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 As Cinco Faculdades Espirituais - por Ajahn Nyanadhammo

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Mensagem As Cinco Faculdades Espirituais - por Ajahn Nyanadhammo EmptyQui 16 Jan 2014 - 19:52

O texto abaixo foi traduzido de uma edição que registrou, em escrito, uma palestra do Dhamma de Ajahn Nyanadhammo oferecida em junho de 1998, no Monastério Budista Cittaviveka, localizado no condado histórico de Sussex, na Inglaterra.
Como não é um monge muito conhecido no Brasil, uma breve biografia: Ajahn Nyanadhammo nasceu no sul da Austrália em 1955. Tornou-se interessado pelo Budismo ao ler sobre a religião enquanto cursava Biologia. Com 23 anos, viajou para a Tailândia para se ordenar como um monge. Tornou-se um Bhikkhu totalmente ordenado em Wat Nong Pah Pong sob a tutela de Ajahn Chah, que se tornou seu mestre em 1979. Desde então, Ajahn Nyanadhammo passou vários anos praticando na tradição tudong, a tradição de perambular pelas florestas meditando e conhecendo vários mestres de meditação, até que, em 1994, ele foi convocado para auxiliar Ajahn Brahmavamso na divulgação do Dhamma na Austrália. Em 2002, com a saída de Ajahn Jayasaro de Wat Pah Nanachat (o monastério fundado por Ajahn Chah para treinar monges ocidentais), Ajahn Nyanadhammo retornou à Tailândia para se tornar o abade de tal monastério até 2007. Atualmente, ele é o abade de outro monastério na Tailândia.
A Palestra conferida por ele trata das Cinco Faculdades Espirituais (Fé, Esforço, Atenção Plena, Concentração e Sabedoria), que são qualidades que o Buddha exortou que deveriam ser desenvolvidas pelo praticante em seu caminho espiritual - um Sutta exemplar desse assunto é o Datthabba Sutta. Além de descrever cada fator, um a um, através de exemplos práticos, Ajahn Nyanadhammo também compartilha alguns dos seus momentos com Ajahn Chah.


As Cinco Faculdades Espirituais
por Ajahn Nyanadhammo - Junho de 1998
Esse texto foi retirado e traduzido do site Dhamma Talks.

Um tema do Dhamma que está muito marcado em meu coração é aquele referente aos cinco Indriya1 – as Cinco Faculdades Espirituais. Essas Cinco Faculdades Espirituais são qualidades da prática e da mente que devem ser trazidas ao caminho espiritual. Há Saddha, que é ; Viriya, Energia; Sati, Atenção Plena; Samadhi, que é Concentração Serena; e Pañña, Sabedoria – eles se transformam em poderes da mente através dos quais ela se torna dinâmica e capaz de dar um fim ao sofrimento.
1 Veja a descrição da palavra Indriya, em páli, no acessoaoinsight:  faculdades. Nos suttas este termo, em geral, se refere às seis bases internas (ayatana) ou os cinco fatores mentais que fazem parte do conjunto dos apoios para a iluminação (bodhi-pakkhiya-dhamma): convicção (saddha), energia (viriya), atenção plena (sati), concentração (samadhi), sabedoria (pañña).
Saddha é, frequentemente, traduzido como Fé, Confiança ou Convicção. O Buddha disse que a Fé provém de ter visto que a condição humana é insatisfatória. Ela é imperfeita, moldada com insatisfação, descontentamento, dor, angústia, medo e ansiedade. Tendo percebido isso, a mente – naturalmente – procura por um caminho que a leve para fora desse estado. Tal caminho questiona o significado da vida e como encontrar paz interior.
Então, essa Fé procura por um caminho que leve para fora do sofrimento. Para as pessoas que entestam com as palavras do Buddha, ouvir que há uma causa para a insatisfação, um fim para a insatisfação e um caminho de prática por tal libertação – isso traz Fé. É frequente que, devido ao fato de não termos compreendido Dukkha1 – ou porque nós pensamos que Dukkha não deveria ocorrer – nós não nos lançamos nessa procura por uma saída.
1 Palavra em páli que se refere ao desconforto, insatisfação e sofrimento dos seres.
Recentemente, uma senhora veio falar comigo explicando que uma amiga dela houvera dado à luz uma criança e que a mesma havia morrido. Essa senhora estava muito chateada porque ela seria a madrinha, então ela disse: “Isso não deveria acontecer, isso é injusto!”. Existe uma presunção de que a vida deveria ser justa. Mas através da experiência nós começamos a perceber e compreender que a vida não é sempre justa. Logo, Dukkha é como a injustiça da existência – não é uma “permanência justa”.
Assim, tendo visto Dukkha, nós procuramos uma saída. No caso dessa senhora, tendo experimentado sofrimento, ela veio ao monastério e decidiu que ela praticaria o Dhamma1 e compartilharia os méritos da sua prática com a criança falecida2. Ela começou a procurar uma maneira de lidar com o sofrimento.
1 Dhamma, com letra maiúscula, costuma se referir aos ensinamentos do Buddha ou a forma como as coisas de fato são. No caso, o primeiro sentido é o conveniente, visto que se diz "praticar o Dhamma". Às vezes, o sentido colocado é "praticar para enxergar o Dhamma". Dhamma, com a primeira letra minúscula (dhamma), significa fenômenos.
2 Compartilhamento de mérito - o Buddha ensinou que podemos alimentar um sentimento de compaixão por aqueles que morreram e compartilhar nossos méritos (nosso bom Karma) com tais seres, para ajuda-los em seu renascimento e em sua permanência no reino em que tenham renascido. Porém, há Suttas em que o Buddha define que somente o mérito compartilhado com alguém que tenha renascido no reino dos Fantasmas Famintos (Petas) é frutífero.
Quando o Buddha descreveu Fé, ele falou sobre ela em quatro aspectos: fé no Buddha, a pessoa que se tornou totalmente iluminada nesse mundo e que ensina o caminho para fora de Dukkha; fé no Dhamma, que consiste nos ensinamentos do Buddha; fé na Sangha, constituída pelos monges, monjas e leigos que perceberam a Verdade em suas próprias vidas; e fé no treinamento. Esse último significa ter fé que esta prática que nós estamos fazendo renderá resultados. Fé no treinamento também implica, intrinsecamente, fé em nossas próprias habilidades para perceber a Verdade: fé de que nós somos capazes da fazer isso.
A falta de convicção em nossa própria habilidade para realizar a prática é um obstáculo comum, então uma das responsabilidades de um professor é encorajar e erguer as pessoas. Essa era uma das coisas que Ajahn Chah costumava fazer. Eu me lembro de uma vez em que tive algumas dificuldades e eu fui até ele. Ele estava conversando, e quando ele se virou para mim ele disse: “Tan Nyanadhammo, você tem tido poucas contaminações!”; isso foi em um tempo quando parecia que a minha mente estava repleta de contaminações! Mas apenas essas poucas palavras me deram encorajamento.
Houve outra ocasião quando eu era recém-ordenado. A comida no monastério de Ajahn Chah era extremamente básica: arroz viscoso, folhas, curry – que eram todos colocados juntos em um pote – e algumas bananas; era isso. Como havia muito pouco, alguns dos monges se levantavam para servir a comida. Você se sentava com sua tigela na sua frente e eles colocavam a sua comida dentro dela – você não tinha opção, você só podia dizer o que não queria. Um dos monges ocidentais foi chamado para se levantar e distribuir a comida, mas ele se recusou porque se ele se levantasse ele não poderia ficar de olho em sua tigela e, desse modo, evitar que os monges tailandeses colocassem coisas nela que incomodassem seu estômago. Devido a isso eles pediram para que eu me levantasse em seu lugar.
Alguns dias depois nós partimos numa mesma esmola de alimentos juntos dentro do vilarejo e, assim que estávamos retornando para o refeitório, esse monge começou a reclamar dos monges que distribuíam a comida. Uma raiva autojustificada surgiu dentro de mim e eu disse a ele: “Em vez de reclamar dos outros monges, por que você não se levanta e nos ajuda?”; e assim eu me retirei, mau humorado.
Enquanto eu caminhava, eu ouvi a voz de Ajahn Chah dizendo “Bom dia” em Inglês (as únicas frases que ele sabia em Inglês eram “Bom dia” e “Uma xícara de chá”). Eu me virei para vê-lo parado apenas três pés distantes de mim com um grande sorriso radiante em seu rosto. Eu disse: “Oh! Bom dia, Luang Por1!”; e ele irradiou amor-bondade para mim, de tal maneira que a aversão completamente desapareceu e eu fiquei realmente feliz2.
1 "Luang" é um termo tailandês que significa "Venerável", e que costuma ser usado tanto em contexto familiar quanto religioso para demonstrar respeito e admiração por outra pessoa ou por um monge. "Por" é a palavra tailandesa para pai. Logo, "Luang Por" significa "Venerável Pai", e geralmente é usada para se dirigir a monges sêniores.
2 "Irradiar amor-bondade" - os praticantes que desenvolvem Samadhi profundo são capazes de influenciar as mentes das pessoas ao seu redor, e uma dessas influências é através da irradiação de amor-bondade. Há muitos depoimentos de monges que sentiram um bem-estar incrível quando se aproximaram de certos mestres - isso é irradiar amor-bondade.
Naquela noite eu decidi: “Como Ajahn Chah foi muito amigável comigo, eu irei oferecer a ele uma massagem em seus pés.”; essa era uma maneira de prestar algum serviço a ele e, geralmente, ele ensinava o Dhamma nessas ocasiões. Bom, ele estava sentado em uma cadeira de cana comigo sentado no chão, massageando seus pés, quando o sino tocou para o cântico da noite. Ele disse aos outros monges para irem para o cântico e eu fiquei com ele. Era uma bela noite fresca, com a Lua cheia surgindo, e com o som de uns setenta monges entoando os cânticos – era simplesmente maravilhoso. Ajahn Chah sentou em meditação enquanto eu estava massageando seu pé – e minha mente estava nas nuvens, flutuando de alegria.
Nesse momento Ajahn Chah me chutou no peito, me derrubando de costas! Eu olhei para cima em choque e Ajahn Chah apontou para mim, dizendo: “Percebe? De manhã alguém diz alguma coisa que você não gosta e você fica chateado. Então, outra pessoa apenas diz 'Bom dia' e você fica animado o dia inteiro. Não se permita ser escravizado por humores e emoções de gosto e desgosto devido a o que as outras pessoas dizem.”.
Então ele me ofereceu uma palestra do Dhamma e eu ergui minhas mãos em Añjali1 para ouvir o seu Dhamma. Eu me lembro disso até hoje e isso sempre me traz uma ideia da tamanha compaixão que ele tinha: ele viu que uma pessoa estava caminhando com sua cabeça fumegando, disse “Bom dia” e, então, esperou até que o momento surgisse. Longe dos setenta monges do monastério, e de todas as monjas, ele pensou “Hoje eu ensinarei esse indivíduo. Esse é realmente teimoso, eu terei de dar a ele um chute! Ele não se lembrará se eu não ensiná-lo com firmeza.”. O que ficou comigo foi uma sensação de fé de que o professor estava preocupado e era motivado por compaixão a libertar seus discípulos do sofrimento. E aquela confiança, aquela seriedade na mente, estimula a qualidade da Energia, Viriya, que é o próximo aspecto do caminho espiritual.
1 Añjali é um sinal de respeito e atenção representado pela atitude de colocar as mãos unidas, palma com palma, geralmente diante do peito.
O Buddha definiu Viriya como a aplicação de quatro coisas1. A primeira é: se um estado mental inábil surgir, primeiro o indivíduo reconhece isso e, então, se esforça para superá-lo. Por exemplo: se a raiva surgir, a pessoa reconhece “Eu estou furioso” e, então, se esforça para superar aquela raiva. O próximo aspecto é se um estado mental inábil não tiver surgido então o praticante se esforça para garantir que isso não surgirá – isso é preventivo. No exemplo da raiva, esse é ocaso de que nós precisamos desenvolver amor-bondade (que é o antídoto para a raiva) antes que ela surja. É muito difícil propagar amor-bondade quando nós já estamos nervosos, não é? Então o preventivo é muito importante. Você perceberá que se você desenvolver amor-bondade quando a mente estiver tranquila, isso permitirá que a mente desenvolva força para evitar que a raiva nasça.
1 Isto é, os Quatro Esforços Correto: evitar um estado prejudicial que não surgiu, expulsar um estado prejudicial que tenha surgido, gerar um estado benéfico que não tenha surgido, sustentar um estado benéfico que já tenha surgido.
Se a mente adquire força e desenvolve essa qualidade que previne que estados prejudiciais surjam, isso conduz para o próximo aspecto do Esforço Correto, que consiste em encorajar os estados benéficos que não surgiram a surgirem. A pessoa cultiva esforço para, propositalmente, um pensamento de amor-bondade nascer na mente. Se alguém não está cultivando um pensamento de compaixão, então essa pessoa, intencionalmente, faz nascer um pensamento de compaixão na mente. Se alguém não está alimentando um pensamento de renúncia ou desapego, tal indivíduo faz surgir isso na mente, propositalmente. Quando essas qualidades tiverem surgido, o aspecto final é sustenta-las: produza muitos pensamentos de amor-bondade, compaixão ou renúncia; regozije-se nelas, torne-as maiores, infinitas e sem limites. Assim essas qualidades ficam muito fortes. Esse é o esforço da mente – a seriedade de criar qualidades hábeis, de fazê-las crescer e reconhecer qualidades inábeis para abandoná-las e não permitir que elas surjam novamente.
A próxima faculdade é Atenção Plena Correta, e Atenção Plena tem dois aspectos: um deles é a habilidade de lembrar e o outro é a habilidade de saber o que alguém está fazendo. Alguém se lembra, como exemplo: “Eu estou observando a respiração.”, “Eu estou observando esta expiração.”, “Eu estou observando esta inspiração.”. Depois, isso tem a habilidade de se lembrar e recordar de qual é o propósito de observar a respiração e porque a pessoa está fazendo isso.
Frequentemente, as pessoas são orientadas a observarem a respiração na ponta do nariz, quando estão meditando, mas, atualmente, muitas pessoas acham isso uma distração. Se você olhar nos Suttas, o Buddha nunca disse para que nós observássemos a respiração em um local físico. Ele disse para saber quando você está inspirando e perceber quando você está expirando. O importante é perceber isso no instante – então, “Estou inspirando nesse momento, ou estou expirando nesse momento?”.
Atenção Plena também tem conhecimento de seu objetivo. Ela se recorda do motivo pelo qual estamos observando a respiração: nós estamos conscientes da respiração, em cada momento no tempo, com o propósito de acalmar a mente. Mas para alcançar a calma também é importante abordar a meditação com a atitude correta – o meditador deve estar contente em assistir a respiração, senão você não conseguirá observá-la e a mente irá para em algum outro lugar. Então, essa sensação de contentamento é importante porque ela harmoniza a mente.
Havia um leigo que costumava vir e ver Ajahn Chah com várias reclamações: suas terras não estavam produzindo muito, seu búfalo estava ficando velho, sua casa não era grande o suficiente e suas crianças não estavam satisfazendo-o – e ele dizia que ele estava ficando realmente doente em virtude do mundo, ficando, assim, desencantado.
Ajahn Chah disse: “Não, você não está. Você não está desencantado1. Se você conseguisse mais búfalos – mais novos e saudáveis –, uma casa maior e uma boa saúde, então você perceberia que o seu desencantamento com o mundo era muito temporário. Você apenas tem aversão ao mundo.”. Ele continuou – “Em que você precisa meditar é: ‘Isso é bom o suficiente.’. O que quer que seja que venha em sua mente: ‘Isso é bom o suficiente.’.”. Então, o homem praticou isso por um tempo e a próxima vez em que ele retornou para ver Ajahn Chah ele havia se tornado contente, apenas por meditar em “Isso é bom o suficiente”.
1 O sentido de "desencantado" utilizado provêm do páli "Nibbida", que significa "Desencantamento". De acordo com os ensinamentos do Buddha, através de meditação profunda vem o conhecimento das coisas como elas de fato são. Com o conhecimento das coisas como elas de fato são, vem o Desencantamento - porque se enxerga profundamente a Impermanência e Insatisfatoriedade dos fenômenos. Posterior a esse Desencantamento, vem o Desapego, que conduz a Libertação - Nirvana. Mas Ajahn Chah esclarece que Desencantamento e Aversão são coisas diferentes.
O Desejo surge porque nós temos descontentamento para com o que nós possuímos. Mas quando nós temos essa sensação de “Isso é bom o suficiente”, então a mente começa a se acalmar e a se estabelecer em um “local” tranquilo. E é desse “local” tranquilo, com bem-estar e contentamento que a mente pode entrar em o que chamamos de Samadhi.
Samadhi – o próximo das Faculdades Espirituais – é frequentemente traduzido como “Concentração”, mas eu prefiro o conceito de paz. Isso se refere a habilidade de desapegar do que está perturbando para ir a um local na mente que é menos perturbador. À medida que nós abandonamos as coisas e tranquilizamos a mente, ela se torna mais e mais pacífica e bem-aventurada. Depois ela pode largar mesmo a bem-aventurança e ir a um estado de equanimidade1.
1 Aqui Ajahn Nyanadhammo faz uma clara referência aos Quatro Jhanas, os estado de meditação de absorção profunda que são o ápice do Nobre Caminho Óctuplo. No 2º Jhana, há êxtase (piti), felicidade (sukha) e equanimidade (upekkha). No 3º, há o desapego do êxtase e, assim, a cessação do mesmo, restando apenas felicidade e equanimidade. No 4º Jhana, há o desapego mesmo da felicidade, da bem-aventurança, restando apenas a equanimidade.
A tranquilidade da meditação tem vários benefícios: ela confere energia para a mente uma vez que disponibiliza um local de descanso. Então, quando a mente sai desse estado nós podemos coloca-la para trabalhar. Isso é como com os nossos corpos: se nós ficamos excessivamente cansados, nós precisamos descansar, e então quando nós tivermos dormido o suficiente nós podemos nos levantar e ir trabalhar. Nós não dormimos demais sem trabalharmos, nem trabalhamos demais sem dormirmos. Deve haver um equilíbrio. Cada indivíduo terá seu próprio equilíbrio referente a quanto a mente precisa entrar em tranquilidade e quanto ela precisa trabalhar para investigar e refletir a fim de desenvolver Insight e Compreensão.
Existem vários passos para acalmar a mente. O primeiro é desenvolver a sensação de bem-estar e contentamento. Depois, o próximo é quando, daquele contentamento, surge uma sensação de alegria. Quando há alegria na mente, isso a conduz para o êxtase. Esse êxtase, então, conduz à tranquilidade do corpo, uma certa flutuabilidade do corpo, que conduz à felicidade – uma felicidade da mente uma vez que ela se refugia em um estado benéfico e salubre. Agora, quando isso surge, então a mente se torna concentrada. A pré-condição para a concentração é felicidade. Se alguém perguntar: “Bem, por que eu não estou calmo e concentrado?”, isso se deve porque a mente não está residindo com felicidade em um objeto hábil. Logo, quando você observa a respiração, observe-a e veja sua beleza. Alegremente, felizmente assista cada inspiração e reconheça-a como uma amiga que você não tem visto por muito tempo. Em cada inspiração, você está alegre em cumprimentar a respiração; e em cada expiração, você está alegre com a respiração. Alegre na inspiração, alegre na expiração. À medida que fazemos isso, a mente, gradualmente, se desapega de distrações, se desapega do corpo e abandona todos os pensamentos. Sente-se o corpo leve e a mente se tornar cada vez mais calma e concentrada.
O resultado de acalmar a mente é que tem-se acesso à Sabedoria1. Nós usamos a sabedoria do Buddha para desenvolver a nossa própria sabedoria. A sabedoria da iluminação do Buddha diz que todas as coisas condicionadas são impermanentes, que todas as coisas condicionadas são Dukkha e que todas as coisas são não-eu2. Nós recebemos isso, então nós colocamos isso para funcionar em nossa experiência, usando sua sabedoria para cultivar a nossa própria. E, dessa maneira, nós chegamos ao Entendimento Correto.
1 A última Faculdade Espiritual - pañña.
2 "Sabbe sankhara anicca, sabe sankhara dukkha, sabbe dhamma anatta" - sankhara está para "formações condicionadas", dhamma está para "fenômenos"; logo, as duas primeiras orações dizem: "Todas as formações condicionadas são impermanentes (anicca), todas as formações condicionadas são Dukkha", mas a última oração, contida no Cânone em Páli, diz que não só as formações condicionadas são não-eu, mas todos os fenômenos. Devido a isso, Ajahn Nyanadhammo fez uma diferenciação quando diz que todas as coisas condicionadas são impermanentes e insatisfatórias, mas que todas as coisas são não-eu - esse assunto é contraditório no Cânone.
Primeiramente, o Buddha definiu Entendimento Correto em um sentido convencional, isto é, como uma confiança na iluminação do Buddha, uma confiança no Dhamma e na Sangha; convicção na eficácia da generosidade e crença no paraíso e inferno1. Esses são fundamentos do Entendimento Correto. Mas o Entendimento Correto que conduz à liberação é o Entendimento Correto que é baseado nas Quatro Nobres Verdades2.
1 Uma melhor tradução para samma-ditthi, o primeiro aspecto do Nobre Caminho Óctuplo geralmente colocado como Entendimento Correto, seria "Ponto de Vista Correto"; isto é, um certo entendimento que considera a realidade de um ponto de vista correto e ético, mesmo sem ter visto por si mesmo. Logo, a crença num paraíso e inferno sob a Lei do Karma e Impermanência seria, de acordo com o Buddha, o ponto de vista mais inteligente, porque considera uma ética pós-morte (uma vez que não defende que a morte é o fim de tudo), mas também considera a lei da impermanência que permeia todos os fenômenos condicionados, descartando a possibilidade de uma estadia eterna no paraíso ou inferno após a morte. Para o Buddha, esse seria um Ponto de Vista Correto, porque conduziria a uma prática de virtude e a investigação da Impermanência até se chegar ao Entendimento realmente penetrante e experienciado por si mesmo.
2 No início há samma-ditthi, o Entendimento ou Ponto de Vista Correto acerca das Quatro Nobres Verdades. Através de um pouco de consideração, um praticante pode reconhecer a validade de tais verdades, de que o Apego, de fato, conduz ao Sofrimento, como exemplo. Mas, qual ele compreende e penetra isso por si mesmo através da experiência, então ele chega a um fator que vem depois do último aspecto do Nobre Caminho Óctuplo, samma-samadhi, que é a Sabedoria Correta, samma-nyana - esse, ao contrário de samma-ditthi, é um conhecimento profundo resultante da própria experiência, e não apenas de um "ponto de vista". Depois disso, vem samma-vimmuti, Libertação Correta, que seria Nibbana. Devido a esses dois fatores, muitas vezes é dito que a prática, na verdade, resume-se ao Nobre Caminho Décuplo.
Esse Entendimento Correto também é definido como o oposto das quatro corrupções ou distorções das percepções1. Essas distorções na percepção significam que nós não enxergamos como o mundo como ele de fato é. Devido à corrupção da mente, nós vemos o que é impermanente como permanente. Através da distorção da mente, nós vemos o que é Dukkha como Sukha – o que é insatisfatório como satisfatório. Através das distorções e corrupções da mente, nós vemos o que é não-eu como Eu. E nós vemos o que é não-belo como belo.
1 Isto é, "Vipallasas". Leia o Vipallasa Sutta.
Eu me lembro de uma vez em que perguntei a Ajahn Chah sobre como ele desenvolvera seu imenso amor-bondade. Sua resposta foi: “Você é como uma criança que vê um adulto correndo e, apesar de ainda não ter aprendido a caminhar, deseja correr também.” – essa foi a primeira parte da sua resposta, a segunda parte foi: “Quando você vê que todas as coisas condicionadas são impermanentes, então você, automaticamente, tem amor-bondade. Você não consegue não ter amor-bondade.”. Isso era amor-bondade nascido da sabedoria, porque a sabedoria de ver as coisas como elas realmente são significa que aversão não pode surgir mais. Ela é cortada desde suas raízes.
Assim, esse habilidade de compreender as coisas com o Entendimento Correto (isso é impermanente, isso é insatisfatório, isso é não-eu) é muito importante. Observe as condições surgindo na mente – isto é permanente ou impermanente? Como exemplo, a dor no joelho agora? Isso é permanente ou impermanente? E você percebe que isso muda, isso pulsa. Se isso está pulsando, então isso é impermanente. Você não descobrirá nenhuma sensação que não mude. E, se isso é impermanente, isso é insatisfatório. E qualquer coisa que mude e que não consiga satisfazer ou ser satisfatória não é digna de ser chamada de “Eu” ou “Meu”. Assim, aquele “processo de desapegar” pode ocorrer.
Ver o não-belo naquelas coisas que nós tomamos como bonitas – isso se refere a ver que o corpo não é bonito. Nós decoramos o corpo, e a razão pela qual fazemos isso é para cobrir seus aspectos não-belos. Se nós acreditamos “Esse corpo sou Eu, é meu, é bonito”, então, quando ele envelhece, adoece e começa a desmoronar nós sofremos. Esse corpo é feito de muitas partes, e nenhuma delas são, particularmente, bonitas em si mesmas. Então, se um cirurgião pega um corpo separado e coloca seus vários órgãos em torno de um banco, não existe beleza nisso. A beleza de um ser humanos vem através do Dhamma, através da virtude, através da paz da mente e através da sabedoria. São essas qualidades que fazem um ser humano bonito.
Portanto, esse monastério é um Salão Bonito! Se nós cultivarmos e desenvolvermos essas Cinco Faculdades Espirituais, então nós nos tornaremos mais e mais belos. Eu acho que eu disse o suficiente por esta noite, então eu pararei por aqui – eu agradeço pela bondade de vocês em me ouvirem.


Última edição por Administrador em Dom 2 Fev 2014 - 13:43, editado 1 vez(es)
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luciano tadeu

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luciano tadeu

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Mensagem As Cinco Faculdades Espirituais - por Ajahn Nyanadhammo EmptyTer 28 Jan 2014 - 9:37

muito obrigado !!!
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Mente Purificada

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Mensagem As Cinco Faculdades Espirituais - por Ajahn Nyanadhammo EmptyTer 13 maio 2014 - 9:59

ótimo texto!
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shaka2

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Mensagem As Cinco Faculdades Espirituais - por Ajahn Nyanadhammo EmptyQui 4 Ago 2016 - 21:53

Obrigado pelo texto.
Essas faculdades estão relacionadas com a superação dos cincos obstáculos.
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