca é o mesmo nem por um milionésimo de segundo. Mas esqueço que a percepção ordinária de meu corpo, e de todo fenômeno, é apenas uma aproximação e que na realidade tudo muda a todo momento.
É assim que reificamos o eu e o mundo. O eu não é inexistente – como a experiência nos lembra a cada momento – mas existe como ilusão. É nesse sentido que o budismo diz que o eu “é vazio de existência autônoma e permanente”, e que ele, assim como todos os fenômenos que surgem para nós, é como uma miragem. Vista de longe, a miragem de uma lago parece real, mas, quando nos aproximamos, é muito difícil encontrar água ali. As coisas não são nem tal com nos parecem existir nem totalmente inexistentes: como ilusões, aparecem sem ter qualquer realidade última. Eis como o Buda ensinou isto:
Como a estrela cadente, a miragem, a chama,
A ilusão mágica, a gota de orvalho, a bolha na água,
Como o sonho, o relâmpago, ou uma nuvem –
Considere assim todas as coisas.




AS FACES FRÁGEIS DA IDENTIDADE
A noção de pessoa inclui a imagem que temos de nós mesmos. A ideia da nossa identidade, do nosso status na vida, está profundamente enraizada em nossa mente, e influencia de modo constante as nossas relações com os outros. A menor palavra que ameace a imagem que temos de nós mesmos é intolerável, mesmo que não tenhamos o menor problema em ver qualificativo idêntico aplicado a outra pessoa, em circunstâncias diferentes. Se você grita insultos ou bajulações na direção de um rochedo, as palavras ecoam de volta a você, que em nada se afeta com isso. Mas se outra pessoa o insulta com as mesmas palavras, isso lhe traz uma perturbação profunda… Se temos uma imagem forte de nós mesmos, tentaremos nos assegurar de que ela seja reconhecida e aceita. Nada é mais doloroso do que vê-la posta em dúvida.
 
Mas que valor tem essa identidade? É interessante lembrar que a palavra “personalidade” vem de persona, que significa “máscara” em latim – a máscara através da qual (per) a voz do ator faz ressoar (sonat) sua fala. Mas enquanto o ator sabe que usa uma máscara, nós costumamos esquecer de separar entre o papel que desempenhamos na sociedade e a nossa verdadeira natureza.
Se nos acontece de ter a experiência de encontrar, em países longínquos, pessoas em condições mais ou menos difíceis como uma caminhada na montanha, uma travessia pelo mar, sentimos que nesses dias de aventura partilhada, tudo o que importa é que elas são nossas companheiras de viagem, tendo como bagagem somente as qualidades e os defeitos que manifestam ao longo das peripécias conjuntamente vividas. Pouco importa “quem” elas são, a profissão que exercem, a importância da fortuna que possuem ou a posição que ocupam na sociedade. No entanto, se depois da aventura esses companheiros se reencontram, a espontaneidade muitas vezes desaparece, porque todos recolocam a sua “máscara”, endossam o seu papel e o seu status social de pai de família, pintor de paredes ou dono de indústria. O encanto se rompe, desaparece a espontaneidade. Essa profusão de etiquetas e rótulos distorce os relacionamentos humanos porque, em vez de vivermos os acontecimentos da forma mais sincera possível, comportamo-nos com afetação para preservar a nossa imagem.
Em geral temos medo de lidar com o mundo sem pontos de referência e somos acometidos por vertigens sempre que as máscaras e os epítetos desabam. Se não sou mais músico, escritor, funcionário, educado, bonito ou forte, quem sou eu? No entanto, não portar nenhum rótulo é a melhor garantia de liberdade e a maneira mais flexível, leve e alegre de passar por este mundo. Recusar-se a ser vítima da impostura do ego não nos impede em nada de nutrir uma potente determinação em atingir os objetivos que definimos para nós mesmos e de usufruir a cada instante da riqueza das nossas relações com o mundo e os seres. O efeito, na realidade, é justamente o oposto.


ATRAVÉS DO MURO INVISÍVEL
Como posso utilizar essa análise que vai na direção contrária à das concepções e dos pressupostos ocidentais? Até agora, bem ou mal, funcionei com essa ideia, ainda que vaga, de que existe um eu central. Em que medida essa compreensão da natureza ilusória do ego me coloca diante do risco de mudar as relações com a minha família e com o mundo ao meu redor? Uma virada de cento e oitenta graus como essa não seria desestabilizadora, perturbadora?
A essas perguntas pode-se responder: a experiência mostra que essa virada só fará bem a você. De fato, quando o ego predomina, a mente é como um pássaro que se fere ao chocar-se contra uma vidraça, a da crença nesse ego, confinando nosso universo a limites muito estreitos. Perplexa e atordoada pela barreira, a mente não sabe como atravessá-la. Essa barreira é invisível porque não tem existência verdadeira, não passa de um construto da mente. No entanto, funciona como um muro ao fragmentar o nosso mundo interior e interromper o fluxo do nosso altruísmo e da nossa alegria de viver. Se não tivéssemos fabricado o vidro do ego, esse muro não existiria e não teria nenhuma razão de ser. O apego ao ego está ligado aos sofrimentos que sentimos e aos que infligimos aos outros. Abandonar a fixação na nossa imagem pessoal e deixar de dar tanta importância ao ego significa ganhar uma enorme liberdade interior. Isso permite que abordemos todos os seres e todas as situações com naturalidade, benevolência, força de espírito e serenidade. Não esperando ganhar e sem o temor de perder, somos livres para dar e receber. Não há mais o menor motivo para pensar, falar ou agir de maneira afetada, egoísta ou inapropriada.
Agarrando-nos ao confinado universo do ego, temos a tendência a nos preocupar unicamente conosco. A menor contrariedade nos perturba e nos desencoraja. Somos obcecados pelos nossos sucessos, nossas derrotas, nossas esperanças e nossas inquietudes, sendo assim quase impossível alcançar a felicidade. O mundo estreito do ego é como um copo d’água em que jogamos uma pitada de sal: a água se torna impossível de beber. Se, por outro lado, rompemos as barreiras do ego e a mente se torna como um grande lago, a mesma pitada de sal não altera o seu sabor em absolutamente nada.
Quando o ego deixa de ser considerado como a coisa mais importante do mundo, é muito mais fácil sentirmos interesse por outras pessoas. Perceber os sofrimentos dos outros redobra a nossa coragem e determinação para trabalharmos para o bem deles.
Se o ego constituísse realmente a nossa essência profunda, seria fácil compreender a nossa inquietação diante da ideia de nos livrarmos dele. Mas se ele não é outra coisa senão ilusão, libertar-se do ego não é extirpar o coração do nosso ser, mas simplesmente abrir os olhos.
Assim, vale a pena dedicar alguns momentos da nossa existência para deixar a mente repousar na calma interior, isso permitirá que compreendamos melhor, por meio da análise e da experiência direta, o lugar que o ego ocupa na nossa vida. Enquanto o sentimento de que o ego é importante detiver as rédeas do nosso ser, jamais conheceremos uma paz duradoura. A própria fonte da dor permanecerá intacta no mais profundo de nós e nos privará da mais essencial das liberdades.
Capítulo 7 do livro ”Felicidade – A pratica do Bem Estar”. 


O barco vazio
A CONFUSÃO MENTAL: CRENÇA E APEGO AO EGO. 531950_573069696061196_170850381_n
3) Como diminuir o ego?
Monge Genshô – A Sangha é uma grande oportunidade, a comunidade onde trabalhamos. Nós devemos nos perguntar a cada momento: “Quem é que? Quem é que dentro de mim ficou com raiva? Quem é que dentro de mim se impacientou? Quem é que não aceita? Quem é que não tolera os outros”? A cada momento você pode perguntar – “Quem é que”? E quando você se der conta, meu ego, meu “eu”, ele enfraquecerá. Quem é que dentro de mim, sente ou pensa? Que carrega tal ou qual sentimento? Quem é esse? E você diga a você mesmo – É meu engano. Eu me engano. Eu estou dirigindo na rua e alguém buzina atrás de mim, impaciente. Você deveria pensar, é como a chuva, ou como o vento, nada é comigo. São simplesmente as emoções daquele ser, nada é comigo porque não tem ninguém aqui para se incomodar. Então, se você tiver essa postura, não haverá perturbação nenhuma. Se você não consegue isso, pelo menos não faça nada, não diga nenhuma palavra, não reaja, não comente com os outros e depois não comente com você mesmo, não pense nada, simplesmente aceite que lá também não tem um “eu”. 
Você está num barco em um lago e tem um grande nevoeiro. Outro barco vem e bate no seu, você se irrita porque o outro não está prestando suficiente atenção. Tem nevoeiro, tem que prestar mais atenção. Então você olha dentro do outro barco e não tem ninguém. É um barco vazio que o vento empurrou. Imediatamente sua raiva passa. Porque lá não tem um “eu”. Pense – “Não há eu em ninguém, também não há eu em mim, isso é só ilusão”. Esse é o primeiro passo. É uma boa estratégia. Quando conseguirem não se importar com ninguém, então poderemos passar para o segundo passo.
 
Não acreditem em mim, testem.
4) Qual a função da meditação?
Monge Genshô – Nós vivemos numa grande turbulência. Como um copo d’agua com areia que está sendo constantemente mexido e a areia deixa a água turva, porque não paramos em nenhum momento. As pessoas tomam banho todos os dias porque suam, e aí começam a cheirar mal. Então adquirimos o hábito de tomar banho todos os dias. Nos lugares onde as pessoas não podem tomar banho todos os dias, o cheiro torna-se rapidamente muito forte. 
Mas as pessoas deixam que suas mentes sejam sujas todos os dias. Secretam maus pensamentos, más atitudes, se perturbam, se preocupam com memórias, se preocupam com o futuro. Ninguém pára para limpar sua mente, muitas pessoas deitam na cama para dormir e começam a pensar – Amanhã, semana que vem, etc – e não conseguem dormir direito. O sono já tem a função de deletar muitos arquivos. Arquivos temporários que estão atravancando a mente. Mas ele não é suficiente, tanto que vemos muitas pessoas ansiosas ou com depressão. Se nós sentarmos em zazen, começamos a mudar nossa mente. E se começarmos a ter experiências de despertar cada vez maiores, nosso cérebro torna-se cada vez mais feliz. Há uma mudança verdadeira verificável por ressonância magnética. De vez em quando a gente vê uma noticia assim, “Os médicos examinaram tal Monge Budista que pratica meditação e ele é o homem mais feliz do mundo”. Então já tivemos o homem mais feliz do mundo da India, o homem mais feliz do mundo do Butão, o homem mais feliz do mundo da França, etc. isso é bobagem, basta você praticar meditação e você se torna uma pessoa mais feliz por natureza, porque você começa a descartar essas coisas, começa a aprender, ouvindo o Dharma, praticando o treinamento da mente, usando o zazen para estabilizar a mente e ganhar força psíquica. Isso é mero treinamento, não existe nada de milagroso, não existem milagres no Zen. Não existem poderes sobrenaturais que vêm de fora, não existem bençãos sobrenaturais que um monge pode dar. As imagens são só para nos lembrar. 
Manjushri, discípulo de Buda, está sentado tranquilamente sobre um leão, está colocado na sala de meditação porque vocês sentam nos “leões turbulentos” de suas mentes. É só isso, na realidade é apenas pedra sabão. Mas fazemos reverências. Fazemos reverências para quem? Não para pedras, mas para “idéias”. Para treinar a nós mesmos, porque corpo e mente estão ligados e porque corpo e mente estão ligados, adotamos posturas corretas. Dessa forma, nossa mente começa a se corrigir, a ser disciplinada. Usamos roupas também para isso. Tudo são métodos de treinamento. Podem ser outros métodos, não importa, não há nada de “o verdadeiro” ou “o certo” no Zen. Não se trata disso, trata-se só de método de treinamento. Que é um método bastante interessante, tem uma certa tradição, são 2.600 anos mais ou menos de prática, então ele já foi bastante aperfeiçoado, não tente aperfeiçoá-lo apressadamente. Depois que você praticar uns trinta anos, então pode começar dar alguns palpites. Ficou bem claro para que serve o zazen? Treinamento, limpeza, felicidade, despertar. Aqueles que despertaram estão livres. O dedo do Budismo aponta para a liberdade. O Budismo não é nenhuma prisão e não depende de nenhuma crença, só de experiência. A única coisa que você precisa é acreditar que vale a pena treinar, que você desconfia que dá certo. E pronto. Buda mesmo disse – “Não acreditem em mim, testem”. Eu como Monge Zen digo a mesma coisa para vocês – “Não acreditem em mim, testem”. 
Textos de Monge Gensho publicados em http://www.opicodamontanha.blogspot.com.br
 
B. Alan Wallace
Quem você é realmente?
Do ponto de vista psicológico moderno, destruir o inimigo da centralidade em si pode parecer uma fragmentação radical da individualidade. A noção de que alguns processos mentais (a generosidade, a abertura e a alegria) são aceitáveis, ao passo que outros (o principal sendo “o grande demônio”, a centralização em si) devem ser exterminados, parece uma antítese do ponto de vista psicológico moderno da aceitação de si mesmo e da integração. Entretanto, o tema psicológico moderno da aceitação de si mesmo global e a atitude guerreira budista tibetana da aniquilação completa do inimigo podem não ser tão diferentes quanto parecem a princípio. Por exemplo, quando você fica gripado, nunca pensa: “Esta gripe é parte de mim. Devo me abrir para ela!”. O vírus da gripe não é você, é um elemento estranho que invadiu seu corpo e está lhe fazendo mal. Similarmente, as aflições mentais, todas elas, não são constituintes inatos da sua mente. Habitual, sim; inato, não. Você pode se aceitar e reconhecer que existem invasores de mente, assim como existem vírus que invadem o corpo. Quando você ponderar sobre isto, considere: quem você é realmente? Além das suas aflições mentais, da sua história pessoal, das virtudes e dos talentos que adquiriu, do seu corpo e do seu comportamento — nenhum dos quais é você —, que “você” resta disto? Antes de abraçar sinceramente a ideia de se aceitar como você é, seria uma boa idéia descobrir quem este “você” é.
“Budismo com Atitude”, cap. 3v


Retirado de: http://www.budavirtual.com.br/a-confusao-mental-nosso-ego/
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