Newsletter enviada em 14/01/2015:
### Newsletter - Fórum Sangha Online: Incentivo à prática e à comunicação entre a comunidade e a administração ###(Antes que você leia esse texto, gostaria apenas de observar que ele trata de alguns aspectos um pouco avançados da prática e, ao mesmo tempo, incrivelmente básicos. Se sentir que sua prática está muito longe de alcançar o nível mencionado em alguma parte desse texto, lembre-se que a prática é uma escada - é gradual -, e tire proveito do que puder desse texto a depender no seu nível de realização! ^-^)
Amor-bondade (Metta) e Contentamento (Pamujja) são duas qualidades muito importantes para a prática budista, desde o início até o final da prática; especialmente porque consistem nessa determinação de parar de buscar felicidade no mundo, nas pessoas ou no humor presente na mente, e em vez disso buscar o refúgio e a libertação na Intenção / Atitude / Pensamento Corretos - o segundo fator do Nobre Caminho Óctuplo.
É muito interessante como Ajahn Brahmavamso define essas duas qualidades. Para ele, podemos resumi-las conforme segue:
Amor-bondade: as portas do meu coração estão abertas, incondicionalmente.
Contentamento: isso é bom o suficiente.
Isso significa que qualquer experiência ou pessoa que se apresente para nós, as portas do nosso coração estarão abertas para acolher o que quer que venha, incondicionalmente, porque qualquer coisa que esteja no momento presente é boa o suficiente para alimentar as atitudes hábeis. Não importa o que quer que a vida nos traga, podemos ser gentis, podemos ser pacíficos, podemos ser bondosos, não é? Independente se, diante de nós, estiver uma pessoa fácil ou difícil, educada ou antipática, ou se estivermos numa situação fácil, difícil, incômoda, eufórica, desesperadora; ou mesmo se nossa mente estiver rodeada de humores calmos, agitados, alegres ou depressivos. Isso é um ensinamento muito profundo!
Significa que independente do que você experimentar, você deve se lembrar da Impermanência de tudo e continuar cultivando as atitudes hábeis, que são Renúncia e Contentamento (não buscar prazeres sensuais, mas o êxtase do Contentamento) e Amor-bondade (em vez de ter a aversão que não quer isso ou aquilo, ter esse sentimento que acolhe o que quer que venha para fazer um bom uso do que quer que seja).
Em um de seus textos, Ajahn Liem - monge tailandês que foi o sucessor de Ajahn Chah como abade de Wat Nong Pah Pong - conta como em sua trajetória até Nibbana, ele encarou diversos tipos de humores. Num momento sua mente estava em profundo êxtase e energia, alegre e desapegada de qualquer coisa no mundo; e de repente ela ficava totalmente obscura, deprimente, sem energia para a tarefa mais simples. Mas a sua atitude não mudou. Estivesse a mente em bem-aventurança ou em depressão, ele continuou fazendo suas tarefas de rotina, auxiliando na organização do monastério, meditando e agindo com amor-bondade e contentamento. Isto é: a mente dele podia estar alegre ou podia estar nublada, sem problemas, as portas do coração dele estavam abertas para a mente dele, independente de como ela estivesse, porque independente do humor que a rondasse, qualquer sentimento seria bom o suficiente para praticar o Dhamma (ensinamento) do Buddha, para cultivar as Atitudes benéficas.
Isso significa que se a mente estiver falante durante a meditação, trate-a com amor e contentamento. Se a mente estiver calma, trate-a com amor e contentamento. Se ela estiver luminosa, trate-a com amor e contentamento. Não importa que experiência nos apareça, a prática deve permanecer a mesma! Se há escuridão na mente - é impermanente. Se há alegria na mente - é impermanente. Se há êxtase na mente - é impermanente.
Dessa maneira, todo o sofrimento poderá cessar sem que nos envolvamos com ele. Toda bem-aventurança e êxtase poderá crescer sem que nos identifiquemos com isso, pensando "Quão sábio eu sou! Sou melhor do que os outros!". Independente do que vier à mente, continuamos desapegando, continuamos com as mãos abertas, acolhendo qualquer experiência que venha e deixando-a passar quando chegar a hora.
"Deixe vir, deixa estar, deixe cessar".
Dessa maneira, a mente se aprofundará no silêncio, e será nesse momento que ela poderá contemplar ainda mais profundamente a natureza vazia dos fenômenos condicionados e se separar definitivamente deles. Assim, como diz Ajahn Liem no mesmo texto, não haverá mais nenhuma ondulação, nenhuma oscilação. Nem escuridão, nem luz. Apenas Paz, apenas Paz.
Por isso Ajahn Brahm diz - independente do que acontecer, não devemos mudar de posição. Isto significa - não devemos mudar a prática, ela é simplesmente essa: trate qualquer experiência, pessoa ou fenômeno mental com as atitudes do Amor-bondade e Contentamento. Abra as portas do seu coração para qualquer coisa que vier, porque qualquer coisa que vier é boa o suficiente para simplesmente abrir as mãos, desapegar e deixar passar. Porque uma coisa é certeza - qualquer humor que surja na mente, isso também vai passar.
Então, que diante do surgimento de qualquer fenômeno, que possamos acolher esse fenômeno com amor, fazer um bom uso dele se possível, e reconhecê-lo como bom o suficiente para nossa prática. Independente do que vier, a atitude deve ser a mesma - independente se algo dentro de nós disser que gosta disso ou não, a atitude deve ser a mesma.
"Se você ainda segue seus gostos e desgostos, você nem sequer começou a praticar o Budismo!" - Ajahn Chah
Antes de terminar de ler esse texto, volte-se para dentro: como está sua mente? Há intenções benéficas aqui? Se não, programe sua mente - desenvolva hiri-otappa (vergonha e temor de cometer transgressões) e veja o sofrimento resultante de se distrair com passado e futuro. Reconheça o valor e a alegria de estar no agora. Ensine a mente e, em seguida, solte os Apegos e deixe-os sumir. Não desista de ensinar a si mesmo. Lembre-se que a última frase de Buddha antes de morrer foi "Dessa forma, bhikkhus, eu os encorajo: todas as coisas condicionadas estão sujeitas à dissolução. Esforcem-se pelo objetivo com diligência".
Paz a todos vocês, amigos do Dhamma/ Dharma. -^-
Sabbe satta sukhi hontu! Que todos os seres possam ser felizes!