Olá Horuzen!
Seu caso é complicado... Não só do aspecto psicológico, mas também espiritual. De qualquer forma, vou fazer algumas colocações que acho que são importantes.
Primeiramente, o conceito que o Buddha ensinou de Nirvana/ Nibbana é um pouco diferente do que o que você parecia conhecer. No Budismo, Nirvana é algo Incondicionado, isto é, independente de condições e causas. O Buddha disse que tudo o que é condicionado surge de uma causa - isso é o Efeito. Porém, como a causa não pode estar sempre presente, ou sempre intacta, o Efeito nunca é permanente - logo, todas as coisas condicionadas são impermanentes. Nirvana não está sujeita a essa lei, ela é atemporal e, portanto, independente de condições. A nossa prática não é bem uma condição para conseguir Nirvana, é mais uma condição para se desapegar de tudo o que é condicionado - quando esse desapego é total, alcançamos o que o Buddha chamou de "sublime, cessação das formações, silenciar das formações, Nibbana". Então a nossa prática não é uma condição para Nibbana, mas é para nos desapegarmos do Condicionado. Quando ocorre esse desapego total, alcançamos o Incondicionado, onde não há mais grilhão que nos prenda a Lei de Causa e Efeito.
O Buddha disse que a Mente é intrinsecamente pura, mas que ela acabou sendo contaminada por corrupções. Isso só é possível porque a mente também é algo condicionado. Por isso Eihei Dogen dizia que a Iluminação consiste no desapego não só do corpo, mas também da mente. "Citta é anicca" - Citta é impermanente, onde Citta se refere a Mente, a consciência.
Então, não é possível "perder Nirvana" no conceito budista. Seguindo os ensinamentos do Buddha, o que você alcançou foi estágios profundos de meditação, mas quando você se apega a eles, você se desvia do caminho.
O Caminho Budista pode ser mais enxugado ainda do que o Nobre Caminho Óctuplo em: Virtude - Meditação - Sabedoria. Através de uma vida virtuosa, desapegada e bondosa purificamos nossa mente e ações. Com uma mente purificada, contente, simples e satisfeita, a meditação é mais poderosa. Após tais meditações, a mente fica com bastante energia e deve ser dirigida para enxergar os fenômenos como de fato são. Através disso, desenraizamos as contaminações, as arrancamos pela raiz.
Meditação é um processo de cessação gradual. Quanto maior a sua capacidade de Desapego, mais fundo a meditação vai. Se você sabe usar seus pensamentos sem apego, você consegue pensar neles apenas o necessário, apenas por compaixão, e depois larga-los e se dedicar a alegria da cessação. Quando a mente é treinada assim, ela salta para o silêncio com facilidade e vem o êxtase. Geralmente usamos um objeto para auxiliar nesse processo de cessação, e o mais comum é a respiração. A respiração também vai 'cessando', ela fica cada vez mais sutil para o sentido do tato, enquanto os outros quatro cessam mais rapidamente, porque nenhuma atenção está sendo dada a eles, eles são desapegados completamente. Mas isso é muito diferente de dormir, porque há uma presença alegre e energizada consciente da mente em si mesma que está unificando-a, em vez de permitir mergulhar em sonhos como acontece quando dormimos.
Quando a respiração sai do campo de percepção dos sentidos, os mestres dizem que chegamos aos Nimittas, que são traduzidos como "sinais" de meditação profunda que são a porta de entrada para Jhana, o aspecto do último fator do nobre caminho óctuplo, samma-samadhi. Os Nimittas podem ser táteis ou visuais, mas nenhuma relação têm com os 5 sentidos - mas apenas com o sexto, a mente. Mas nós temos a sensação de que são táteis ou visuais devido ao agregado da Percepção - quando chegamos nessas meditações profundas, a mente procura no campo da memória alguma coisa que identifique aquela experiência, e nossa memória associa aquilo com o sentido do Tato ou Visão, mas nesse campo os 5 sentidos estão sendo totalmente silenciados, sobrando somente a mente. Então, tais Nimittas são provenientes da mente, mas a sensação é que são táteis ou visuais.
Parece que você chegou nesse estágio. O mais comum é que se vejam Nimittas visuais, que costumam ser esferas luminosas, como uma pérola ou uma lua cheia - com a prática, os mestres dizem que se pode manipulá-los, e conseguir Nimittas de vários fenômenos. De qualquer maneira, o essencial é continuar a cultivar a alegria por mais desapego, estando plenamente presente e permitindo os Nimittas se estabilizarem e silenciarem. Quando o grau de desapego alcança certo ápice, a Mente mergulha nos Jhanas, que são os estados meditativos profundos que o Buddha disse que é o apogeu do Nobre Caminho Óctuplo. Em Jhanas, os mestres dizem, não há Volição. Praticamente não há como movimentar a mente, a faculdade de escolher é desligada, e a mente repousa em si mesma. Existem 8 Jhanas, que também são um processo de cessação gradual, mas no primeiro Jhana o corpo já "cessou", e o que se têm são 5 faculdades. No segundo Jhana duas são abandonadas, e assim vai a prática da meditação.
Porque essa prática é importante? Primeiro porque vemos por nós mesmos o que é a Origem Dependente. Quando se compreende isso totalmente, alguém alcança o primeiro estágio da Iluminação (Sotapanna). Quando se realiza isso, se alcança o quarto, Arahant - aquele que alcançou Nirvana.
E o que diz a Origem Dependente?
"Da ignorância como condição, as formações [surgem]. Das formações como condição, a consciência. Da consciência como condição, a mentalidade-materialidade (nome e forma). Da mentalidade-materialidade (nome e forma) como condição, as seis bases dos sentidos. Das seis bases dos sentidos como condição, o contato. Do contato como condição, a sensação. Da sensação como condição, o desejo. Do desejo como condição, o apego. Do apego como condição, o ser/existir. Do ser/existir como condição, o nascimento. Do nascimento como condição, então o envelhecimento e morte, tristeza, lamentação, dor, angústia e desespero surgem. Essa é a origem de toda essa massa de sofrimento."
Formações são Formações Volitivas, o Karma. Ou seja, por Ignorância de como as coisas de fato são, há a produção de Karma. Karma gera Consciência. Mentalidade-materialidade são objetos mentais e objetos materiais, de acordo com Ajahn Brahmavamso. Isso origina os seis sentidos, que dão origem ao Contato. Com o Contato, Sensação. E assim vai.
No primeiro Jhana você já entende muito da Origem Dependente. No Primeiro Jhana 5 sentidos cessarão, e nisso cessa o contato com o mundo sensual. Devido a isso, cessa o Desejo pelo mundo sensual.
Quando a mente sai de Jhana, essas contaminações como Apego, e outros obstáculos, como Ansiedade e Torpor (que são parte dos 5 Obstáculos que sustentam a Ignorância, do começo da Origem Dependente) não funcionam por um tempo. Elas ficam inativadas. Existem milhares de histórias sobre isso. Um exemplo é um monge que saiu de Jhana e deu de cara com uma cobra venenosa. Ele disse que não surgiu medo em sua mente, somente paz - e não poderia surgir, porque depois de Jhana a mente paralisa certas funções. Isso dá um grande Insight, porque se percebe que a mente é muito condicionada pelas formações. Além disso, se percebe como a cessação de algo faz cessar a outra coisa. Logo, nada é eterno, mas nada é aniquilado.
É como gelo - não é que você destrói gelo, mas quando há 0ºC, as partículas são sólidas, se passa disso, as partículas são líquidas e tem-se água. Então, em uma condição há gelo, em outra não há. Essa é uma comparação grotesca, mas mostra porque Aniquilação não faz sentido no Budismo. O ensinamento essencial é "Quando há isso, aquilo existe. Com a cessação disso, aquilo cessa".
Então, nós precisamos usar a mente reforçada pela meditação para investigarmos os fenômenos. A medida que sabedoria aumenta, Virtude melhora e a meditação também. Quando chegarmos nas meditações profundas dos Jhanas, será quando conseguimos desativar os obstáculos por um bom tempo - e aqui surgem os fortes Insights. Esses Insights revelam várias coisas que nos conduzem ao Desapego. O desapego total é Nirvana, o desprendimento de tudo o que é condicionado.
O problema é que parece que você não direcionou a meditação para a frutificação da sabedoria da maneira equilibrada e ideal, mas acabou se apegando ao prazer meditativo. Mas mesmo os Jhanas são condicionados - tanto que são prazeres impermanentes, não é? Você pode passar por um êxtase meditativo durante 1 semana, mas se sair disso e ainda houver contaminações em suas mente ou apego a algo - isso não é Nirvana. Nirvana é Incondicionado, o fim dos apegos. O prazer meditativo é impermanente, não importa o quanto dure.
Meditação é algo a ser usado para que Sabedoria possa nascer. Se se apega à meditação, então ela foi usada da maneira errada. Isso era o que os yogis faziam na época do Buddha - ficavam se apegando ao êxtase meditativo mas não o dirigiam devidamente para a investigação dos fenômenos e para inclinar a mente para o desapego das formações. Mas o Buddha sempre diz que, depois de um Jhana, uma coisa benéfica é refletir que as formações são como um câncer, uma flecha; e que o sublime é o silenciar das formações, Nibbana. Isso é inclinar a mente através da reflexão para o Desapego.
Então, o conceito budista de Nirvana é um pouco diferente, não sei se você entendeu
Quanto a pratica espiritual no mundo, ela é realmente difícil, mas o Buddha pediu para que usássemos as formações e convenções sociais com sabedoria. O Buddha, como exemplo, foi um grande administrador. Fundou uma enorme organização de monges, regras, e divulgação do Dhamma. Ajahn Chah foi outro grande exemplo. Graças a ele o Budismo Theravada chegou, em poucas décadas, na Europa, Austrália e E.U.A. - imagine, ele treinou vários monges e eles foram sozinhos para países ocidentais, majoritariamente cristãos, construíram edificações para os monastérios e apresentaram uma religião pouco conhecida para muitas pessoas.
O que eu quero dizer é que dá para viver no mundo e praticar a espiritualidade - aliás, isso é uma coisa muito importante. Aversão e Desapego do mundo são coisas diferentes. Muitos praticantes pegam aversão do mundo e querem evita-lo, mas os grandes mestres são aqueles que conseguem usá-los.
Ajahn Chah era visto algumas vezes como uma pessoa raivosa. Ele às vezes usava uma voz grossa com seus discípulos, mas era considerado um Iluminado. Mas como pode um Iluminado ficar com raiva? Na verdade ele não tinha raiva - ele aparentava raiva para despertar seus discípulos, mostrar que eles estavam falando sério, porque ele sabia que de acordo com o condicionamento deles, uma pessoa fala sério quando está gritando.
Uma pessoa pode alcançar a Iluminação e esperar a morte chegar - pra que se preocupar em comer ou ensinar o Dhamma, se ela vai morrer de qualquer jeito? Mas não, ela vai usar o mundo com sabedoria para ajudar outros seres antes de morrer.
Então, é preciso ser "espertinho" rs. É preciso usar o mundo sem criar contaminações na mente.
Eu lembro que quando as pessoas me ofendiam, eu retrucava, sem contaminação ou raiva alguma: "Aonde essa raiva está te levando?", mas isso nunca funcionava. Qual é! [rs] As pessoas estão nervosas e você vai lá e tenta dar ensinamentos? [rs] Isso simplesmente não vai funcionar. Então, geralmente eu faço duas coisas - ou eu rio, ou eu fico quieto. Por quê? Porque isso funciona com a maioria das pessoas devido aos condicionamentos delas. Uma vez tentaram me humilhar dizendo que ia acontecer algo ruim, eu ri e disse: "Puxa! É verdade! Como me virarei se isso acontecer?" e falei rindo. As pessoas não sabem o que dizer! Porque elas não esperam isso! Elas esperam que você retruque - "Como assim? Não vai acontecer! Eu não sou idiota! Sei me virar sozinho!", "Você vai ver a burrada que você vai fazer!", e assim as pessoas vão argumentando continuamente. Mas se você for esperto e usar a linguagem com sabedoria, pode deixar as pessoas confusas.
Mas depende do contexto, às vezes é melhor ficar em silêncio. Isso é bom quando alguém está estourado. Esfregam algo na sua casa, como exemplo. Eles esperam que você revide, e aí argumentam de novo. Mas se você fica em silêncio, pode ser que a pessoa ouça o eco do que ela disse para você e perceba o que fez. Isso é muito bom.
Perceba que eu mostrei 3 possibilidades - ensinar o caminho correto, rir ou ficar em silêncio. Nos três a sua mente pode ser mantida em paz, livre da raiva, mas o primeiro não é hábil, devido ao condicionamento dos outros. Isso é "usar o mundo".
Ajahn Brahmavamso é um monge que ficou famoso na Austrália, porque ele usa humor e um modo gentil de divulgar o Dhamma no Ocidente. Outro monge tão sábio quanto ele poderia ir divulgar o Dhamma onde ele foi, mas se ele não usasse humor, poderia não ter o mesmo sucesso. Por quê? Como se ambos tem sabedoria e praticaram os ensinamentos do Buddha? É porque Ajahn Brahm soube condicionar a si mesmo com esperteza para agir no mundo, e ele fez isso tudo pelos ensinamentos do Buddha.
Então, essa é outra coisa muito boa que podemos aprender com a prática - a usar o mundo. Não sinta que praticar no mundo é errado. O Buddha pediu que nos desapegássemos dessas coisas, como comida, corpo, mas não quer dizer que porque você desapegou de comida não vai comer, não é? Os Iluminados comem com a intenção de manter seus corpos e ensinar o Dhamma. Então, tente encontrar formas melhores de viver no mundo. Duas formas de falar podem ambas ter sabedoria, mas uma pode ser mais hábil que a outra dependendo do condicionamento das pessoas comuns.
"Eu acabei me culpando cada vez mais para que eu me sentisse menos culpado", cuidado com isso [rs]. "Eu estou com raiva, que maldição! Droga, eu odeio ficar com raiva!" - isso é raiva por estar com raiva rs. Tem outra coisa muito engraçada. Você está meditando e percebe que está brigando para um pensamento sair. Mas "brigar com pensamentos" é aversão, e isso não dá certo, então você fica aversivo a aversão - "Droga, eu não deveria ser aversivo aos pensamentos!" [rs].
O Buddha ensinou que precisamos usar dos poderes, o Poder da Reflexão e o Poder da Meditação para condicionarmos a mente de maneira benéfica, de tal forma que alcancemos meditações cada vez mais profundas para investigarmos os fenômenos e conhecermos o funcionamento da mente, a Origem Dependente, a Lei de Causa e Efeito e como essa coisa de condicionar a mente funciona.
A chave para isso é Desapego de tudo o que aumenta nossas contaminações, como cobiça, aversão. A melhor base para isso é, para mim, os 5 obstáculos: Desejo Sensual; Má Vontade; Ansiedade e Inquietação; Preguiça e Torpor; Dúvida.
Desejo Sensual é sempre buscar felicidade no mundo sensual, no mundo dos sensos, dos sentidos - Visão, Tato, Paladar, Olfato e Audição. O Buddha alertou que refletíssemos que esse mundo sensual é impermanente, que a morte é inevitável e que os prazeres proporcionados por essas coisas são pequenos e insatisfatórios. Apego pela comida, por exemplo - quanto tempo dura o prazer gerado por comer? Apego por música - isso gera até dependência emocional em algumas pessoas! Elas não conseguem se acalmar se não puderem ouvir música x. Então, precisamos perceber que devemos usar o mundo para transcende-lo. Eu gosto de dizer isso: "use o mundo, não seja usado por ele". Use o mundo para a prática espiritual, em vez de deixar o mundo controlar sua mente: "Estou triste, vou comer algo para isso passar...". Buscar felicidade nessas coisas é perigoso. O Buddha dizia que é como um cachorro faminto que recebe um osso lambuzado de sangue - há o cheiro maravilhoso de sangue para o cão, mas não há carne, é só osso. Então, aparentemente aquilo é prazeroso, mas nunca satisfaz o apetite do cachorro. O prazer sensual é a mesma coisa - nós tentamos nos completar através deles, mas eles só nos deixam cada vez mais vazios e sedentos.
Mas Desejo Sensual envolve muita coisa, eu o vejo como o obstáculo mais importante, porque envolve preocupação com o corpo (por isso o Buddha pedia para meditarmos sobre o interior do corpo) e com coisas do mundo, como nossa reputação (O que as pessoas pensam de mim? Obsessão por isso é a Timidez, não é? rs), nosso dinheiro, entre outros. Então, precisamos compreender que o Mundo dos 5 Sentidos é para ser utilizado pela prática do Dhamma, e que a nossa felicidade não deve depender dele, por ser muito incerto. O mundo dos 5 sentidos não está sob nosso controle, não é o meu Eu, não controlamos ele, então deixar que nossa felicidade dependa de ele estar de forma x causará sofrimento.
Quando surgir um apego ao mundo sensual, devemos usar os poderes de Reflexão ou Meditação para afrouxar a Cobiça ou Aversão e deixar aquele sentimento cessar - isso é o Desapego. Eu vou dar um exemplo simples que me surgiu na cabeça. Uma vez me deu uma vontade de comer bolacha, mas na verdade eu não precisava comer - já tinha comido o suficiente. Então eu pensei: "Não, isso é um apego desnecessário.". Isso foi insuficiente. O sentimento continuou forte, o apego latejando. Não aguentei e fui até a geladeira e peguei o pacote. Minha Atenção Plena me alertou: "Ei, está aí? Está plenamente atento? Quer ficar brincando no Samsara até quando?" [rs]. Aí eu fiquei parado ali e, do nada, me surgiu essa ideia brilhante: "Sabe qual o gosto dessa bolacha? O gosto da Impermanência.", eu gostei muito dessa resposta - qual o gosto de todos os alimentos que comemos? Gosto da Impermanência. Não importa o quão gostosa ou ruim seja uma comida, todas elas carregam o sabor da Impermanência. Eu nunca tinha pensado aquilo antes, e por ter sido uma ideia nova, minha mente se sentiu inspirada e aquele apego afrouxou, então foi fácil eu soltar e estabelecer a Atenção Plena. Sorri, pensei na Renúncia e alimentei Contentamento ali, enquanto o apego afrouxava até cessar e sumir.
Hoje eu tenho pouco problema com comida. Os apegos surgem bem menos, mas ainda surgem. Eu até emagreci por causa da prática budista rs! E esses apegos surgem menos na mente, porque você ensina ela continuamente através da reflexão e meditação. Você reflete e afrouxa o apego, então o "solta" e permite ele sumir sozinho. Isso requer Paciência e também um certo Contentamento por ter percebido e desapegado - Contentamento é MUITO importante.
Então, com Reflexão e Meditação você se recondiciona. Depois de uma meditação em que sua mente está descansada ou até extasiada, você pode contemplar a natureza do corpo, ou da comida. Pensar como o prazer é impermanente. Se você é uma pessoa raivosa, pode fazer meditação de amor-bondade. Se você tem problemas de Ansiedade, traga algum problema a mente e quando a sensação de Ansiedade surgir, pense: "Isso é uma distorção da mente. Esse problema é impermanente. Não preciso ficar ansioso por isso, pois isso só me traz sofrimento. Sempre quando essa sensação surgir, eu permitirei estar, permitirei cessar. Pode silenciar sozinha, minha cara sensação, eu permanecerei aqui, satisfeito e contente em estar plenamente presente e desapegado.", então, fique plenamente presente mas dando atenção para o prazer da renúncia ou de estar no agora, e a ansiedade some sozinha.
É também preciso ser criativo nessas reflexões. Às vezes a mesma reflexão repetidamente deixa a mente muito forte, outras vezes você precisa de reflexões novas, como a que eu fiz. E é sempre preciso equilibrar entre desvantagens do apego e vantagens do desapego. Se você ficar só pensando "Apego é sofrimento, Apego é sofrimento", a mente vai ficar cansada - "Puxa! Tudo isso é sofrimento! Onde eu posso encontrar alguma felicidade?". Mas se você pensar só em: "Desapego é a felicidade. Eu me sinto contente em desapegar." a mente pode ficar muito negligente. É preciso equilibrar.
Má Vontade é raiva. Ansiedade e Inquietação é preocupação com o futuro ou passado, basicamente. Preguiça e Torpor é desânimo - é preciso aprender a despertar energia e felicidade, mas também é ideal saber dormir o suficiente. Dúvida geralmente vem de falta de Paciência - quando Samadhi virá? O que é Nirvana? Por que esse apego não some logo? (Aqui é Dúvida misturado com Ansiedade rs) Qual esse problema surgir, sempre volte a mente para o Contentamento: "Estarei plenamente presente. Pode estar quanto tempo quiser.", e uma hora cessa sozinho.
Com o seu "culpa por se sentir culpado" é a mesma coisa. Use uma reflexão - "Com esse sentimento de culpa não poderei me recolocar na prática correta." ou "Não importa o que eu fiz, o que importa é o que eu tenho agora. Não lidarei com o momento presente com culpa ou remorso, caso contrário não poderei avançar na prática espiritual.", "Esse sentimento é pesado. Eu permito que você cesse sozinho. Estar aqui e agora é minha felicidade", e esteja contente por estar ali, mesmo com aquele sentimento ruim. Para lidar com Ansiedade e Inquietação é basicamente isso - Contente por ter percebido a contaminação e focar nesse Contentamento, deixando o resto lá tentando te incomodar [rs].
Sempre investigue seu sofrimento para ver de que obstáculo ele vem. Use as reflexões e seja criativo. Busque trazer a felicidade do desapego para si mesmo e para os outros através de atitudes, palavras e pensamentos com intenções benéficas. Use as convenções sociais com sabedoria. Não tenha nem Cobiça (querer) nem Aversão (não-querer) por o que é condicionado, investigue-os baseado nas leis da Impermanência e Não-eu. Cultive as qualidades como Contentamento, Paciência, Renúncia e Bondade. Não se apegue a suas conquistas. Meditação é algo a ser usado, não para se gabar. "Eu sou um meditador incrível. Eu alcancei o segundo Jhana, você só o primeiro." o Buddha alertou que isso traz sofrimento, que isso é apego a algo condicionado - o prazer meditativo. Devido a esse apego, você continuará renascendo. Esse é o Ensinamento.
Através do desapego constante embasado em Sabedoria, e não em força, podemos alcançar o Incondicionado. Logo, Nibbana não é algo a ser perdido. Na verdade, Nibbana vem de perceber que não há nada a se perder, nada a se ganhar, porque tudo o que existe são coisas surgindo, existindo e cessando. Como dizia Ajahn Chah - "Não há nada.", ele também enfatizava a qualidade de impermanência e incerteza das coisas e dizia "Apenas isso.". rs
Se não tiver entendido algo que eu disse, comente. Eu só queria que você entendesse corretamente Nirvana do jeito que Buddha ensinou e qual é a metodologia de prática budista para recondicionar a própria mente. Eu usei isso para minha timidez, pode ser usado com problemas de depressão, que tem síndrome de pânico, usou drogas, cada um tem o próprio caso. O Buddha deu reflexões básicas e, a partir delas, podemos ser criativos e usar várias frases e estímulos que inclinem a mente para a renúncia.
Quanto a centros budistas em São Paulo, posso te passar os endereços depois, mas não sei muito a respeito. Mas, visto que você teve experiências meditativas profundas, o ideal é que você tenha orientação de mestres que meditaram por bastante tempo mesmo.
Boa sorte em sua prática! Que você possa ensinar a sua mente a felicidade do desapego, do relaxamento, do permitir cessar, e do usar as formações e convenções sem ser condicionado por elas.