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Poderia ser mais específico? É que devem ser muitas dúvidas... é um tópico bem amplo!
Bom, o básico seria que o Buddha ensinou que nós renascemos de acordo com nosso Kamma/Karma, que pode ser bom ou ruim de acordo com as intenções e ações que cultivamos em cada momento. Um Kamma bom leva a bons renascimentos, a experiências felizes e a facilidades na vida... Kamma ruim leva a renascimentos em locais de sofrimento, com experiências dolorosas e dificuldades...
Ninguém tem só Kamma bom ou só Kamma ruim. Cada um tem uma "mistureba" de muitos Kammas... e cada Karma frutifica quando encontra condições para isso. Um certo Karma pode frutificar imediatamente ou muito em breve... outros Karmas podem dar resultado depois de muito tempo...
Então, é algo muito complexo, não simples.
Além disso, o Karma passado não define necessariamente o que você vai fazer no futuro. Certamente influencia, te dá um "leque de opções", mas não define como você será.
Ajahn Brahmavamso, um monge budista, costuma dar um exemplo que é como se Karma fossem os ingredientes que recebemos para fazer um bolo. Algumas pessoas podem ter ótimos ingredientes, de primeira qualidade, mas se não se esforçarem ou se não fizerem o bolo com amor, podem acabar fazendo um bolo ruim ou desagradável. Outros, com receitas de segunda mão ou menos qualitativas, com algum esforço podem fazer um belo bolo!
É por isso que algumas pessoas têm vidas "fáceis", são ricas, bonitas... embora possam não ser virtuosas ou boas pessoas... Enquanto outros podem ter vidas difíceis, condições complicadas para crescerem, e ainda assim podem fazer coisas muito bonitas na vida.
Karma não define destino de forma fatal, necessariamente. Depende do caso, do tipo de Karma. Karma pode definir uma coisa ou outra, algumas tendências ou algumas condições que você terá no futuro... Mas o que você vai fazer com isso, como vai lidar com isso, depende de você. É por isso que é nossa responsabilidade usarmos o Karma que temos da melhor maneira possível e, assim, gerar muito mais bom Karma, e deixando que os Karmas ruins vão se esgotando.
No Budismo, geralmente não se usa o termo Reencarnação, mas Renascimento. No Budismo não existe a ideia de uma Alma ou uma entidade fixa que transmigra de uma vida à outra. O que há é um tipo de "um processo mental" que vai de uma vida a outra. Não é uma entidade fixa.
É como os frutos de uma árvore. Uma manga cai de uma mangueira, e uma semente da manga dá origem a uma nova mangueira. A mangueira anterior e a nova tem algo em comum? Quero dizer... tem alguma coisa fixa, eterna, que foi de uma para a outra? Não. Há uma continuidade ali, um processo, mas não há um entidade eterna que vai de uma para a outra... Isso é Renascimento.
Você pode ver isso em você mesmo. Quem você é hoje, é o mesmo de ontem? Ou mais fundo... o menino de 5 anos atrás, é o mesmo rapaz que você é hoje? Não, porque estamos sempre mudando.
Algumas pessoas dizem que não é possível acreditar no Renascimento... De fato, até que possamos ver por nós mesmos, conforme o Buddha ensinou, o que podemos fazer é ter uma certa confiança de que outras vidas realmente existem. Confiança, ou mesmo Fé, nos ensinamentos budistas, tem um sentido de "talvez seja assim". O Buddha nunca elogiou fé cega... ou defender ardentemente algo que você não viu por si mesmo. O que ele alegava era que, mesmo que por mero raciocínio, seria mais benéfico que uma pessoa considerasse a possibilidade de que existem outras vidas... porque isso levaria a pessoa a viver uma vida mais virtuosa.
Na verdade, se você for pensar, qualquer coisas que pensarmos sobre o pós-morte será uma crença. Se você defende que após a morte, acabou, morreu, é o fim - isso também é uma crença. Não importa que posição adotemos, o que sempre haverá é uma crença.
Então, em vez de ficar acreditando cegamente em uma coisa ou outra, é mais saudável vermos qual possibilidade é mais saudável CONSIDERAR. E se você for pensar, é muito saudável considerar que após a morte há outras vidas. Por quê?
Porque aí você se preocupará em viver uma boa vida, em ser uma boa pessoa, para não sofrer depois da morte devido a suas más ações. Assim, se realmente existirem outras vidas, você terá bom karma consigo! Se essa história de renascimentos e karma não for verdade, você ainda não sofrerá, porque após a morte não haverá nada mesmo, você não passará por nenhuma frustração rsrs...
Então consideramos as possibilidades... Até que possamos ver por nós mesmos (em meditação, ou ao morrer mesmo), a melhor possibilidade a se considerar seria que há outras vidas...
Qualquer ser pode renascer em qualquer um dos 6 mundos. Qualquer ser pode ser um Deva, um grande Deus, um animal, um fantasma, um ser humano, ou o que quer que seja... Inclusive um dos grandes discípulos do Buddha, Mahamoggalana, diz-se nos Suttas que em uma das suas vidas passadas ele foi Mara, um demônio.
Samsara é o Ciclo de Renascimento e Morte onde esses reinos estão inseridos.
Há algo fora do Samsara? Essa pergunta é sacana rsrs... Quando o Buddha ensina que é possível nos libertamos do Samsara e, assim, sermos felizes, ele diz que assim alcançamos a Paz Suprema, que seria Nibbana.
E como Buddha definia Nibbana? Ele definia como o "apagar da chama de uma vela". Quando a chama se apaga, ela vai para norte, sul, leste ou oeste? Nesse caso, isso não se aplica, certo? Conforme o Buddha dizia, se a chama cessou, não como dizer que ela foi para cá ou para lá.
Fonte: http://www.acessoaoinsight.net/sutta/MN72.php
Com uma pessoa Iluminada que alcançou a Paz é a mesma coisa. A Paz é alcançada quando esse processo que vai de vida após vida cessa. Assim, não há mais renascimentos. Isso é a felicidade suprema, de acordo com o Buddha.
Esse ensinamento sempre gera controvérsias, mas não adianta ficar debatendo sobre isso... Alguns ficam inconformados, alegando que o Buddha ensinava a extinção e o "suicídio espiritual"... Mas o Buddha ensinou que não há um Alma aqui. O que há é um processo que se estende por várias vidas e que então chega ao fim.
Mas esse processo não é uma entidade fixa ou permanente.
O Buddha inclusive dizia que defender uma ideia de "Existência" ou de "Aniquilação" são formas incorretas de falar sobre o ensinamento dele... porque não há um Eu ou uma Alma que existe, ou que é aniquilada.
Como Ajahn Brahm costuma dizer, cada momento é como um ponto. Porém, você não pode dizer que ele exista porque ele não se estende no tempo... o ponto surge e cessa. Assim são os instantes: eles surgem e cessam. Eles não permanecem fixos ou eternos. Isso é o processo mental: uma sequência de instantes que surgem e cessam. Então, uma doutrina de "Existência" não se aplica.
Uma doutrina de "Aniquilação" também não se aplica, porque você não pode dizer que "não há nada" ali. Há um ponto, que surgiu e cessou, e outro ponto, e outro ponto, e outro ponto, continuamente.... Então, você não pode dizer que não existe nada, mas também não pode dizer que algo permanece ou persiste... O que há é um processo composto por instantes consecutivos. O Buddha ensina que enquanto este Processo continua funcionando, nós sofremos. Quando ele cessa, ocorre a realização da Paz Suprema.
Vale lembrar as palavras do Buddha
:
“Kaccayana, em geral este mundo depende de uma dualidade, a noção da existência e a noção da não existência. Mas para aquele que vê com correta sabedoria a origem do mundo, tal como na verdade ela ocorre, a noção da ‘não existência’ com relação ao mundo não lhe ocorrerá. Aquele que vê com correta sabedoria a cessação do mundo, tal como na verdade ela ocorre, a noção da ‘existência’ com relação ao mundo não lhe ocorrerá." fonte: http://www.acessoaoinsight.net/sutta/SNXII.15.php
Espero que tenha ajudado em alguma coisa... e não assuma posições radicais imediatamente ao ler os ensinamentos do Buddha assim, de primeira... Reflita, procure novos textos, tente contemplar o que o Buddha falou, e investigue isso no seu coração, na sua experiência. O Buddha pediu para tomarmos esses ensinamentos e confirma-los ou não na nossa própria experiência. Contudo, para o Buddha, somente uma mente virtuosa e meditativa estaria pronta para enxergar melhor a realidade como ela realmente é... Em outras palavras, para despertar sabedoria de verdade, seria necessário praticar um caminho de virtude e meditação. Se isso é válido ou não, também vale a pena contemplar e refletir.