Letícia Torres
Idade : 24 Define-se budista? : Não Mensagens : 6
| Seg 29 Jun 2015 - 15:26 | |
| Gente, adoro ensinamentos budistas, mas às vezes só de pensar em budismo me vem uma raiva inexplicável, pq isso acontece comigo? |
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Mente Purificada
Idade : 33 Define-se budista? : Sim Mensagens : 87
| Ter 10 Jan 2017 - 20:52 | |
| Sua pergunta me fez lembrar de um ensinamento.
"No momento em que você sente raiva, você tem a tendência de acreditar que seu sentimento foi criado por outra pessoa. Você culpa esta pessoa por todo o seu sofrimento. Mas, ao fazer um exame profundo, você talvez perceba que a semente da raiva que existe em você é a principal causa do seu sofrimento. Muitas outras pessoas, quando confrontadas com a mesma situação, não ficariam com a raiva com que você fica. Elas ouvem as mesmas palavras, presenciam a mesma situação, mas são capazes de permanecer mais calmas, sem se deixarem afetar tanto pelas circunstâncias. Por que você se enraivece com tanta facilidade? Talvez isso aconteça porque a semente da raiva é muito forte, e como você não praticou os métodos destinados a cuidar bem da raiva, a semente dela pode ter sido regada no passado com excessiva freqüência. (Do livro “Aprendendo a lidar com a raiva” - Thich Nhat Than)" |
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William - Admin
Local : SP Define-se budista? : Sim Mensagens : 504
| Dom 15 Jan 2017 - 17:26 | |
| - Letícia Torres escreveu:
- Gente, adoro ensinamentos budistas, mas às vezes só de pensar em budismo me vem uma raiva inexplicável, pq isso acontece comigo?
Olá! Que pergunta antiga, creio que foi na época em que fiquei meio ausente De qualquer forma, sentir raiva ao se lembrar ou contemplar os ensinamentos do Buddha pode ser dar por vários motivos... Pode ser que você não queira ter que se confrontar com algumas coisas dentro de si mesma. Como o Budismo te faz olhar para dentro de si, onde há coisas que você não quer ver, então você sente raiva... Às vezes é uma raiva tão perturbada, que você não consegue discernir se é raiva por não querer ver, ou se é raiva porque você quer ver mas não consegue passar por esse sentimento de não querer ver... rsrs... Nossas mentes funcionam mais ou menos assim. Pode ser porque você passou toda sua vida, até agora, vivendo de forma distraída para não ter que encarar certas coisas, e como os ensinamentos do Buddha te fazem voltar a encarar esses "traumas", isso pode fazer surgir uma raiva pelos seus ensinamentos... Você pode ter raiva de colocar uma meta na prática e não conseguir atingi-la. Pode ser que você tenha experienciado momentos de paz e bênçãos muito fortes na prática, mas sente raiva de que essas experiências não tenham durado muito ou tenham acabado. Nesses casos, temos que investigar algo que o Buddha ensinou: que a meditação não é um fim em si mesmo, porque mesmo os prazeres meditativos, ou o prazer da virtude, ou os prazeres da caridade, não são duradouros. Não é para olharmos só para as dificuldades ou os sofrimentos e dizer "Isso é impermanente". É para aprendermos a olhar para as bênçãos, conquistas, felicidades e êxtase e sermos capazes de ver: "Isto também é impermanente". Podem ser muitas coisas... raiva por não conseguir praticar, não conseguir entender, ou não querer praticar (mas querer usufruir dos frutos da prática)... podem ser muitos motivos. Às vezes também pode ser algo muito sutil, às vezes até de vidas passadas. Para descobrir, você tem que acolher essa raiva, ouvi-la, estar com ela, reconhecê-la, querer conhecê-la. Esta última frase é que é realmente a pegadinha, porque raiva é sempre não-querer. Não-querer que falem assim comigo... Não-querer ser como sou... Não-querer que algo aconteça comigo... Não-querer perder algo... Não-querer esquecer... Não-querer que me olhem... Mas quando você quer a raiva, quando você a acolhe, isso é tão paradoxal que na prática nós não conseguimos entender como se faz. Aí a gente não-quer não entender... não-quer ter dúvida, não-quer ter dificuldades, não-quer não conseguir acolher a raiva... e assim a raiva se alimenta rsrs... Então este é um desafio: querer a raiva, acolhê-la, aceitá-la, estar com ela. E por mais difícil que isso seja, não tem problema, nós ainda aceitamos essa dificuldade. Essa é a chave para lidar com raiva. Aceitar, acolher. Porque é quando não-aceitamos, não-queremos, que alimentamos a raiva. |
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