As 3 Joias do Budismo: o Refúgio Tríplice
Buda, Dharma e Sangha são as 3 Joias do Budismo nas quais aquele que se tornou um budista busca refúgio e a cura para o seu sofrimento.
"Dirigidos apenas pelo medo, os homens se refugiam em muitos lugares: nos montes, nas florestas, nos bosques, nas árvores e nos santuários.
Esses, de fato, não são o refúgio seguro; não são o refúgio supremo. Não são o refúgio no qual você possa se libertar do sofrimento.
Aquele que se refugiou no Buda, no Dharma e na Sangha, penetra com sabedoria transcendental as 4 Nobres Verdades:
o sofrimento, a causa do sofrimento, a cessação do sofrimento e o Nobre Caminho Óctuplo que conduz à cessação do sofrimento.
Isso é, na realidade, o refúgio seguro, o refúgio supremo. Esse é o refúgio no qual você pode se libertar do sofrimento. [...]
Bendito é o nascimento dos Budas; bendita é a enunciação da doutrina sagrada (Dharma); bendita é a harmonia na Sangha, e bendita é a busca espiritual daquele que busca a Verdade em harmonia."
adaptado de Buddhavagga (Dhammapada) - mosteirobudista
Essas 3 palavras resumem a base estrutural do Budismo e, portanto, aqueles que buscam uma vida mais feliz, livre do sofrimento e imbuída de paz através dessa religião inevitavelmente buscam refúgio nessas 3 Joias, pois são elas que sustentam o caminho para o Nirvana ensinado pelo Buda.
O que significa buscar refúgio? Significa buscar a solução e a salvação para alguma coisa. Se você quer se livrar de um perigo, você pode se refugiar num esconderijo. Para se libertar do sofrimento, o refúgio supremo é o ensinamento de Buda.
Vale ressaltar, no entanto, que podem haver outras doutrinas que possam servir de refúgio supremo. Entretanto, uma doutrina só guiará de fato à Paz Suprema quando ela apontar as 4 Nobres Verdades e o Nobre Caminho Óctuplo - não que ela precise falar exatamente dessa forma, mas ela precisa apontar como o praticante pode compreender o sofrimento e como pode entender porque o desapego conduz à Paz. Se uma doutrina não possui essa base, ela não pode ser considerada um refúgio supremo - portanto, o Budismo não se proclama como o único meio de salvação, podem haver outras religiões, ou o que quer que seja, que reconheçam a realidade do Nirvana.
Portanto, busque refúgio no ensinamento que oriente à compreensão do sofrimento e a sua superação. Esse é único refúgio que vale a pena. Para saber se ele segue essa prescrição, primeiro experimente coloca-lo em prática: não há como você saber o sabor de um bolo de antemão sem experimentá-lo.
Mas, voltando às 3 Joias, vamos entender o significado de cada uma delas.
Buda, o Mestre e o ato de Despertar: Buda é a primeira joia e representa o mestre que clareou o caminho para o Nirvana que estava obscurecido, apesar de disponível. Buda é o mestre que, por compaixão, divulga aos outros seres como realizar a paz que ele realizou sozinho, sem mestre algum. Assim sendo, Buda é o mestre supremo - porque ele realizou a Paz Suprema sem ajuda, compreendeu o sofrimento por seu próprio esforço e ainda foi capaz de ensinar aos outros o que nunca lhe foi ensinado. Assim, o Buda é o mestre perfeitamente iluminado - o advérbio 'perfeitamente' frisa que ele alcançou o Nirvana sem a ajuda de um mestre.
Entretanto, essa joia também representa a capacidade de despertar. Buda vem do radical do verbo "Budh", do páli e do sânscrito, que significa despertar. Portanto, a primeira Joia representa não só o mestre, mas também a capacidade de compreensão que ele alcançou e que está disponível a todos os seres.
Dharma, o Ensinamento acerca dos Fenômenos: Dharma é uma palavra com muitos significados, mas pode ser resumida como doutrina, lei e/ou fenômeno. O Dharma é o ensinamento do Buda sobre os fenômenos, ou seja, o Dharma é o conjunto de conselhos que buscam apontar como é tudo o que existe, incluindo o universo, a mente e suas características: Impermanência, Insatisfatoriedade e Não-eu. Logo, o Dharma é o ensinamento que deve ser analisado, refletido, questionado, colocado em prática e investigado experimentalmente, não apenas do mero raciocínio porque, como dito, o Dharma trata de fenômenos - para compreendê-los, eles devem ser sentidos e observados de forma equânime e imparcial.
O Dharmachakra, imagem representativa de várias religiões como o Hinduísmo, também é usada para ilustrar o Budismo. Podendo ser traduzido como "Roda do Dharma", o Dharmachakra consiste numa circunferência com 8 raios. Dessa forma, ela indica o Caminho Óctuplo, o caminho ensinado no Dharma para compreender a realidade.
Sangha, a Comunidade de Discípulos: Sangha, cuja tradução pode ser comunidade ou assembleia, consiste na comunidade de pessoas que seguem o Buda e transmitem o Dharma às futuras gerações, mantendo-o vivo e disponível. A Sangha é o conjunto de todos aqueles que buscam seguir o caminho da virtude ensinado pelo Buda, ajudando uns aos outros no caminho para a Iluminação em um convívio harmonioso. Envolve tanto os monges como os leigos, os budistas que não seguiram a vida monástica.
Assim, esses são os 3 fatores que sustentam o Budismo e o mantêm vivo na atualidade. Assim como o ensinamento de Buda diz que as coisas no mundo são interligadas, essas Joias também são interdependentes - sem o Dharma, sem a realidade dos fenômenos vigente atualmente, não haveria possibilidade de se iluminar, de se livrar do sofrimento, não haveria Budh, despertar. Sem a Sangha também não haveria Buda, pois um Buda só é assim chamado quando ele alcança a iluminação sozinho e ensina aos outros - mas se não há ninguém para ensinar, não há Buda.
Ao mesmo tempo, não há o Dharma sem a Sangha: apesar dos fenômenos continuarem com suas características independente se alguém segue os ensinamentos com objetivo para o Nirvana ou não, é graças à Sangha que os conselhos continuam registrados para que muitos possam ser orientados.
Logo, uma Joia não existe sem a outra, ambas se fortalecem e constituem o intuito único de serem uma via para a Paz. Portanto, qualquer um, mesmo aquele que nunca ouviu falar do Budismo mas pratica de forma correta, de acordo com os ensinamentos de Desapego e Compaixão, praticam de acordo com essas 3 Joias. A diferença é que aqueles que conhecem o Budismo, buscam o refúgio nelas conscientemente.
E esse é o refúgio supremo: o refúgio no mestre perfeitamente iluminado, no qual a fé cresce no decorrer da prática; o refúgio no ensinamento bem proclamado, claro e visível no aqui e agora, que convida à reflexão acerca da realidade; e o refúgio na comunidade de seguidores dispostos a ajudarem uns aos outros harmoniosamente no caminho para o Nirvana.
No final das contas, a Joia Tríplice é una. Na linguagem podemos separar, o mestre aqui, os ensinamentos ali e os seguidores acolá, mas todos são interdependentes. Além disso, a capacidade de despertar, a realidade acerca dos fenômenos do universo e a habilidade para conviver em harmonia com os outros se encontram, todos, dentro de nós também. Portanto, buscar refúgio na Joia Tríplice é buscar refúgio não só em algo externo, mas também dentro de você.
Como costumava dizer Ajahn Chah, o Buda histórico morreu, mas a capacidade para ser Buda está dentro de nós. Além disso, não adianta lermos mil livros sobre o Dharma se não o praticarmos - o Dharma está, de fato, na mente. Quanto a Sangha, não importa quantas pessoas estejam em nossa volta, a menos que mudemos nosso interior e alimentemos compaixão por todos os seres é que poderemos conviver com todos eles e conosco de forma harmoniosa. Portanto, a Joia Tríplice se encontra no nosso exterior e interior, mas, no final das contas, ela guia para algo além, para o Incondicionado, a Paz Suprema, para Nirvana, a libertação do sofrimento.
"Se você teme a dor,
se você não gosta da dor,
busque refúgio no Abençoado,
no Dharma e na Sangha.
Tome os preceitos:
Que o conduzirão à sua libertação."
retirado de acessoaoinsight
Se você deseja se libertar do sofrimento, um conselho de alguém que se encontra no mesmo barco que você: a Joia Tríplice é um remédio permanente para esse mal que assola a todos os seres. Pegue sua receita e experimente-o por si mesmo! Busque refúgio no Supremo.